Consequência

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"Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências." - NERUDA, Pablo.


22, maio de 2016.

- Desculpe, o que disse? – Perguntei, com a testa franzida.

A mulher entortou os lábios e deu um passo para trás, como se tivesse cometido o mais estúpido dos erros.

- Oh, meu deus! Eu sinto muito. Por favor, não pense que sou uma tola.

Levantei em um impulso e me aproximei com as mãos erguidas, ainda cambaleando um pouco devido ao sono – e à enorme calda daquele vestido.

- Calma! Só me explique o que está acontecendo, está tudo bem.

A mulher suspirou e fechou os olhos, balançando a cabeça.

- Os seguranças me informaram que a senhora era baiana, e eu passei dias pesquisando sobre a Bahia para que quando chegasse, não se sentisse deslocada... – Enquanto ela falava, suas mãos se moviam para todas as direções possíveis como se a qualquer momento, ela pudesse entrar curto-circuito. – Mas é claro que alguém tentou me pregar uma peça visto que a senhora não entendeu bulhufas do que eu falei e...

- Bulhufas? – Questionei, ainda mais confusa.

Novamente, ela voltou seu olhar para mim e estapeou a própria testa.

- Ah, sinto muito. Normalmente, não uso esse vocabulário mas fui criada pelos meus avós e quando fico nervosa falo sem parar e acabo falando da mesma forma que eles, mas tudo corre bem quando estou concentrada, geralmente penso nas minhas palavras...

- Espera, espera! Não quero interromper, mas pode me dizer seu nome? – Tentei não soar indelicada, ela parecia uma pessoa excelente e notei suas boas intenções mas eu já estava ficando tonta com seu falatório.

- Claro, claro – Ela riu. – Sou Rosa, governanta e ajudante de cozinha e camareira e babá e tudo que me mandarem fazer.

Seu sorriso sincero me fez sorrir de volta e, diante de todos os acontecimentos recentes, aquilo deveria ser considerado um avanço.

- É um prazer, Rosa. Eu sou Antonietta e estou bastante confusa. Vamos colocar as coisas em ordem. Então você trabalha para Matteo, certo?

- Certo. E agora para a senhora também.

Eu não gostava de como isso soava. Eu não possuía dinheiro para pagar empregados, e nunca quis ter algum. Estava satisfeita em apenas morar naquela casa, precisava deixar claro para todos que o patrão ainda era apenas Matteo.

- Por favor, senhora não. Apenas Antonietta e não sou sua chefe, sou sua amiga.

- Amiga? – Ela perguntou de olhos esbugalhados.

- Sim – Dei de ombros. – Você não quer?

- Não! Digo... Sim, eu quero. Claro! Mas isso não é nada convencional, não estou acostumada com isso.

- Bem, então somos amigas e apenas isso. Você se importa em me apresentar a casa? Preciso tirar essa bagagem do corpo - Apontei sem jeito para o vestido.

- Droga! Com certeza podemos, eu nem percebi seu vestido, venha comigo – Rosa virou de costas e seguiu pelos degraus de madeira de uma escadaria imensa. No meio do caminho, ela parou e me encarou, pensativa. – Acho que sou uma péssima amiga.

Precisei rir de sua expressão decepcionada. Poucas pessoas conquistavam minha simpatia logo de cara, mas Rosa havia me conquistado, eu a queria por perto.

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