Desavenças

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"O diabo, para atingir seus objetivos, cita até as escrituras." – SHAKESPEARE, William.


03, junho de 2016.

Não, Matteo, desce mais!

Isso. Bem aí. Meu deus! MEU.DEUS.

Me aperta. Ah, você é um safado! Estou completamente apaixon...

- Antonietta?

Sim! Sua, só sua. Sua Maria. Sua Antonietta. Sua esposa. Sua amante. Sua mulher.

- Antonietta?

Matteo.

Matteo?

Abri os olhos, assustada e sem reconhecer onde estava. Matteo estava sentado ao meu lado, com as mãos nos meus ombros. Parecia estar me sacudindo. Esfreguei o rosto, tentando lidar com aquela cena.

- O que é? O que foi? – Perguntei, desnorteada.

- Com o que estava sonhando?

- Como é? Foi para isso que você me acordou? – Gritei e o empurrei com raiva.

- Ei! – Reclamou, rindo. – Acalme-se, você parecia animada.

Ele estava rindo. Rindo de mim! De mim e do meu maldito sonho erótico. Eu estava borbulhando de raiva.

- Sim, estava animada pois no meu sonho você era devorado por milhares de piranhas assassinas – Levantei da cama e me dirigi ao banheiro.

Estávamos casados há exatos dezessete dias e nossa relação havia evoluído de ódio mortal para pequenas provocações diárias. Matteo parecia estar mais relaxado. Como se eu não fosse mais a pedra do seu sapato, estava mais para uma irmã mais nova que ele gostava muito de irritar.

Às vezes, ele tinha seus ataques. Assumia uma carranca imensa e se tornava incapaz de falar uma palavra gentil. Porém, tinha adotado o hábito de tomar café comigo e com Allegra, todas as manhãs. E isso era estranho, pois eu nunca sabia se ele estava em casa ou não.

O trabalho dele era outro mistério. Eis tudo que eu sabia: Filippo era o chefe de tudo e Matteo era o próximo. E era isso. Só isso. Eu não fazia ideia se eles eram do tipo que matavam gangues vizinhas, se traficavam drogas ou até pessoas, eu não sabia nada.

Em certos momentos, eu jogava algumas indiretas para ver se ele deixava alguma coisa escapar, como naquele instante.

- Você não tem coisas de mafioso para fazer? – Perguntei ao sair do banheiro, com o rosto lavado e o cabelo preso em um coque.

Ele estava atirado na cama, olhando para o teto.

- Não, hoje não. Aliás, onde você foi ontem à noite?

Hum. Ontem foi quinta-feira e as quintas eram noites de museu. Eu estava no museu, inclusive foi um dos melhores passeios de toda minha vida.

- Ah, eu fui em um bar no centro da cidade – Respondi sem tentar dar muita importância.

Todas as vezes que Matteo saia de casa, eu saía também. Ele ia para bares e boates; eu costumava alternar entre teatros e museus. Mas para todos os efeitos, eu virava as noites entornando copos de vodka.

- E você ficou com alguém?

- Ao contrário de você, Matteo, eu respeito meu casamento – Sorri.

Fui até o closet e suspirei ao abri-lo. Tantas opções e eu era tão cafona. No fundo, enxerguei uma peça um tanto diferente. Eu mal podia acreditar. Era um suéter! Finalmente algo que não fosse curto ou sem mangas ou... Ah, não! Tinha um decote. Só podia ser brincadeira.

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