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Dois dias depois encontrei Harry no centro para um passeio. Ele me deu um beijo em cumprimento e começamos a caminhar.

— Então. Seu dia foi bom ontem? – perguntei.

— Foi... Tranquilo. - respondeu. Parecia a ponto de falar mais alguma coisa, mas, em vez disso, se calou e virou para frente.

— Eu estudei bastante. – continuei. — Você teria ficado orgulhoso. Acho que aprendi a peça toda.

— Ah, que bom, ótimo. – falou sem interesse.

Uma pulga de preocupação se instalou atrás da minha orelha. Havia algo de errado. Não tinha ficado tudo bem depois de sexta. Por favor, não deixe ele terminar comigo, repeti para mim mesmo milhares de vezes feito um idiota.

Tipo, porquê ele me dispensaria? Só porque eu queria transar com ele? Talvez estivesse cansado, ou tivesse brigado com a mãe, ou coisa do tipo.

— Como vai sua mãe? – perguntei. Harry franziu o rosto.

— Bem, porque?

— Só estou puxando assunto. Resmunguei. Em uma ultima tentativa acariciei a mão dele. — Que tal comermos alguma coisa? - sugeri alegremente. — Meu café favorito é no fim da rua.

Ele deu um sorriso ausente.

— Okay, pode ser.

Apesar de tudo, revirei os olhos. Não se anime demais, pode acabar se machucando. Então andamos em silêncio, eu olhando em volta tentando fingir que estava tudo bem, e ele examinando o chão, como se ali tivesse o segredo da vida.

Vi Kendall, uma velha amiga que havia estudado comigo antes de se mudar para um colégio particular. Até ela me olhou engraçado. Será que eu estava com uma placa invisível na cabeça ou algo assim? Uma seta piscante de neon apontando para nós escrito "C o n s t r a n g e d o r"?

Harry se animou um pouco com o passar do dia, mas não foi espontâneo em nenhum momento. Se dava para responder uma pergunta com um monossílabo, ele o fazia. Mais tarde, quando Harry foi embora, fiquei deitado no sofá de casa e enquanto as gêmeas viam algum programa de desenho na tv, recebi uma mensagem de Kendall.

Oi, Louis! Wow, não sabia que você curte sair com garotos jovens!

Mandou bem, Harold!!!

O quê? Do que ela está falando? E como conhecia Harry? Olhei fixamente para o celular, claramente confuso, minha mãe percebeu isso e perguntou o que estava acontecendo.

— Não sei. – respondi. Mordi o lábio por um segundo. — Mãe, o que quer dizer "curte garotos jovens"?

Ela baixou o jornal.

— Bom... Pode ser um termo usado para uma pessoa mais velha que namora um rapaz mais novo. Porquê?

— Foi o que pensei. – falei. Um pensamento estava me rondando e eu não estava gostando nada disso. — Vou subir, preciso ligar para uma pessoa.

Disse já subindo as escadas para meu quarto. Fechei a porta e sentei na cama, com o dedo sobre o nome de Harry, que estava salvo como Hazz  na minha lista de contatos.Respirei fundo e liguei para ele.

— Oi - atendeu, em um tom neutro.

— Como você conhece Kendall Jenner e porquê ela me perguntou se eu "curto garotos mais novos"?  - disparei. Harry ficou em silêncio, mas segundos depois se pronunciou.

— Precisamos conversar.

— Finalmente!! - disse, soando muito mais forte do que eu sentia. — Nos vemos na frente do parque daqui quinze minutos.



Ele já estava lá quando cheguei, esfregando a sola dos sapatos no asfalto. Não me viu, ou fingiu não me ver, porque eu já estava bem na frente dele quando finalmente levantou a cabeça. Abri a boca para dar "oi" mas ele foi mais rápido.

— Estou no segundo ano. - o encarei feito um idiota, talvez estivesse de boca aberta.

— Como é?

— Kendall Jenner estuda na minha escola. Estou no segundo ano. Tenho dezesseis anos. Bem, quase dezessete, faço em fevereiro.

Parecia feliz. Porquê estava sorrnindo?

— Não tem não. – rebati, franzindo o rosto. — Você faz faculdade... Foi o que me disse.

Ele balançou a cabeça.

— Nunca disse que fazia faculdade! - declarou, como se estivéssemos conversando sobre o tempo ou coisa do tipo. — Dou aulas para alunos que estudam francês para entrar na faculdade, mas não sou universitário. Tenho bolsa na Escola Preparatória de Brighton. Recomendam que a gente faça um curso avançado antes... É um colégio bem puxado, então fiz francês o ano passado.

Deu de ombros timidamente.

— Tirei A, então resolvi dar aulas particulares para ganhar um dinheiro extra e ajudar em casa. Minha mãe não ganha muito bem.

Fiquei tão irritado que não sabia o que fazer.

— Então basicamente você mentiu para mim. – conclui.

— Não - disse ele franzindo o rosto. — Nunca menti, só não corrigi o que descobri a pouco tempo que você havia deduzido.

— Ah, descobri a pouco tempo - imitei em um tom requintado. — Bem, vá se foder Harry Styles. - gritei.Ele recuou como se tivesse levado um tapa. — Ué, o que você esperava? - falei. — Eu tenho andado por ai com um menino de dezesseis anos? Tenho quase dezoito. E que espécie de prodígio de merda você é? Tirando A dois anos antes? Aposto que passou esse tempo todo rindo da minha burrice.

— Não precisa falar palavrão. - argumentou todo maduro, calmo e irritante.

— Ah não enche! - passei as mãos no rosto. De repente tudo fez sentido. — Nunca fui ao seu dormitório, porquê você não mora em um! Achei que morasse em Brighton por causa da faculdade. Mas você mora com sua mãe, não é? - esperei que negasse mas ele apenas assentiu. — E desconfio que seja virgem?

— Sendo ou não, iria querer esperar do mesmo jeito. – falou. Parecia prestes a chorar. Que criança, pensei irritado. — Tenho muito respeito por você para pressioná-la. – pausou e arrancou um pedaço de tinta que estava descascando nos portões de ferro do parque. — Gosto muito de você. – falou baixinho.

— Que pena - gritei. Ele se encolheu e fiquei satisfeito. — Acabou, entendeu? — Lágrimas de humilhação e raiva se formaram em meus olhos.  — Nada de aulas particulares, nada de... Nós dois. - apontei para ele e para mim. — Nada. Nunca mais quero ver você. — Comecei a chorar de fato. — Como pôde mentir para mim? Vocês são todos iguais.

Harry tentou me abraçar mas eu o afastei.

— Não somos todos iguais. – afirmou. — Eu juro.

— Ah, você jura. Onde eu já ouvi isso antes? – rebati.

— Lou, nunca jurei nada que não fosse para valer. – declarou com a voz trêmula. — Por favor não faça isso. Nunca achei que fosse levar para esse lado.

— Então foi burro! - chorei.

— Fui! – concordou. Tentou pegar minha mão. — Por favor, por favor, não faça isso.Podemos resolver, não podemos?

— Não Harry, não podemos. – subitamente exausto, dei as costas para ele. — Tchau.

Ele hesitou.

— Por favor, não podemos...?

— Não. – olhei para trás mais uma vez e disse com mais firmeza — Adeus, Harry!

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