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19 de agosto, 2016

mia

ㅡ  Quem é o meu pai? ㅡ perguntei, quase em um sussuro.

O mais velho subiu sua cabeça com os olhos arregalados.

ㅡ Oque?

Sua voz saiu falhada. O barulho da campainha foi escutado e eu apenas me indireitei na cadeira.

ㅡ Você ouviu. ㅡ disse sentindo meus olhos queimarem enquanto ele ainda me olhava assustado.

Eu não poderia ter escolhido hora melhor, para não dizer o contrário. Estava de noite e teríamos um jantar com a família Hale. Meu pai e a estúpida ideia de trazer nossos antigos amigos para cá, não estava achando ruim, mas eu não estava afim.

Isabelle havia crescido desde a última vez que á vi, ela mantinha seus cabelos morenos e o sorriso contagiante mas agora ela estava magrinha e linda. Desde criança ela sofria bullying por ser gordinha, e eu não me importava de andar com a "menina bolão" da sala, ela era legal e um ser incrível. Lucas me surpreendeu, com seus cabelos morenos e o rostinho que me lembrava sua irmã, ele havia crescido e mudado.

Eles sorriam em perfeita sincronia e me abraçaram. Eu não os via desde o acidente da minha mãe. Antes, não tinha Blake, era eu, Lucas, Bella e Joe. É claro que como uma bela trouxa me apaixonei pelo Lucas, mas eu era uma criança, não entendia disso.

ㅡ Sentimos saudades. ㅡ Belle disse e eu assenti.

ㅡ Eu também. ㅡ disse um pouco tímida. ㅡ Então, vamos falar de como você pisou em todos aqueles que diziam que você era a menina mais feia do mundo, né? Você está linda, Bel, sempre foi.

Ela deu um enorme sorriso e me abraçou. Olhei de relance para Lucas que nos olhava com um brilho nos olhos.

ㅡ Vocês estão na Elementary Middle School, né? ㅡ perguntei.

ㅡ Sim, nunca vi você por lá. ㅡ Lucas disse e levei um susto, a voz dele estava grossa.

É. Fazia sentido eles não terem ido atrás de mim. Claro que eles sabiam que eu estava aqui, eu havia falado, mas a nossa amizade esfriou, não é a mesma coisa.

ㅡ Acho que é por que vocês são uma classe maior que a minha, devem ficar na ala de cima. ㅡ disse dando de ombros.

ㅡ Como você está? ㅡ ele perguntou e eu balancei a cabeça assentindo.

ㅡ Bem, eu a...

ㅡ Crianças! O jantar está servido.

Ouvi a voz de Maria e logo Belle e Lucas correram para abraçar a mulher, que abriu um sorriso. Belle fez uma cara de surpresa quando viu a barriguinha aparecendo.

ㅡ Tudo mudou, não é mesmo?

ㅡ Sim, Lucas, tudo mudou. ㅡ disse e ele sorriu me olhando.

Desejei que o Blake estivesse ali. Apesar do loiro ter ficado o dia todo comigo, eu o queria ali, por que por dentro de mim eu estava morrendo de saudades.

O jantar seguiu normal. Percebi o nervosismo do meu pai e admito que estava achando um pouco engraçado a situação.

Dei graças a deus quando eles foram embora. Eu só queria que meu pai converssasse comigo logo e tirasse toda aquela curiosidade que vivia em mim nesses últimos dias.

Senti suas mãos me puxaram até seu escritório e com força ele me jogou lá dentro, como se eu fosse algo velho que necessitasse ser jogado fora.

ㅡ Do que você tá falando, garota? Quem é o seu pai? Vamos parar com as brincadeiras, Milena.

Cerrei os olhos e fechei os punhos.

ㅡ Não estou brincando. Descobri que Blake é o seu filho e parece que você não é o meu pai. Então quem é?

Ele riu sarcástico.

ㅡ Algum idiota que a vagabunda da sua mãe transou. ㅡ ele disse e eu senti a raiva subir em mim. ㅡ Ela ficava com tantos caras, passava o rodo em vários...Me fazia de idiota...Algum fã que ela pegou depois do seu show. 

Eu não tive tanto tempo com minha mãe mas não é assim que funciona. Não pode chegar xingando a pessoa que me deu a vida. A mulher que se importou mais comigo do que ele.

ㅡ O único motivo de você ainda morar aqui é a Maria. ㅡ ele disse seco e ríspido.

Meu coração acelerou. Os pensamentos me atingiram em cheio. Era isso. Eu era um lixo, ele iria me descartar se não fosse a Maria. Minhas pernas ficaram bambas e meus olhos arderam, eu me segurei para não chorar.

ㅡ Você é um monstro. ㅡ soltei, com raiva.

Ele riu, divertindo-se com meu estado. Virou-se para a sua mesa e  aterrissou um porta retrato para perto de mim. Desviei com medo.

Antes que ele percebesse sai dali, não queria mais escutar nada. Corri para o meu quarto e tranquei a porta atrás de mim, logo escorando na mesma, deslizando até o chão.

Eu estava começando a ter uma crise, então comecei a pensar da minha distração. Alcancei meio cambaleada o meu celular e peguei os fones, colocando-os em meu ouvido. Entrei na minha playlist e coloquei uma das músicas que me acalmavam.

É então, na melodia de The A Team, chorei.

Chorei como uma criança.

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