Capítulo 5

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Eu não convoquei nenhum vampiro, não queria correr o risco de que a notícia chegasse onde não deveria. Chamei apenas George, Damien e Benjamin.

— Achei que não quisesse mais falar comigo. — Benjamin diz.

— O rancor já passou. Calado. Silêncio! — Digo.

— Todas estão dormindo, as luzes estão apagadas. — Damien responde, após espalhar gasolina pelo local.

— Magnífico.

— Será que eu posso entrar naquela merda e fazer vítimas? Eu não sou nenhum cachorrinho, sinto falta de cometer atrocidades. — George sorri como uma criança.

— Primeiro, eu vou cometer a atrocidade. — Risco o fósforo e jogo no quintal.

— 3, 2... — Levaram segundos para o fogo se instalar pelo alojamento das bruxas. George sorria, ele era o vampiro mais cruel, ainda mais quando se tratava de vingança. Embora eu tivesse meu lado maldoso, eu não tinha fome de maldade.

— Olhem, elas estão saindo para fora, algumas já estão sendo queimadas. Tem... Crianças. — Damien diz. Eu odiava qualquer tipo de maldade contra crianças, esse era o meu ponto fraco.

— Eu vou lá. — Digo.

— Volte já aqui, pequena leoa! — George grita e mostro o dedo do meio para ele, Benjamin e Damien me seguem. Corro pelo acampamento e ajudo as criancas saírem do meio do fogo.

— Vocês mataram a minha mãe. — Um menino chora, olhando para mim. Apenas o deixo a salvo e saio, voltando para onde estávamos. 

— Acho que não tem mais criança. — Benjamin diz.

— Vamos embora, já plantamos o caos.

— Eu quero continuar assistindo, não seja chata. — George diz, reviro os olhos.

                                ***

Segundo Nietzsche, quando adestramos nossa consciência, ela beija-nos ao mesmo tempo que nos morde. Oras minhas consciência me beijava, oras ela me mordia. Lembro-me quando me disseram que podemos perder tudo, menos a tranquilidade da nossa consciência. Por um século, esse tem sido o meu mantra. Nem matar bandidos conseguira comprometer minha consciência, quanto colocar fogo no alojamento das bruxas.

— Não acredito que está lendo um livro do Nietzsche. — George se joga na minha cama, do meu lado.

— Uma mulher não pode ter tranquilidade em sua casa?

— Não sou eu que tiro a sua tranquilidade, pequena leoa. E sim, sua pesada consciência.

— Você adorou fazer aquilo. Quer mesmo falar de consciência?

— Depois de 9 séculos, você acaba perdendo essas coisinhas, como consciência e decência. — Bufo.

— Nós matamos as mães daquelas crianças!

— Elas mataram os nossos vampiros, mentiram para nós, querida. Quem manda brincar com fogo?  — Ele dá uma risada — literalmente.

— Você é doente. Você nunca foi humano?

— Faz tanto tempo que eu já nem lembro. Agora, escute... pegaram alguns dos nossos amigos conversando com algumas bruxas.

— Quem?

— Edward e Rachel. — Respiro fundo.

— Não é possível. — Jogo o livro no chão e me levanto.

— O tribunal já foi organizado, falta o seu voto.

— Como? Ninguém me avisou nada? — Ele dá de ombros. Corro para o quintal e vejo uma multidão de vampiros. Damien segura em meu braço.

— Você precisa salvar a Rachel, tenho certeza que ela não fez isso.

— Eu não posso fazer nada.

Havia uma espécie de palco, parecia um show. Porém, era apenas uma reunião para matar dois vampiros. Na minha época, os tribunais eram simples, sem exagero. Mas quando se trata de George... Havia até mesmo uma banda de rock.

— Desculpem-me por interromper a música, senhores e senhoras. Porém, ainda estamos em julgamento para decidir se esses dois traidores merecem viver ou não. E agora, o momento mais esperado chegou, o voto da nossa majestade, Katrina. — George me puxa e subo no palco. Todos começam a gritar o meu nome, isso só mostra o quanto eles enlouqueceram.

— Que merda é essa? Vocês enlouqueceram? Quando há um julgamento, devemos levá-lo com seriedade. Com todo respeito, a música de vocês são ótimas, mas desçam do palco, por favor.

— O que você está fazendo? — George diz baixo.

— Acabando com o circo. — Todos começam a me vaiar, mas não ligo. — Agora sim, assim que eu gosto. A votação começará novamente, de maneira tradicional.

O julgamento começa e todos são ouvidos, George estava cuspindo fogo, desde que assumi o controle da situação. Quando chega a vez de Rachel falar, um nó se forma na minha garganta.

— Quer saber? Eu tô cansada. Sim, eu fui a informante das bruxas. Eu avisei sobre o ataque. Elas... Elas me prometeram que se eu ficasse do lado delas, elas fariam um feitiço para que eu engravidasse. Katrina, você sabe que esse sempre foi o meu sonho, interrompido por você! Se você não tivesse me encontrado, eu continuaria humana. Você roubou isso de mim! — Lembro-me de como conheci Rachel. Eu estava bêbada e com fome, ela estava sozinha. E eu, uma vampira nova, fingi ser sua amiga e a mordi. Quando me dei conta, ela estava viva, fiquei com pena de matá-la e a deixei ser transformada. — Embora eu goste de você, nunca perdoei você por isso.

— Que besteira! — George diz e se aproxima de Rachel, enfiando uma estaca de prata em seu coração. O movimento foi tão rápido, que não pude impedir. Fico sem reação, apenas sinto as lágrimas caindo dos meus olhos. Edward grita e agora, era a vez dele morrer. Todos comemoram pela performance de George, mas eu só sentia dor. De repente, percebo que o peso da minha consciência sempre esteve ali, em algum lugar da minha prateleira, e eu sempre elaborava desculpas para escondê-lo. Mas agora, elas apareceram de uma forma rápida e dolorosa.

Katrina Onde histórias criam vida. Descubra agora