Capítulo 7

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Bruxelas, 20h35 - Primeira semana de apresentações:

- Mas que droga de trânsito! - Cézar grita, me fazendo acordar.

- Qual o problema, seu ignorante? - puxa vida! Como eu odiava ser acordada. Ainda mais com uma voz grossa e insuportável como a voz de Cézar Belmont.

- Em vez de pegar a via A1 e E19 eu peguei a via N2, agora uma viagem de 3 horas está durando 4 horas e 30. Já estamos em Bruxelas, mas esse trânsito não ajuda a chegar no terreno que o circo alugou.

- Dormi esperando que estar no carro com você fosse apenas um terrível pesadelo. - admiti, tentando dormir de novo, sem sucesso. Bati minha cabeça no vidro ao tentar.

- Adivinhe só: não é. Sinto muito desapontá-la. - falou, abrindo seu sorriso mais cínico. - Agora me conte, o que houve com Gabriela?

- Não estou com vontade de conversar com você. - fechei a cara.

- Por favor, conversar vai me tirar o estresse! Como eu odeio dirigir na Europa. - ele diz, observando a quantidade de pessoas em sua frente. 

- Por que eu seria responsável por tirar um estresse naturalmente seu? Não tenho nada a ver com isso. - eu forço um sorriso.

- Por que eu ainda estou dirigindo esse belo Porsche Vermelho e posso bater acidentalmente. Minha sanidade também se estende a sua segurança. Se eu não estiver bem, eu bato o carro. - fez uma voz dramática.

- Você acha que eu tenho medo de morrer? - indaguei, provocando.

- Claro, é jovem, bonita, tem muita coisa para  viver e aprender ainda. - Cézar me respondeu, mas só consegui memorizar a palavra bonita.

- Você me acha bonita? - questionei, tentando segurar o riso. - Já me disse um vez que não via beleza em mim...

- Você seleciona o que houve? - ele rebate, olhando para os dois lados da rua. - Você é tão irritante, Adeline. Não sei se prefiro que esteja acordada, dormindo, inconsciente ou longe, com distância de 40 km.

- Você queria conversar comigo, estamos progredindo, não acha? 

- Já me cansei de conversar, agora eu só quero... Conduisez dans la bonne direction! (Dirija na direção certa!) - ele gritou, para um rapaz no outro carro. - Só quero chegar nas tendas do circo, tomar um bom banho e evitar contato com qualquer pessoa até amanhã.

- O que tem amanhã? - questionei, com a cabeça nas nuvens e os olhos nas paisagens de Bruxelas que tiravam o folêgo mesmo vistas pela janela de um carro.

Cézar suspirou alto, indignado com minha pergunta.

- Ela não sabe onde trabalha, céus! - ele olha para cima. - O circo. Vamos treinar durante um dia quase inteiro e ao anoitecer, vamos abrir. Eu estou tentando ser tolerante, mas você não me dá escolha.

- Me desculpe, fui chamada em cima da hora. Vou demorar para me acostumar com isso. - resolvi não falar mais nada. Ele parecia ter aceitado minhas desculpas e por hora isso ia servir. 

Ficamos quietos por um tempo, até que entramos em uma rua que cortava para o terreno do circo. Resolvo quebrar o silêncio:

- Mas quem raios diz: odeio dirigir na Europa? Só gente rica mesmo, que já dirigiu em outros países. Eu nem carro tenho e você tem um Porsche. 

- As coisas no circo vão bem. Estamos faturando e ainda que gastemos  com comida, impressões dos bilhetes, funcionários e todas as outras burocracias, eu sempre consigo juntar um bom dinheiro. Os funcionários também ganham bem, eu diria. É claro que sou a atração principal e... - fiz ele parar, tive que interromper.

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