-- E ai, Aninha -- Leticia sorriu para mim. -- Como você tá?
Encarei ela. Tínhamos saido sexta a noite, viemos comer hambúrguer e batata frita. Porém, eu não queria estar ali com ela. Preferia ter ficado em casa e ter visto um filme com Vitória e Drummond. Letícia usava sua melhor jaqueta jeans. Parecia cansada. O celular estava jogado na mesa fazia minutos, ela nem sequer o usava para ver as horas. Era quase como se ele não estivesse ali.
-- Eu tô bem, Lê. -- Suspirei, me culpando por não estar animada em vê-la. -- E tu?
-- Meio cansada do trabalho. -- Ela disse, sorrindo, e se ajeitando na cadeira. -- Desculpa por estar ausente, okay? Eu não queria estar tão distante.
-- Tudo bem. -- Dei de ombros. Na verdade, pouco importava agora. O tempo dela se desculpar havia passado. Já não fazia tanta diferença ela estar ou não estar aqui. O celular apitou. O mesmo nome de antes. Ela virou o visor para baixo. A olhei, como quem perguntava com os olhos.
-- Meu trevinho. -- Ela sorriu, sem problemas em falar sobre. -- A Eliza, minha melhor amiga. -- A informação estalou na minha cabeça, com culpa de ter achado que ela me traía, mas dúvida sobre ela me trair com Eliza.
-- Hm. -- Me arrependi assim que o som saiu da minha boca.
-- Está com ciúmes?
-- Não. -- Respondi, seca. Os lanche haviam chegado e a batata frita também. Mordi meu lanche.
-- Ué, aprendeu comer o alface do hambúrguer? -- Ela disse, em tom de brincadeira. Eu sorri. Não por ela, mas por lembrar de Vitória jogando salada no meu prato todo dia.
-- Vitória me obriga a comer salada, dai aprendi. -- Dei uma risada baixinha.
-- Ela fazia isso comigo também, me mataria ao me ver comer esse hambúrguer. Só Deus sabe o tanto que tentou me converter pro lado vegetariano da força.
-- Não sei como Drummond ainda consegue ser carnívoro. -- Sorri, lembrando que ele só cozinhava carne três vezes na semana, a pedidos dela.
-- Tu viu aquela série nova? -- Ela puxou assunto.
O resto da noite a gente riu, falamos de filmes, séries, músicas. O clima ficou leve. Era como se eu e ela fossem grandes amigas, e realmente éramos. Passamos um tempo grande juntas sem discutir, e isso era motivo de festa. Assim que nos levantamos, para cada uma pagar sua parte da conta (porque nós dividiamos tudo, desde sempre), ela me pede:
-- Dorme lá em casa hoje? -- Deu um suspirinho, meu coração falhou por um segundo por ela ter pedido isso com tanta inocência. -- Só dormir, só… fica lá um pouco. A gente mal se vê, só pra matar a saudade. Não vou fazer nada que não queira, ou que não esteja se sentindo pronta ainda. -- Encarei o balcão por alguns segundos, pensando no que responder. -- Por favor, amor.
-- Okay, Lê. -- Sorri, me deixando ser abraçada por ela. -- Eu durmo na sua casa hoje.
Seria a primeira vez que eu iria para o apartamento dela. Ela entrou no carro mais animada, falando de como eu iria gostar de lá, que apesar de ainda estar meio vazio, era um lugar bem bacana. O apartamento dela não era grande, mas também não era pequeno. Era o suficiente. Estava bem organizado e limpo. Tinha um sofá, a mesa do computador, poucas louças, uma cama e uma mesa de estudo. Era tudo. Me culpei por me aborrecer pelo trabalho excessivo dela. Letícia tinha acabado de comprar um apartamento e tinha que transformá-lo em lar, sozinha. E estava fazendo isso por nós. Um gosto amargo subiu em mim boca, mas eu não sabia o motivo.
-- Não tem muita coisa, mas não é tão ruim assim, né? -- Ela sorriu, com medo da minha reação.
-- É ótimo aqui, Lê. -- Fui até a janela. Tinha uma vista bonita para uma pracinha. -- É ótimo.
-- Que bom que gostou, amor. -- Ela pareceu aliviada, largando as chaves do carro na mesa do computador. -- Eu vou tomar um banho, depois você toma um também, te emprestou uma blusa para você dormir.
Concordei e ela foi para o chuveiro. Sentei no sofá. Era confortável. Meu estômago estava estranho, eu me sentia culpada. Mas não sabia exatamente pelo quê. Meu celular vibrou.
::::::
Vitória Falcão:
Ei, tu.
Vitória Falcão:
Já tá vindo pra casa? Drummond só conseguiu decidir o filme agora.
Vitória Falcão:
Eu posso pedir pra esperar, porque ele acabou de decidir 500 dias com ela.
Vitória Falcão:
E eu lembro que tu disse que era teu filme favorito.
Ana:
Oi, Vi!
Ana:
Então, eu super queria, mas eu vim dormir na Letícia hoje.
Ana:
Faz tempo que a gente não se vê e tudo mais, achei que seria bom pra gente passar um tempo junto.
Vitória Falcão:
Ah, entendi. 🐶🐱🐰🐦
Ana:
Ué, Vitória AHHAHAHAHA
Vitória Falcão:
Que foi, oxê?
Ana:
Esse monte de bicho ai HAHAHAH
Vitória Falcão:
É os animaizinhos. Num precisa ter porque, são bonitinhos. 🐶🐹🐢🐇🐰🐱🐄
Ana:
Continua não fazendo sentindo, porém 🐥🐦🐢🐰🐭🐶
Vitória Falcão:
Cê esqueceu da 🐄 Mimosa, Ninha! AUHSUAHSUAH
::::::
Ri, sozinha. No fundo, adoraria ir para casa e ver meu filme favorito com Du e Vi. Tinha acostumado a dormir com o cheiro dos chá da Falcão, com o ventilador de Drummond, com a música que ele colocava no repeat quando não conseguia pegar no sono. Eu tinha acostumado a ter o cheiro de Vitória no quarto quando ia dormir. E por esse motivo, quando deitei na cama de casal da Letícia com uma blusa dela, eu estranhei. Era confortável, era bom, só não era o que eu queria. Ela nem sequer me abraçou, e eu agradeci por isso. Apenas pediu pra mim não puxar toda a coberta e pra fazer cafuné no cabelo dela, que ela adorava. E eu fiz. Os fios lisos e loiros eram tão macios, pena que infelizmente algo em mim queria dar volta em cachos. Me repreendi na hora. Fechei os olhos, me acomodei melhor na cama depois que Lê dormiu pelo cafuné, demorei, mas consegui dormir.
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C o l e g a s.
FanfictionAna vai para São Paulo estudar medicina e morar com sua namorada, Letícia. Porém, até essa se estabilizar para a vida a dois com Caetano, Ana tem que passar um mês morando numa espécie de casa universitária. Ela só não contava com a presença de Vitó...