A C h e g a d a

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Amor ❤️:

Bom dia, vida! Espero que tenha chegado bem em São Paulo. Te vejo hoje a noite, okay? esteja pronta às 19h, usa aquele vestido branco rodadinho e rasteirinha. Amo você.

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Encarei o celular mais um pouco, suspirando. Era sempre assim. Brigávamos numa noite, e no outro dia, ela agia como se nada tivesse acontecido. Era por volta das 8h da manhã quando eu havia chegado no aeroporto, ela deveria estar dormindo ainda, devia ter mandado mensagem quando acordou para ir ao banheiro, aquele relógio biológico dela nunca falhava. Era final das férias, eu tinha começado Medicina ano passado em Araguari, mas decidi me mudar para São Paulo quando minha namorada, Letícia, conseguiu finalmente comprar um apartamento. Ela disse que precisaria de um mês para se estabilizar e eu poderia ir morar com ela, passou o contato de uma casa de "universitários" que eram ótimos de acordo com ela.

Digo "universitários"  porque nenhum dos dois eram, de fato, universitários. Era apenas uma casa em um condomínio conhecido pelo grande número de estudantes que moravam ali, por ser incrivelmente perto de tudo que um deles precisarião: perto da faculdade, perto de uma papelaria, perto de um cyber, de uma cafeteria e logo em frente havia um lugar que fazia qualquer tipo de impressos, o que salvava gente que precisava imprimir trabalhos da última hora, o lugar fechava meia noite e abria cinco da manhã, sonho de qualquer estudante radical que se aventurava em fazer trabalho nas últimas horas que podia.

Leticia havia morado ali por 3 meses até conseguir comprar o apartamento, eles não cobravam o primeiro mês de estadia, não fazia tanto barulho e passavam grande parte do dia fora. Era quase como morar com os pais, de acordo com ela, mas sem todo o instinto protetor. Letícia já havia falado com os dois, estava tudo pronto para mim. Pelo que me contou, eles eram extremamentes amigáveis e compreensivos. Disse também que eram super cuidadosos e me cuidariam bem.

Repassei mentalmente a mini biografia dos dois na minha cabeça. Drummond era o rapaz que era realmente dono do lugar, ele mantinha a casa, presente do antigo morador, que o acolheu quando esse veio pra capital de São Paulo só com uma malinha com suas roupas e um sotaque fortíssimo. Letícia me disse que ele cozinhava muito bem, e eu não podia sair sem provar do seu espetacular "brigadeiro". Digo "brigadeiro"  porque de acordo com que ela me disse, não era exatamente um brigadeiro. Mas era bom, e isso que importava.  A garota era a Falcão, uma menina com o sotaque carregado, amante da natureza, estudante de teatro e muito sonhadora. Graças a Drummond, todos eram conhecidos pelo seu sobrenome no local, mania que herdou do pai militar.

Suspirei, nervosa, quando o uber estacionou em frente do condomínio. Entrei, o porteiro era um senhorzinho agradável. Caminhei com minha mochila nas costas e a mala na mão como quem está procurando o portão de embarque no aeroporto. Andei um pouco até encontrar a casa. Dois andares, não muito grande, em um tom de amarelo pastel, a garagem aberta, revelando um Gol preto e uma moto desmontada. Subi os degraus da varandinha e apertei a campainha.

Eu não sabia o que esperar, não sabia o que tinha atrás daquela porta, e sabe, nós nunca sabemos o que nos espera atrás da porta. Naquela manhã de sábado, não só meus novos colegas me esperavam naquela casa. Aquela porta não abriria apenas meu lar temporário, abriu minha vida. Aquela porta se abrir foi só uma incrivel metáfora para iniciar uma nova fase da minha vida. Uma fase onde eu teria que me redescobrir.

Com ela.

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