Conflito

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"Sentir raiva é vingar-se das falhas dos outros em si próprio" – POPER, Alexander.


27-28, maio de 2016.

- Não, Toti! Você é a Amanda e eu sou Charlote, sua mãe. Agora você precisa fazer o dever de casa enquanto eu ajudo. Tudo bem?

Allegra e eu estávamos brincando de boneca no chão do seu enorme quarto verde. Minha boneca tinha cabelos ruivos iguais aos meus e uma boca imensa igual a minha, o que era muito estranho porque há quatro dias, ela não estava naquele quarto. Descobri que Allegra implorou para que Matteo comprasse uma boneca que se parecesse comigo. Foi divertido imaginá-lo procurando.

- Amanda você não tem idade para namorar Matteo. Está de castigo! – Ela gritou enquanto balançava Charlote.

E em todas as nossas brincadeiras, ela dava um jeito de trazer à tona minha relação com seu pai. Todas! Fui amante, namorada, noiva, esposa, viúva e o par era sempre Matteo.

Além do apelido que ganhei: Toti. Em sua cabeça era a melhor abreviação para Antonietta. Não existiam palavras que descrevessem o quanto aquele gesto significou para mim. Saber que Allegra se esforçou para encontrar uma forma de ficarmos mais próximas, me deixava emocionada.

- Boa noite para as princesas mais lindas desse mundinho – Rosa entrou alegre no quarto com uma bandeja cheia.

- Ah, meu Deus! – Allegra gritou extasiada. – Não posso acreditar que ela fez.

- Sim! Ela fez – Rosa concordou.

- Quem fez o quê? – Perguntei, temerosa.

- Liz fez bolo de laranja, o preferido de Allegra. Ela fica completamente enlouquecida.

- Eu fico! Fico muito louquinha. Por isso preciso comê-lo sozinha. Todinho, senão posso até morrer – Allegra comentou transbordando drama em sua voz.

Minha risada foi alta e durante alguns minutos tudo foi muito agradável, até que ouvimos barulhos altos no andar de baixo, como se uma multidão tivesse invadido a mansão.

- Fiquem aqui! – Eu disse à Allegra e Rosa.

- Esper...

Desci correndo as escadas e fui surpreendida ao dar de cara com Matteo acompanhado de cinco homens, todos de terno e todos olhando fixamente para mim.

- Boa noite – Cumprimentei com as bochechas no mais forte tom de vermelho.

- Que isso, hein? Mas que coisinha gostosa você é!

Olhei com nojo para o loiro e depois tornei a olhar para Matteo que permaneceu em silêncio diante daquele absurdo.

- Quem é essa, Matteo? – Um moreno alto perguntou, seu rosto era sério e me deu calafrios.

- É apenas a nova empregada – Ele respondeu.

Meu queixo caiu e eu mesma quase caí para trás. Não por ter sido chamada de empregada, se eu fosse não seria nenhuma vergonha, mas não era o caso. Então eu tinha sim, motivos para ficar irritada.

- Então busque umas bebidinhas enquanto jogamos pôquer, gracinha. Estaremos esperando perto da piscina – Tornou a dizer o loiro babaca, como se fosse o dono da casa.

Matteo me ignorava com maestria e isso só me deixava mais furiosa. Mas eu não ia me exaltar na frente daqueles desconhecidos. Respirei fundo e sorri, mesmo que estive dando pulos por dentro.

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