A falta que me fazes

110 9 0
                                    







A viagem fez-se sem falarmos muito. Não sei se por estarmos uma com a outra e como estamos uma com a outra estamos bem sem precisar falar, ou se por ser melhor não falarmos porque timos tanto a dizer uma a outra que não ia correr bem se falássemos. Falamos da aldeia depois de sairmos de lá. Das vezes que cada uma foi lá, do que vimos de novo. Das pessoas que ficaram lá, dos nossos pais. Passei parte do tempo ao telefone a tratar de assuntos pelo tempo que não ia estar no escritório, enquanto conduzia ela. Falamos com o advogado dela para acertarmos tudo. Paramos para café. Chegamos a aldeia já estava de noite escura.

O meu pai tinha a garagem aberta, pus logo lá o carro. Menos uma coisa para nos preocuparmos. Quando subimos a cozinha a minha mãe ficou incrédula, já sabia que íamos, mas mesmo assim, estava em choque, por me ver a mim, mas mais por me ver com Natália.

Mãe: Como é que isto é possível? Vocês as duas juntas? O que se passa? Não estou a perceber nada.

Mil e uma perguntas aquela mulher, abraçava-nos, olhava-nos. Estava contente.

R: Depois contamos-te amanhã. Agora vamos comer e dormir que precisamos. Mas por favor não contem que estamos aqui a ninguém, nem aos meus irmãos.

Mãe: Credo rapariga, o que se passa?

R: Amanhã mãe.

Mãe: Enquanto comem vou fazer as camas. Em dois quartos, não? Já não sois crianças, nem siemessas não é?

Diz meio a sério, meio a brincar enquanto se ri e se levanta. Eu e Natália olhamos uma para a outra sem dizer nada.

N: Sim, se faz favor, e desculpe.

Diz entretanto Natália quando ela segue em direcção aos quartos.

Não tinha pensado nisso. Não podia dormir com ela claro que não. Veio-me ao pensamento que imos ter que falar da noite que tivemos e que eu não sabia o que lhe dizer. Que dizia? Que estava excitada por estar gravida e que ela não me saia da cabeça??

Naquele silêncio o meu pai pergunta:

Pai: Então como vos encontraste?

R: Foi sem querer, na cidade.

Pai: Pode ser que agora a minha Rita fique de novo alegre porque desde que foste embora ela nunca mais foi a mesma. Nunca mais foi uma menina feliz. Mudou como o dia para a noite.

R: Não mudei nada.

Pai: Mudaste sim, nunca mais te riste como te rias, nunca mais tiveste animo e gosto para as coisas. Eu por mim tinha ido atrás de ti Natália, até te encontrar e trazer-te só para ver a minha filha bem. Mas ninguém era da minha opinião, pelo contrário, a mãe dela dizia que era melhor assim, que vos eras apegadas demais.

N: Não sei se tinha sido o melhor.

Pai: Mas pronto, não interessa, já passou muito tempo, agora a vida é esta.

Sim, eu tinha a noção que nunca mais fui a mesma, faltava-me parte de mim, não podia dividir o meu sucesso com quem queria, não podia contar o que me acontecia a quem eu mais queria que soubesse, nunca fui totalmente feliz, sabia disso. Lembro-me de que nenhuma conquista minha passava sem pensar nela e no que ela diria disso, lembro-me de chorar na minha formatura não porque estava formada, mas porque ela não estava lá para me ver...

Fomos para a cama, com um único boa noite. Ainda fiquei a olhar para a porta com esperança que ela fosse ter ao meu quarto, mas claro que isso não ia acontecer. Adormeci e dormi toda a noite. De manha já na cozinha com minha mãe enquanto ela contava as aventuras dos meus sobrinhos que tinham estado lá a pouco tempo, entra a Natália:

Meu Amor (História Lésbica) -completa-Onde histórias criam vida. Descubra agora