Praia Brava (Itajaí-SC)
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Na segunda, que batizei como dia de fé, Benício entra na sala mancando, calado e sem me dar um "bom dia". Então eu puxo o coro e ele responde assim:
— Oi.
— E como tá o pé, melhor?
— Nada. Tá meio infeccionado.
Sinto uma baita culpa por ter ficado irritado quando imaginei que ele não viria ao trabalho. Se ele ganhou atestado é porque precisava repousar e agora tá desse jeito por minha causa.
— Tô me sentindo culpado. — Falo e ele dá um *mini* sorriso.
— Ah tá... porquê? Um colega pisou no meu dedão sem querer.
Ai, isso doeu no meu saco. Tadinho. Dá vontade de dar uns beijinhos nesse dodói. Já odeio esse colega dele. Peraí, colega?
— Teu colega? — Pergunto sutilmente e ele ignora, senta e liga o monitor. — Então... tu ficou de molho no final de semana? — Preciso perguntar, até porque sinto um estranho ciumezinho, sim, bem pequeninho, mas que incomoda feito picada de micuim.
— Aham.
Pra segunda-feira ficar ainda melhor, faço uma seleçãozinha de rap, pagode e pro Benício não pôr o fone de ouvido, eu coloco um som do Boney M., esse ele deve gostar, porque não colocou. Rá!
Ou não o trouxe.
— Charles, que raio de banda é essa? Isso daí o meu vô escutava. — Opa! Até se manifestou.
— Raio??? Isso é Boney M., e tu me disse que gostava de músicas dos anos 70...
— Eu curto Judas, Jethro Tull, Kiss, Led Zeppelin... Até jovem guarda dá pra aproveitar alguma coisa, mas não essas de disco, nem sei, não curto não.
— Oxi... Mas essa daqui, ouve... Gloria Gaynor... é anos 70. — Já percebi que, embora nosso gosto musical não combine de forma alguma, é um assunto que nos aproxima e ele sorri com mais vontade. E... gente, que sorriso bonito. Benício tem pouca barba e fica muito menino sorrindo. — Tem um troço que tu vais gostar, Sambô!
Coloco aqueles clássicos de rock que tem uma versão de samba. Ele ouve uma e já se manifesta.
— Estragaram a música. Curt Cobain deve estar de bruços no caixão.
— Meu Deus! Hahahaha. És um sarro, rapaz. Um chato que a gente aprende a gostar. — Ele ri também. Vermelho feito um vinho tinto. Adooooro isso! — Tu é um cara difícil de agradar. Pra mim que gosto de "brasileirismo", essas bandas internacionais são tudo meio parecidas. Deixa eu ver se é legal essas que tu disse...
No player, eu procuro e ele me ajuda a escolher um tal de "gefrutal" nem sei como se fala, mas escreve Jethro Tull e o som é de louco, bom, mas barulhento e depois não sai da cabeça: ♫Aqualung. Hey Aqualung... Aqualung, my friend...♫ queria saber tocar uma guitarra pra extravasar a euforia da música. Mas Zeca Pagodinho é melhor! Consigo cantar a letra, me concentro e meu dia fica alegre. Rock é muito barulhento.
Mas valeu a pena porque interagi com meu colega. Embora não sinta por ele atração de espécie alguma (iludido) fico cabreiro por ele ter comentado que um amigo pisou o pé dele. Quem será? Será que é bonito? Será que é só amigo??? Preciso investigar isso. Nada demais, que fique bem claro.
...
A vaidade masculina é páreo pra vaidade feminina. É sim! Me deixe.
Eu já quis deixar o cabelo crescer pra fazer um penteado black power, mas demora uma eternidade pra crescer e meu pixaim é muito fechadinho, diferente dos meus três irmãos, puxei o meu pai que não é o mesmo deles.
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Amor Bombom
RomanceFinalizado! Durante a semana, Charles é o chefe do RH de uma construtora catarinense. No final dela, o gostosão é da pagodeira e da farra. Dificilmente fica de mau humor, mas é intempestivo quando o tiram do sério. Já apareceu no Romance Amor Peixe...