Descobertas

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"...Não sei quanto tempo este sonho vai durar, mas resolvo viver cada momento como se fosse o último" – COELHO, Paulo.


17, julho de 2016.

Abri os olhos e pela primeira vez em muito tempo, quis estar acordada. Matteo estava adormecido ao meu lado com seus cabelos loiros espalhados pelo travesseiro e seus lábios levemente abertos. Estendi a mão e passei o dedo pelo contorno de sua boca. Era surreal que aquilo estivesse acontecendo.

Havíamos passado a noite anterior numa bolha de intimidade que eu jamais sonhei que teria. Após nossa conversa, passamos o resto da madrugada deitados um de frente para o outro, ora fazendo carinho no rosto, ora brincando com os cabelos, ora apenas olhando no fundo dos olhos. Sem falar nada. Não precisava. Acho que fui a primeira a pegar no sono, a última coisa que lembro é da mão dele em minha nuca, uma sensação tão boa.

Olhando seu rosto, estar apaixonada parecia algo óbvio. Quem não estaria? Ele era lindo. Então, comecei a me questionar por quais motivos, eu, uma mulher adulta que nunca, nunca mesmo, se envolveu emocionalmente com homem algum, estava de quatro por Matteo. Eu já havia vistos homens absolutamente magníficos e mesmo assim, nunca cogitara trocar mais que três palavras com nenhum.

Mas aquele homem tinha me conquistado. E aí estava um fato absurdamente contraditório pois em 90% de nossas conversas ele havia sido um perfeito ignorante, fazendo o mínimo esforço para que nossa convivência fosse suportável. Por quê, afinal, esse sentimento surgiu?

Graças à noite anterior, eu tinha respostas.

Eu o amava porque ele era forte e corajoso. Eu o amava porque ele era protetor, de um jeito estranho, mas era. Eu o amava porque ele passou a vida inteira sendo uma bomba sentimental e mesmo tendo inúmeros motivos para explodir, se manteve firme sustentando as consequências dos atos de outras pessoas. Eu o amava porque, no pior dia de nossas vidas, o casamento, ele escolheu dançar comigo e me dar um momento de paz, apesar de estar encarando, naquele momento, um milhão de lembranças perturbadoras. Eu o amava porque ele tinha 99 defeitos e 1 qualidade, mas essa qualidade, por mais difícil que fosse, superava qualquer coisa. Eu amava Matteo porque ele era exatamente do jeito que era.

Ele abriu os olhos e sorriu.

- Espero poder acordar assim por todos os dias da minha vida - Fechou os olhos novamente e aproximou nossos rostos. Colei meus lábios nos seus e sorri de volta.

- Se depender de mim, nunca mais saio do seu lado.

Matteo suspirou alto e levantou da cama em um salto.

- Então se apronte. Vamos aproveitar Menorca! Como um casal. Do jeito que deveria ter sido desde o começo.




 De mãos dadas percorremos o caminho do hotel até o ponto de embarque para a lancha que Matteo alugou depois de algumas ligações.

- Aposto que nesse momento, Paolla está muito chateada por não estarmos seguindo o roteiro que ela planejou - Comentei, rindo.

Matteo, que estava com a mão estendida para me ajudar a subir na embarcação, sorriu e deu uma piscadela.

- Aposto que ela entenderia que é necessário.

Eu nunca havia visto uma lancha de perto e aquela era impressionante. Pelo que disseram, por ser de última hora, aquele era um dos menores e mais simples modelos... Mas para mim era imenso.

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