Capítulo 8 - Corredor

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Eu não teria seguido se soubesse quem era a visita.

Quando chegamos na sala de estar, o garoto estava parado no meio dela como se fosse o maldito dono do lugar. Sua postura era ereta, seus braços esticados nas costas e as mãos que há pouco tempo tinham me socado se entrelaçavam na altura do final de seu terno. Ele usava luvas. Eu queria rir, mas não tanto quanto eu queria sair de fininho. Para bem longe daquelas pessoas loucas que se vestiam como se estivessem indo para o último baile da monarquia.

Espera. Aqui nunca teve um último baile. Será que ainda tem bailes?

― James? ― Lady Jennifer chamou ao meu lado, fazendo o garoto girar nos sapatos lustrosos para nos encarar.

― Lady Jenny ― James sorriu olhando para ela. O sorriso morreu quando ele me viu. ― Você.

― Lucas ― Lady Jennifer disse e eu me virei, confuso. Só me dei conta de que ela não estava falando comigo quando ela completou. ― O nome dele é Lucas.

James respondeu com um novo sorriso. Dessa vez tão falso que me deu vontade de rir da cara dele de novo. O que com certeza não era uma ideia muito inteligente, considerando que aquela mão mesmo enluvada era capaz de fazer um belo estrago na minha cara. Na verdade, ainda dava para ver no meu rosto as marcas do estrago recente. Então baixei os olhos, tentando focar na tapeçaria elegante da sala de estar.

O silêncio constrangedor tomou a sala e eu fiquei me questionando, pela milésima vez desde que pulei para proteger Lady Jennifer, que raios eu estava fazendo ali. Que raios eu estava fazendo da minha vida. Por mais que eu tentasse arrumar uma possível fuga, não parecia capaz de chegar a nenhum plano que me satisfizesse completamente. Ou que tivesse o mínimo de chance de dar certo, para início de conversa.

― Então ― Lady Jenny disse, quando os minutos passaram e o silêncio continuou. ― A que devemos a honra de sua presença, James?

― Na verdade ― ele começou, com o sotaque tão forte que parecia até forçado. Puxou as luvas dos dedos com maestria, sem tirar os olhos de Lady Jennifer. ― Eu vim ver como você estava.

James estendeu a mão na direção de Lady Jennifer, que ainda estava parada no mesmo lugar. Toda aquela cena parecia estar transcorrendo em câmera lenta. Minha curiosidade pelos próximos acontecimentos me fez levantar só um pouco os olhos, para ver com mais clareza o que ia acontecer. Até arrumei os óculos, que resolveram escorregar pelo meu nariz no processo.

Lady Jennifer olhou para mim e eu congelei, pego no flagra. Não tinha muito como disfarçar, então fiquei parado lá, encarando-a possivelmente com os óculos deslocados para fora da órbita e parecendo um idiota. Naquelas circunstancias eu estava mesmo me achando um idiota, mesmo com a melhor nota da minha turma de Microeconomia I. Lady Jennifer me olhou por um segundo a mais antes de dar um passo para frente e esticar a mão para segurar a dele.

Baixei os olhos de novo, sentindo um desconforto esquisito no estomago. O Duque tinha me garantido que a comida não estava envenenada, mas pelo jeito tinha me feito mal de qualquer maneira.

― Bem ― Lady Jennifer disse, envolvendo aquela mão medonha com seus dedinhos compridos. ― Eu estou bem, James. Obrigada.

― Fiquei imensamente preocupado ― ele respondeu, esticando a outra mão para prendê-la a dela em um medonho sanduíche. ― Se alguma coisa acontecesse, Jenny, de verdade.

Eu dei um passo para trás, desejando fundir no chão. Não estava nem um pouco interessado em ficar na sala para presenciar demonstrações públicas de afeto daqueles dois. E talvez eu precisasse correr para o quarto, se meu estomago continuasse me sabotando daquela forma. Dei mais um passinho para trás, enquanto James abaixava a cabeça, se aproximando perigosamente de Lady Jenny.

SIR: um plebeu honradoOnde histórias criam vida. Descubra agora