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Mais um novo dia se iniciando e eu acordando com o estrondoso som do despertador. Argh.
Apesar de minha mãe ter problemas para resolver e não me dar muita atenção, ela tem razão numa das coisas que me disse certa vez: "Quanto mais você reclama, menos você recebe."
Desculpa! Eu tenho modo sim..! Tá.

Meu nome é Naara Grace, tenho 17 anos, estou no último ano do ensino médio. Não conheço meu pai, minha mãe é ausente, tenho os melhores amigos do mundo, não sou religiosa. Sou uma pessoa triste. Não sou uma pessoa realizada. Eu sei, eu sei, não cheguei nem na metade da vida mas, não me vejo realizada.
Minha vida é um fracasso. Escondo minha tristeza com um sorriso no rosto mesmo que meus olhos expressem o vazio enorme que há dentro de mim. Tento preenchê-lo com as boas notas, mas não dá. Não me considero uma pessoa completamente depressiva e, antes que pergunte, não me corto. Fala sério, vou ferir meu próprio corpo por causa do erro dos outros? Sim, erro dos outros. Vou explicar. Mas a história é longa.

Em uma certa noite, eu não estava conseguindo dormir direito. Estava sentada na sala, assistindo televisão. As horas se passaram e eu não vi. Já era meia-noite quando vi a porta ser aberta. Era minha mãe. Ela se assustou ao me ver acordada ainda e reclamou. "Por que não está dormindo, Grace?" - me chamou pelo sobrenome. "É.. eu.. Não consegui pegar no sono. Como foi seu trabalho hoje?" - pergunto, sem muito interesse, só pra desviar o assunto. Ela parece surpresa, já que nunca nos vemos. Quase nunca. "Ahn.. bem" - força um sorriso. "Sente aqui, mãe. Está com fome?"- pergunto e ela assente. "Está bem, descanse aí que já vou esquentar a  sua comida."- digo. Mesmo que ela não me dê muita atenção, é minha mãe. Sempre tento pensar no lado positivo, como: ela me levou 9 meses em seu ventre; ela trabalha demais. Quando volto da cozinha, trazendo seu prato, ela agradece e tento puxar assunto. Pergunto a ela - Júpiter Grace,minha mãe. Sim, este é o seu nome - sobre meu pai, já que nunca o conheci. Ela suspira como quem queria desabafar sobre algo. E começa a dizer. 
"Seu pai e eu nos conhecemos no período colegial. Ele era um homem bonito, charmoso e agradava a mim e a minha família. Até o dia em que nos casamos. Ele começou a ir a festas e a beber muito. Nisto, chegava em casa tarde e eu, sem entender, perguntava o porquê daquilo. Ele não queria saber e  me batia constantemente com agressões e garrafadas em minha cabeça. É uma pena" - ela olha para mim, chorando. Volta a falar. "Eu o amava. Quando éramos jovens, ele não ligava para festas. Queria me dar atenção, me agradar e.. ele nunca tinha bebido. Se chamava Max Campus. Não sei mais se está vivo ou morto." - finaliza. Eu, internamente, culpo-me por ter feito a pergunta.
"Desculpa, mãe." É tudo o que consigo dizer.
"Não se culpe, minha filha. Eu me culpo, por não te dar atenção. Meu coração dói só de pensar nisso. Você me compreende, né? Eu te amo tanto, Naara. Não quero te perder também. Tenho muito medo disso, sabe.." - ela enxuga suas lágrimas. Eu assinto e ela sorri. Minha mãe, tenho que confessar, é uma mulher muito forte. E muito bonita. Seus olhos são grandes, expressivos e, algumas vezes, intimidadores.
"Não vai ficar triste se eu te fizer mais uma pergunta não é?" - pergunto, tímida. Ela mexe a cabeça negativamente. "Ahn.. como foi embora dele? Como 'escapou'?"
Júpiter suspira novamente.
"Eu fugi. Consegui um lugar para ficar e comecei a trabalhar numa lanchonete. Como morava sozinha, procurava gastar o mínimo de luz e água possível. Com isso, juntei dinheiro, consegui comprar uma casa que é esta casa"- gesticula-" e foi quando consegui uma bolsa de estudos e comecei a fazer Advocacia. Você sabe da minha profissão né.. E, bem, algum tempo depois assumi minha gravidez. Não queria engravidar naquele momento mas, senti que seria um presente para mim. Engravidei de você quando estava no último semestre da faculdade." - dá uma pausa. Eu aproveito o momento e a abraço de lado. Ela me chama para dormir e eu confirmo. Está muito tarde.

Esta é a história. Tudo bem, pode não ser um completo fracasso a minha vida mas, estou aí. Nasci e vou viver a vida né. Não vou ficar me lamentando, mesmo que a vida não tenha colaborado muito para mim mas..
Repentinamente, Ester me cutuca. Ela senta na minha frente. É uma dos meus melhores e únicos amigos.

-Naara, onde você está? Amiga, acorda! - ouço risinhos baixos vindo de Ester.
-Oi.. - tento me "recompor". - O que foi? Estava dormindo?
-Até babando amiga. Não dorme não, é aula de física.
-Tá. - me levanto devagar olhando para o professor. Ele tem uns trinta e poucos anos e é bem inteligente e engraçado para explicar. O que me entusiasma um pouquinho só. Além disso ele é... Diferente. É, diferente. Não, não é nada disso, credo! Como pode pensar numa coisa dessas? Isso é repugnante! Digo diferente por causa do seu olhar. Ele tem uma alegria diferente. Um olhar, um brilho nos olhos diferente. Bem, não é de se admirar. Minhas amigas Priscila e Rute também têm essa.. Alegria. É, são cristãs. Mas não acredito nessas baboseiras, pra mim é tudo igual. Começo a prestar atenção na aula.

Rapidinho acabou.

"O Amor, amou." (3:16)♥ (Concluído) Primeira TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora