Capítulo 7: Ferrado (Sir)

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Era isso, eu estava ferrado.

Preso em uma mansão desconhecida, que eu não conseguia diferenciar os cômodos nem quando Jennifer explicava mais de uma vez e sob o constante olhar do Duque, que já tinha deixado claro que não me deixaria ir embora. Pelo menos não antes do final de semana acabar.

Quer dizer, não estava sob o constante olhar do Duque naquele momento em específico, mas a sensação era de que eu estava. Eu e Jennifer estavamos andando pela casa, em um tour que o Duque sugeriu que fizessemos. Ela me mostrava sua explendorosa casa e eu ficava passando mal, pensando em como é que eu ia fazer para cair fora dali. Uma excelente dinâmica.

O almoço tinha sido desastroso, para dizer o mínimo. Eu mal consegui tocar na minha comida quando o Duque começou a dizer sobre como ele queria que eu permanecesse na casa com eles. Depois disso ele não parou mais. A cada nova palavra era como se alguém estivesse socando meu estômago.

― Eu sinto muito pelo meu pai ― Lady Jennifer falou quando passamos pelo que parecia ser o décimo quinto cômodo vazio da casa. ― Ele é bastante cabeça-dura, quando quer.

O Duque achava que eu estava em perigo. Ou, pelo menos, era isso que ele tinha dito. Uma parte de mim ainda estava ponderando se ele não achava que o perigo era eu e, por isso, queria me manter por perto. Sua justificativa, todavia, ainda fazia o mínimo de sentido. Já que eu não tinha sido o responsável pelo ataque à Jennifer, os verdadeiros responsáveis ainda estavam soltos por aí. Como eu tinha me arriscado para salvá-la e frustrado os planos deles, tinha me tornado um alvo também.

O que não fazia o mínimo de sentido, pelo menos na minha cabeça, era que algo como Duques ainda existissem na Inglaterra em pleno século XX. Pessoas com título de nobreza, morando em casas gigantescas, com acesso direito ao Palácio e sofrendo atentados na rua? Parecia maluquice.

― Lucas? ― Jennifer me chamou. Meu nome soava muito estranho em seu sotaque, mas era um estranho bom. ― Está tudo bem?

Eu assenti, sem entender. Só depois me dei conta de que, perdido em meus próprios pensamentos, eu não tinha comentado nada sobre seu pedido de desculpas em relação ao Duque. Ao Duque. Ai, ai. Eu daria uma risada, se a verdadeira vontade que eu sentia não fosse de chorar.

― Tudo bem ― eu respondi.

Não estava nada bem, mas era isso que as boas maneiras me levavam a responder.

― Escuta ― ela parou em frente a um quarto fechado. ― Esse aqui é meu cômodo favorito ― continuou a dizer, olhando para mim por cima do ombro. ― Acho que vai te ajudar a entender um pouco melhor sobre minha família... Você deve estar cheio de dúvidas.

Eu dei de ombros, sem querer dar na cara de que eu estava mesmo cheio de perguntas. Jennifer girou a maçaneta, esticou-se para acender a luz e se apertou no batente, me convidando a entrar. Esgueirei-me para dentro, tentando passar pelo espaço remanescente sem esbarrar nela. Meus dedos resvalaram de leve na renda da saia do seu vestido, mas no todo foi uma entrada quase ilesa.

Era um quarto normal. Quer dizer, igual a tantos outros que nós já tínhamos passado. Parecia uma espécie de escritório, com uma grande mesa de mogno, cadeiras acolchoadas e um mapa-múndi na parece. Eu me aproximei desse último, curioso. A distância entre o Brasil e Inglaterra nem parecia tão grande naquela representação, mas existiam quase 10 mil quilômetros me separando de casa.

― Desse lado ― Jennifer pigarreou atrás de mim.

Girei nos meus pés, olhando para onde ela requereu. A parede oposta à do mapa tinha uma árvore de família gigantesco, que começava no topo da parede e ia se espalhando por todos os lados, chegando a uns 30 centímetros do chão. A árvore genealógica tinha fotos, nomes e datas, que eu supus ser de nascimento e de óbito.

SIR: um plebeu honradoOnde histórias criam vida. Descubra agora