Capítulo 3.5 - O cavalheiro de bicicleta (Lady)

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Meu pai estava me olhando daquele jeito alarmado de sempre quando eu abri os olhos. Naquele momento, porém, até eu estava alarmada. Confusa. Onde eu estava mesmo? Ele choramingou meu nome quando me viu acordada, esticando-se para me abraçar. Eu olhei em volta, perdida. Não demorou muito para eu entender que estava em um hospital. James estava sentado ao lado da cama, alguns médicos estavam por perto e dois policias espreitavam pela porta.

Espera, dois policiais?

A lembrança do ataque veio em um rompante, enquanto meu pai ainda estava agarrado no abraço. Dois homens pulando da mata, cercando minha corrida. Minha lerdeza em perceber que aquilo não era um acidente, mas sim premeditado. Meu berro desesperado ao ver o lenço molhado que um deles queria me fazer cheirar. Um garoto desconhecido pulando da mata com sua bicicleta e depois um vazio de lembranças.

Olhei em volta novamente, sem enxergar em lugar nenhum o menino que pulou em minha defesa. Se eu estava aqui e não sequestrada no fundo de uma van qualquer, provavelmente isso significava que ele tinha sido bem-sucedido? Mas onde ele estava? Será que tinha acontecido alguma coisa? Será que ele tinha sido ferido?

Empurrei meu pai com mais força do que era necessário, nervosa com a perspectiva dele ter se machucado por minha causa.

― O que aconteceu? ― Ele perguntou, ainda mais nervoso. ― Está sentido dor?

― Não! ― Eu respondi, de imediato. Na verdade, estava sentindo algumas dores e ardências, mas nada que pudesse ser comparado ao espanto por não ver o menino naquela sala. ― Onde está o menino que me salvou?

Meu pai inclinou a cabeça, sem entender.

― James te salvou, querida ― ele indicou o rapaz sentado. ― Ele te encontrou desacordada no chão e localizou o criminoso.

― Dei um soco nele ― James deu de ombros, com um de seus sorrisos.

― O criminoso? ― Eu questionei, horrorizada. Aquilo não era bom. Nada bom. James era grande, mas meus atacadores eram muito maiores! Ele não daria conta de socar nenhum deles! ― Eram dois, James!

― Eram três, Lady Jenny ― ele corrigiu, usando o termo de tratamento por estarmos na frente do meu pai. ― Dois fugiram, mas eu interceptei o terceiro quando ele também estava fugindo, pedindo para os amigos esperarem.

O quê? Três? Não, não eram três... Minha cabeça começou a doer por conta da luminosidade do hospital, branco demais. Tinha algo de errado, eles não eram três. Fechei os olhos, sensível.

― Não! ― Eu disse. ― Eram só dois! Enormes, corpulentos e medonhos!

― Sim, esses dois fugiram ― James explicou, levantando-se do banco. ― Nós pegamos um terceiro, que estava de bicicleta...

Que estava de bicicle... NÃO!

Meu pai tentou me impedir, mas eu me desvencilhei dos seus braços e comecei a levantar daquele leito. Pelo amor de Deus, eles estavam acusando o garoto que apareceu para me salvar como o responsável? Não, não, não!!! Eles tinham entendido tudo errado.

― Jennifer, volta para essa cama agora! ― Meu pai ralhou, mas eu já tinha pulado para fora.

― Vocês não estão entendendo ― eu disse, controlando os movimentos de James para que ele também não fosse capaz de me interceptar. ― Vocês entenderam tudo errado. Esse menino de bicicleta não é um dos culpados...

― Como não? ― James perguntou, horrorizado. ― Quando eu cheguei na cena ele parecia bastante culpado.

― Você não viu direito, estava preocupado comigo ― eu acenei, achando meu casaco pendurado em uma cadeira e tratando de vesti-lo.

SIR: um plebeu honradoOnde histórias criam vida. Descubra agora