Paixão sabor samba e metal

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Acima, o som é do Dio - Killing The Dragon, mencionado no conto. Afinal temos um sambista e um roqueiro cada vez mais envolvidos. hehe♥

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Do caminho da empresa até minha casa, Benício vai caladinho e eu sequer toco no assunto da demissão. Deixarei como prometido, esse assunto do lado de fora de qualquer lugar em que estivermos. Ele não pareceu se importar tanto, é adulto e também poderia ter se defendido. Ou será que tem alguma coisa ainda mais estranha nesse garoto estranho? Foda-se!

— Seu relaxado, nem fez a barba. — Mesmo que não tenha barba cheia, ele quer deixar um cavanhaque e fica muito mais gatinho do que já é. O sorriso não forma bem uma covinha na bochecha, mas um sulco mais alongado e o torna um diabo de charmoso.

— Charles, sabe porque o seu Hercílio me despediu?

Gelou meu sangue.

— Até sei, mas não quero falar sobre o que te deixa chateado. Mas tu nem ficou, né?

— Fiquei muito, na verdade. A tia Paula foi comentar com ele que eu sempre fui um problema na família... e ele despejou, sabe... falou assim:

"—Benício, eu me preocupo com você... é sobrinho da Paula e ela me disse que tu tens muitos problemas. Sinto muito, mas eu não posso deixar isso afetar o teu trabalho, você parece que vem carregado... eu não sei se o teu perfil é o melhor... tu entende? Não é... Tua tia se preocupa também, aí eu achei melhor te dispensar, porque fica mais tranquilo pra todo mundo. Outra coisa é esse envolvimento com o Charles. Se fosse só isso, nem era tanto... Mas depois fica complicado."

 "— Não entendi nada, seu Hercílio, eu trabalho direito."

" — É... mas vamos fazer isso... tu é novo e logo acha outra coisa. A Paula acha melhor."    

— Sinceramente, o que a tua tia tem contra a tua pessoa? Que mulher metida! Melhor eu me acalmar. Tem mais Deus pra dar do que o diabro pra tirar. Ela pediu pro homem te demitir, afinal o que tem de tão grave que te envolve?

—  A mãe achava que era por causa da separação do pai quando eu era pequeno... aí na adolescência eu fui muito rebelde e ficam me julgando até hoje. Aqueles papos que já te falei. Um dia eu surtei e tentei me matar, mas foi naquela fase complicada. Tem um monte de adolescente que faz isso. Hoje não me passa pela cabeça... sei lá...

— Porra... não diz isso. 

— Já passou tá. — Ele chora. — Me arrependi tá. Minha mãe sofreu um monte, porque essas merdas de parente ficavam dizendo que a culpa de eu ser assim é porque ela deu muita moleza...

— Ah, meu magricelo vem cá. — Abraço ele que soluça e parece se livrar de um peso enquanto despeja toda aquela mágoa de si, sua demissão e a incompreensão das pessoas mais próximas. — Tens vinte e cinco, né? Então tá na hora de virar homem, se livrar dessa fama de adolescente revoltado e dar a volta por cima só pra tacar na cara dessas pessoas que tu, merece respeito e se faz respeitar. Especialmente a Paula. Comigo nunca tirou farinha. Esquece tudo... só hoje.

— Tá.

— Vamos entrando e já vai te virando que tu conhece o recinto.

— Posso por uma música? Eu trouxe um pen-drive.

— Vais por uma seleção de Beth Carvalho, Alcione e Maria Bethânia?

— Ahaha, vai sonhando. Tem umas músicas que eu gosto. A gente vai ficar em casa? Sua casa é bonita.

Amor BombomOnde histórias criam vida. Descubra agora