Capítulo 10

109 14 5
                                    

Eu estava irritada demais para voltar a me concentrar. Entre os minutos que se seguiram, eu passei a questionar por que raios eu me submeti a um emprego como esse. Jamais reclamaria das condições do circo, eles vivem bem e em boas condições aqui, mas sim de sua péssima administração. 

O pai de Cézar não pode deixar o filho comandar com mãos de ferro enquanto ele se encontra com sócios e organizadores. O filho dele claramente não tem a menor noção do que é comandar um lugar com o menino de paciência que é exigido de alguém.

O pior de tudo, para mim, foi quando Cézar tocou no assunto dos meus pais terem me abandonado. Não sei se foi acidental ou proposital, mas o fato era que aquilo me doeu. Doeu mais do que eu gostaria, mais do que eu deveria sentir. Me dilacerou por inteira, e aconteceu a tanto tempo que eu não deveria sequer me importar, mas eu me importava. Eu culpo eles e sua irresponsabilidade pela situação que estou agora. 

Dias atrás eu estava desempregada, tentando ajudar minha amiga grávida quando eu mal podia comprar um café. Hoje, empregada, eu não podia pagar um milk shake e todas as minhas economias serão para Gabriela. Eu não reclamo de ajudá-la, mas eu poderia estar muito melhor financeiramente, se meus pais tivessem me dado mais apoio.

Ainda sim, eu tinha uma meta que gostaria de cumprir. Eles negligenciaram minha criação por um tempo, e isso era fato, mas eu ainda podia mostrar para eles que eu teriam sucesso na vida futura. Poderia fazer do Clair de Lune um lugar incrível por minha causa. Poderia enfim, mostrar para os meus pais o quanto eu deveria ter sido apoiada.

Eu ainda tentei treinar um pouco, mesmo com a irritação que Cézar provocou em mim. Eu não gostava de como ele me fazia sentir, não gostava de como eu parecia ter sentimentos tão vulneráveis a ele. De toda forma, eu estava empregada, e um emprego gera muitas responsabilidades. 

Eu precisava dar um show, um grande espetáculo, nada podia me atrapalhar.

Nada....

- Adeline? - ouvi uma voz masculina me chamar e me desconcentrei no ensaio, de novo. Era o pai de Cézar. Aparentemente essa família gosta de assustar as pessoas e atrapalhar seus afazeres.

- Sim, senhor Belmont. - Me coloquei firme e ergui a postura, para falar com meu chefe, o dono deste circo. Eu não tinha medo de Cézar, mas o senhor Belmont era um homem imponente e que poderia facilmente me demitir, num estalar de dedos.

- Eu fiquei sabendo, senhorita Lamartine, que você e meu filho tiveram uma discussão. Alguns, próximos deste local, ousaram dizer que vocês quase se beijaram.

- Sernhor Belmont, nós brigamos, isso é um fato, mas eu jamais beijaria seu filho. Ele definitivamente não faz o meu tipo. - eu respondo e o pai de Cézar arqueia a sobrancelha, surpreso. Não deviam ser esses os humores que ele ouvia pelas tendas do circo.

- Bom, eu só queria lhe avisar que meu filho Cézar é extremamente mimado, e ese acha o dono da razão. Portando, se ele brigar com a senhorita, revide, e mostre para ele que não tem medo dele. Jamais se humilhe pelo meu filho, sei bem a criatura chata e pedante que ele se tornou.

Suspirei aliviada. Uau. Achei que levaria uma bronca.

- Pode ficar seguro de que eu jamais deixarei seu filho me comandar, Sr. Belmont. - eu disse convicta.

- A propósito, Adeline. Você e meu filho tem algumas desavenças certo? Ouço conversas sobre vocês brigarem, se beijarem, virem juntos e sozinhos de carro para as instalações do circo. Mas você me diz que ele não faz o seu tipo, correto? - afirmei com a cabeça e ele prosseguiu. - E  jamais conseguirão se dar bem?

- Eu não diria jamais, senhor Belmont, mas seria muito difícil para mim conviver com seu filho sempre.

- Entendo.... - ele começou a andar de um lado para o outro, e aquilo estava me deixando terrivelmente nervosa. - Bom, você sabe, nesse mundo capitalista nós temos que ser rápidos e muito espertos. E toda essa história de vocês me deu uma ideia, Adeline. Eu mandei essa ideia para você por contrato e fiz questão de frisar a Cézar de que se você aceitasse após ler o contrato, e eu frisei também que você deveria ler, ele teria que arrumar uma forma de se reconciliar com você, ou tudo seria um grande desperdício.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Apr 12, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

BalletOnde histórias criam vida. Descubra agora