Trabalhado na carência...

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Deixei um vídeo/áudio diferente e que combina com esses momentos em que ficamos sozinhos num findi, sem nada pra fazer e fazemos uso do barulho da chuva pra puxar um ronco.

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Douglas é o tipo que me "atenta"... O nível de conversa é sempre uma apelação, do tipo necessitado. Não é fácil, amiguinhos, sente o meu drama:

— Oh meu pretinho, vem ficar comigo, tô carente.

— Fala peste que só me judia. Fico duas horinhas contigo, tu logo me dispensa.

— Sério, tô carente, preciso de colo, beijinho, mordida na orelha, vem mozão, vem que tô morrendo de saudade do teu corpo quente. Saudade do teu cheiro, meu gostoso.

Ah merda... quem tá carente agora, sou eu. Eu disse que ele me "atentava". Isso numa quinta, início da tarde e eu cheio de coisa pra fazer. O meu órgão genital masculino é burrinho, cabeça dura e não adianta, ele só entende esse tipo de prosa. A cabeça de cima, coitada, precisa da cooperação dele, e não tem. Na verdade tem, mas demora...

Nem tinha percebido que o Benício chegara do intervalo do almoço. Ficou caladão só assuntando a conversa e me olhando sério.

— Opa, Benício. — Cumprimento ele que fica vermelho e disfarça olhando para o seu monitor.

— Opa.

Ele responde apenas isso, senta e trabalha concentrado como já é seu costume. Resolvo puxar um assunto pra deixar o ambiente mais leve, afinal não somos duas máquinas.

— Ei Murilo... nossa, desculpa, Benício. — Erro o nome do rapaz e ele sorri, um sorriso de canto.

— Murilo é meu mano.

— Ah tens irmãos.

— Só um irmão e a Michele que é filha do Júlio, meu padrasto.

— E a Paula é irmã da tua mãe?

— Sim.

— Ah... entendi. A mais nova?

— É.

Poxa que papo! Eu louco pra conversar mais, entrar em assuntos só um pouco mais íntimos e ele não encoraja. Resolvo que vou insistir um pouco mais e ver se descubro mais algumas coisas...

— E o teu pai, mora onde?

— Santa Rosa.

— Bacana. Tú não és de muita conversa.

— No trabalho não.

Nossa que direta! Parece até que não faço nada e só converso o dia inteiro. 

Entendi que pra descobrir mais meia dúzia de informações, preciso arrasta-lo para um boteco, dar umas cachaças e botar pilha nova. Respeito o jeito dele e ao mesmo tempo fico ainda mais curioso, Benício é gatinho e isso é um gatilho na minha solidão. De repente, o Douglas não me parece tão saboroso com seus dengos e suas artes de "guerra". Prefiro essa coisinha magricela e difícil que me deixa nervoso.

No fim de semana, depois de comer a famosa feijoada da mãe, sinto-me tão solitário que nem tenho vontade de ir para casa, que fica há uns quatro quilômetros e perto do centro de Itajaí. Chove forte durante a tarde e o clima fica fresco e gostoso. Barulho de chuva e trovão, só inspiram uma coisa, cochilo preguiçoso. Fecho o black out e capoto bem enroladinho numa manta com cheiro de amaciante. A preguiça toma conta, cansaço da semana e sono são ingredientes dessa terapia deliciosa.

Quando acordo, dou uma olhada no celular e descubro que são dezessete horas. O quarto é invadido pelo cheiro do café e bolo assado no forno elétrico que demos pra mãe no último natal. Ela tá calma, sentada na cozinha pensando na vida, com a mesa posta. Dona Terezinha nunca muda aquele jeitinho de arrumar a mesa para o café. Nunca teve luxo na casa da mãe e ela tenta atender o que cada um gosta. Tipo o Ari, meu padrasto que não come pão francês, gosta de pão caseiro de forma, eu sempre gostei de tomar o café em copo de requeijão e o meu copo tem o desenho do escudo do Mengão, Jonatan gosta de mortadela sem gordura, Alan gosta de tomar café numa caneca grande de cerâmica dessas que se compra no 1,99 (que já custa 3,00) e a Bruna só toma leite em pó, "mulé" enjoada. Olhar a mesa ajeitada assim conforme o gosto de cada filho e marido, coisa que a mãe já sabe, me deixa louco de saudade de morar em casa com ela outra vez.

Amor BombomOnde histórias criam vida. Descubra agora