Sentença

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"Saiba que são suas decisões, e não suas condições, que determinam seu destino." - ROBBINS, Anthony.

22, abril de 2016.

Eu não sabia que dia era, não sabia as horas e não sabia o que acontecia fora do meu quarto. Havia feito poucas coisas desde a fatídica segunda-feira. Tinha tomado alguns banhos, trocado de roupa algumas vezes e feito algumas refeições. Só isso. Não trocara mais de cinco palavras com meus pais porém não foi por falta de vontade, afinal, eu precisava desabafar. Eu simplesmente não conseguia, eu estava travada. Além disso, estava seca. Não existiam mais lágrimas em mim e eu ficava até feliz por isso. Estava cansada de chorar.

Alguém bateu levemente na porta e mamãe espiou para dentro.

- Tudo bem, flor? Você dormiu bem? Que bom que acordou cedo - Ela sorriu como fazia todas as manhãs.

- Que horas são? - Perguntei em um sussurro.

- Não se preocupe com isso, meu bem. Só queria avisá-la que você tem visita, mas caso não queira receber é direito seu! - Comentou cautelosa.

Sentei-me e afastei as cobertas, há muito eu não cabia naquela pequena cama. Levantei-me e coloquei um vestido que estava esticado na poltrona rasgada.

Eu a vi assim que cheguei à cozinha. De pé, postura ereta, salto alto e nariz empinado. Diferente do marido, a imagem dela não me trazia lembranças ruins. Paola Agnelli. A mesma mulher que levantou meu queixo quando cheguei chorando devido ao bullying que sofria. A mesma que me incentivou a parar de chorar e encarar de frente os problemas da vida. Não a via há muitos anos e mesmo assim, ela parecia a mesma.

- Posso ajudá-la? - Perguntei, chamando sua atenção.

Paola virou-se para mim e deu um sorriso contido.

- Como você ficou bonita, Antonietta. É um prazer recebê-la na minha família! - Suas palavras pareciam verdadeiras, mas nem por isso deixei de me sentir desconfortável.

- Obrigada, eu acho.

- Suponho que você esteja pronta. Podemos ir? - Perguntou alisando sua saia.

- Pronta para o quê? O casamento é hoje? - Perguntei em pânico.

Paola riu como se eu fosse alguma criança e tivesse feito uma pergunta muito idiota.

- Oras, não seja boba. Eu não estaria calma desse jeito se a cerimônia fosse hoje, além do mais, eu só consegui providenciar metade dos preparativos desde que fui avisada de que haveria casamento. E é isso que faremos. Você precisa aprovar o buffet, a decoração, a banda, o bolo e a melhor parte, precisa escolher seu vestido.

Pensar em vestidos e bolos de casamento embrulhou meu estômago. Eu estava tão deprimida, ainda não conseguia acreditar em tudo que estava acontecendo. Talvez a ficha só caísse na hora do sim.

- O que a senhora quiser, para mim está bom. Não faço questão de participar dos preparativos - E nem do casamento, pensei.

Paola olhou para os lados, sentou-se na pequena poltrona e cruzou os braços, como uma adolescente birrenta.

- Troque de roupa. Estou esperando!

Fechei os olhos e cogitei o que seria melhor. Se eu fosse, passaria o dia inteiro planejando minha própria execução. Se não fosse, Paola poderia se irritar e eu não sabia o quão parecida com seu marido ela era.

Respirei fundo e voltei ao meu quarto, mamãe estava sentada na ponta da cama e observava uma foto da minha infância. Meu coração vibrou com a cena, eu amava tanto aquela mulher e sentia tanto a sua falta.

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