Vocês já se pegaram pensando se o seu cabelo condiz com um ambiente social ?
Me peguei pensando nisso a uns meses quando fui convidada por uma amiga minha pra ser madrinha de casamento e meu namorado padrinho, o questionamento começou por ele, quando fomos ver as roupas pra alugar. Experimentando uns ternos, ele me questionou se o cabelo dele iria combinar, ou se ficava bem com o terno.
Eu logo respondi que sim, que não tinha nada de errado com o cabelo dele, e que isso é uma construção social. Até porque ele nasceu com o cabelo assim, então não teria que se sentir incomodado ou achar que o fato do cabelo ser Black Power não estaria de acordo com uma roupa social.
Vocês tem noção de como isso é sério e de como o racismo está enraizado até em nós mesmos, que sempre estamos tentando superar o preconceito. Sem perceber a gente vai se diminuindo, e reproduzindo idéias descriminatórias com a gente mesmo.
É triste você não se sentir bem com você, com seu cabelo em determinados lugares, uma sensação de que não devo estar ali ou o cabelo assim não é adequado para a ocasião. Mas sabemos que não tem nada de errado conosco nem com nossas características, mas a sociedade as vezes nos faz questionar isso, a aceitação é quase um mantra que se deve repetir toda vez que sai de casa, porque a gente sempre cruza com olhares de reprovação e na pior das hipóteses palavras preconceituosas de graça.
Ser o tempo todo contestada (o) quando resolve fazer algo diferente no cabelo, porque para os juízes do cabelo perfeito, o fato de você ter deixado o cabelo natural já é mais do que suficiente, na verdade eles pensam que nem deveríamos ter feito isso porque está "fora dos padrões". Colocar tranças, descolorir o cabelo, pintar de uma cor alegre, ou até fazer uma escova só pra ver o comprimento no meu caso. Tem sempre alguém pra falar, "mas, nossa, tem certeza que vai ficar legal, será que combina com você ou talvez algo mais discreto seria melhor". Mas tá quem pediu sua opinião, quem disse que vc sabe o que é melhor pra minha aparência ou para o meu cabelo ?, Ele é meu portanto eu faço o que eu quiser. É o que a gente sempre pensa, mas na hora dá um risinho amarelo e deixa passar, porque cai a ficha e a gente percebe que nem vale a pena debater.
Eu faço estágio no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e antes de começar eu me perguntava se meu cabelo seria adequado para o ambiente, se iriam me olhar de cara feia, se ia ser a ET no meio de um monte de gente branca com a realidade totalmente diferente da minha. Eu sinto isso às vezes, é bem velado, bem institucionalizado, mas dá pra perceber. Mas o que mais se percebe é o choque de realidades que é bem forte, outra dia eu escutei uma que me deixou revoltada, a sinhazinha ia pra Disney com a filha, a filha queria ir com uma roupa simples, mas ela disse pra garota se arrumar pra não parecer pobre e correr o risco de ser barrada no embarque. Cara, isso é muito ridículo, extremamente esteriotipado, só mostra que o fato de ser pobre no Brasil é motivo pra ser visto como criminoso mesmo, se é negro é assaltante, ladrão.
Essas coisas me fazem refletir no quanto ainda temos que evoluir como seres humanos, tendo empatia, compreensão, tolerância, solidariedade, compaixão, amor ao próximo, ideias de igualdade e inclusão que tem faltado por aí.
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Não é só cabelo !
ChickLitPara meninas que como eu, após a transição capilar encontraram o grande amor da vida delas, nelas mesmas ♥