Calma, Charles

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Clipe: Skip Marley

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Por Charles...

— Charles confere isso daqui pra mim. Eu já conferi umas cinco vezes. O Ari, a Bruna, o Alan e o Jonatan, todo mundo conferiu e tá certo.

Minha mãe, dona Terezinha, acaba de conferir seu bilhete de loteria, se gabando que toda vida jogou os mesmos números e hoje finalmente acertou. A questão não é que ela tenha dúvida quanto aos números acertados, nem significa que ela está tomada pela emoção de ter seus números sorteados, mas é pelo prazer de esfregar na cara da família que ela tá com a grana.  

Essa é minha mãe, pobre e soberba!

Dona Tere é a "mulé!", meus amigos. Ganhou na loteria no sábado à noite e passou o final de semana inteiro ansiosa. Dizia ela:

Modo Drama:

— Passei muito mal na tua gravidez, Charles. Enjoei de café e um perfume do Avon que eu usava, mas pra te ver com saúde, não tomaria café nunca mais, filho. Segunda não esqueça, antes de tu ir pro trabalho me leva no banco...

Modo Chantagem:

— Ah, que dor estranha aqui no peito. Bruna, segunda-feira bem cedo, arruma uma carona e vai comigo no banco.

Modo Soberba:

— Quem disse que pessoa rica é feliz? Eu não vou mudar só porque ganhei na loteria. Não quero dinheiro se for pra mudar meu jeito de ser, né Ari? Segunda-feira, tu tens compromisso cedo, dê um jeito nessa moto velha aí.

Modo Intimação:

— Primeira hora de segunda, um de vocês me leva na Caixa pra eu receber meu prêmio. Onde já se viu, eu pôr quatro filhos no mundo e precisar mendigar um favor.

Dona Terezinha é assim mesmo, sempre foi e ganhou até um apelido de um ex-namorado: Dona Rochelle.

Tudo bem!

Segunda feira de manhã e antes que mamãe continue a interpretar "Todo mundo odeia o Chris" na minha frente, eu levo a mulher até a Caixa para ela sacar o valor de 214,03, isso mesmo, por extenso fica duzentos e quatorze reais e três centarros. A mulher fez um terno na quina e tava surtando desde sábado só pra colocar a mão na bufunfa.

Olha, não pode rir de algo assim, gente! Mãe é só uma na nossa vida e por mais que a gente reclame dos fiascos delas, elas são as pessoas que mais se preocupam conosco. Tô chegando nos trinta anos e ela ainda lembra de perguntar:

— Charles, tá chovendo aqui em Itajaí, ali em Biguaçu, comé que tá? Tás bonzinho filho? Final de semana, te quero cedo aqui em casa, vou fazer um feijão com tudo dentro. Costelinha, bacon, rabo, orelha.

— Certo... — Pra vocês terem uma noção, estou na frente do dono da Construtora e ele esperando eu terminar a conversa com a mãe. Respondo de um jeito que não fique complicado, mas ela me cutuca.

— Responde direito rapazi, não me irrita logo cedo. — Ela grita.

— Sim senhora! A senhora é quem manda. Tá... tá mãe, tô com o patrão na minha frente. Não falei antes porque a senhora não deixa. Ah... desculpa. Te amo, a senhora sabe. Te amo, mãe. — Fico todo errado na frente do seu Hercílio que segura um riso. 

Minha mãe é uma figura.

— Mãe é o bem mais precioso que Deus dá pra gente, Charles. Que bom que tu te relaciona bem com a tua. Nunca perca isso.

— Oxi, seu Hercílio, se passo dois dias sem ligar, ela já surta, liga e me xinga de ingrato e joga na cara que quando a mãe dela era viva, não saía da casa da vó, essas coisas.

Amor BombomOnde histórias criam vida. Descubra agora