Lucas e eu entramos juntos para o almoço, no dia seguinte ao dia do acidente. Eu não gostava de pensar no acontecido como uma tentativa de sequestro – como a mídia e meu pai estavam alarmando por aí. Meu pai já estava sentado na mesa, mas se levantou quando nós passamos pela porta da sala. Ele que era o Duque, mas suas maneiras eram assim mesmo. Sempre muito gentil, às vezes esquecia que não precisava ser tão cortês. Eram os outros que precisavam agir assim com ele.
― Bem-vindos ― ele disse, fazendo uma mesura.
Eu fiz uma mesura em retorno e observei Lucas corar pelo canto de olho. Ele se abaixou meio troncho e sem jeito, mas meu pai não pareceu reparar. Gesticulou para que nós dois nos sentássemos com um daqueles sorrisos típicos dele: metade simpático, metade assustador. Típico papai.
― Como está se sentindo, Lucas? ― Ele perguntou, quando o menino nem tinha acabado de sentar.
― Er, bem. Obrigado. Senhor. Obrigado, senhor. Quer dizer, obrigada Duque. Quer dizer, obrigada senhor Duque...
Eu baixei a cabeça, escondendo minha careta entre meus cabelos. A situação era realmente muito ruim. Não só a gente não sabia nada sobre o Lucas e estava hospedando ele na nossa casa como também ele não sabia nada sobre a gente, sobre pronomes de tratamento de famílias da realeza e provavelmente se sentia preso nessa mansão. Será que ele achava que a gente estava mesmo o prendendo? Eu nunca seria capaz de fazer o que ele estava fazendo. Sentar para almoçar com desconhecidos? Estaria apavorada só de estar nessa casa!
― Obrigado por terem me levado para o hospital e tudo ― o menino disse, encolhendo os ombros.
― Não, Lucas ― meu pai disse, quando nossos serviçais trouxeram a sopa de entrada e depositaram em seu prato. ― Nós que agradecemos. Se não fosse por você, não saberíamos o que seria de Jennifer...
Lucas baixou a cabeça e corou, tão constrangido que eu fiquei com pena. Os serviçais deram a volta, servindo a sopa no meu prato e depois no dele. Meu pai estendeu uma taça, que outro serviçal já tinha enchido de vinho e levantou.
― Ao Lucas ― ele disse.
Eu levantei minha própria taça, cheia de água. Não tinha idade para beber e meu pai não gostava de burlar regras. Nenhuma delas. O rapaz com as bebidas parou ao lado de Lucas e disse:
― Senhor, peço desculpas pelo meu desconhecimento, mas o senhor gostaria de água ou vinho?
― Er ― Lucas grunhiu, engolindo em seco.
― Vinho, é claro ― meu pai gesticulou e, antes que o garoto pudesse refutar, o rapaz virou a garrafa na taça dele.
Como se não fosse uma situação ruim o suficiente, Lucas foi obrigado a levantar a taça e a brindar em sua própria homenagem. Sua expressão dedurava que desconfortável era pouco para descrever como ele se sentia. Não sei porque meu pai achava uma boa ideia trancafiar o pobre garoto. Ele já não tinha feito demais por nossa família? Estávamos retribuindo sua bondade e seu altruísmo de uma maneira terrível.
― Então, Lucas ― meu pai começou, me dando calafrios. ― Não sei se você teve tempo de conversar com Jennifer para entender melhor o que aconteceu depois do hospital...
― Um pouco ― Lucas respondeu, olhando na minha direção pelo canto de olho.
Eu aproveitei para murmurar "desculpa", de forma bem articulada para que ele pudesse fazer leitura labial. Eu sabia para onde meu pai estava direcionando aquela conversa. Ele queria convidá-lo para ficar conosco pelo tempo que quisesse conosco. O problema era que não era exatamente só um convite. Ele já tinha deixado claro para mim que era um desejo forte. Ou seja, ele faria de tudo para convencer o pobre garoto.
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SIR: um plebeu honrado
Fiksi RemajaLucas sempre amou a Inglaterra. Por isso, vivia pedindo uma viagem para lá de presente. Entretanto, com os problemas financeiros de sua família, só conseguiu ver seu sonho realizado depois de muito trabalho e economia. Finalmente, trancou a faculdad...