ㅤsixteen︱imprisoned

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Jim Hopper estacionou sua caminhonete defronte as portas da escola de Hawkins, por onde Jane havia saído há pouco. O comissário estava absolutamente desorientado, a ponto de ter se perdido naquela minúscula cidade cinco vezes — o que era tecnicamente impossível, pois ele havia nascido e crescido lá. Seus dedos tocavam cadenciadamente sobre a superfície do volante, e seus olhos intercalavam entre o retrovisor e a garota que seguia até ele; um de seus sinais mais claros de preocupação. No caso dele, podia-se considerar mais como um conflito interno. Martin o colocara em um contexto complicado, ele havia coagido o homem a escolher entre as pessoas que mais estimava. Hopper sabia que, se quisesse possuir outra vez sua menina, era preciso desproteger Jane, expô-la a algo muito pior que aquela complexa decisão. Muito mais irremissível e terrível.

"Trate de fazer bem seu mísero trabalho, xerife."

E a tal menina adentrou o carro, batendo a porta e tirando o delegado de seu mundo de complicações. Ele então, sem tirar os olhos dos nós de seus dedos alvacentos, rumou em direção a seu velho casebre. Jane tinha os pensamentos distantes; totalmente focados em Troy Harrington, o único contendo a capacidade de destruir seu plano extraordinário. Tudo bem, assumamos, não era tão genial. Contudo, ao notar a fumaça de fumo pelo ar, ela encarou Hopper com revolta, sendo absorta de seus pensamentos também.

— Você quebrou sua promessa. — reclamou Jane, cruzando os braços e recebendo um longo suspiro do comissário.

— Eu não faço promessas. — respondeu ele, fingindo não ter nada a ver com aquilo.

— Lembra-se do dia em que voltávamos do consultório do dr. Owens? — a menina franziu as sobrancelhas, vendo árvores passando velozmente pela janela. — Promessa é algo que não pode ser quebrado, sabe disso. Você é meu amigo, e eles não as quebram assim, simplesmente. Sem razão alguma.

— Pessoas mudam, e promessas acabam por serem quebradas, Jane. — Hopper sussurrou. — Hoje não foi um dos meus melhores dias, entenda.

"Se a quer de volta, certifique-se de que aquela menina não será exposta."

— Se não for cumprir, não prometa. Promessas quebradas quebram corações também. — falou Jane. Não era preciso esforço para notar que ele omitia algo importante, e ser privada de uma informação que parecia tão séria a provocava cada vez mais curiosidade.

— Me desculpa, sei como isso é ruim. Sabe, eu fazia isso com Diane. Ela ficava tão furiosa, às vezes me perseguia com aquele telefone que compramos há séculos na Melvald's, ameaçando ligar para Florence e convencê-la a contar o que quer que eu escondesse. Adorava esses momentos, adorava perturbá-la, começar uma discussão boba por motivo nenhum e mais tarde nos ver lá, brincando com Sarah e... contando histórias para ela. — o comissário sorriu, por um instante se alegrando com a lembrança. — Você vai ser recompensada, Jane. Vai saber do que isso tudo se trata, e o que realmente anda acontecendo. Eu prometo, prometo de verdade.

— Algo te impede de me contar? — Hopper simplesmente aquiesceu. — É tão terrível ou confidencial assim?

— Não é tão mal. — a menina recostou a cabeça na janela, fechando os olhos e enchendo seus pulmões de ar. Jane se perguntava por que todos achavam que ela era indigna de confiança. Eles podiam negar, talvez, mas isso não mudava o fato de que ela era sempre a última a saber das coisas. — Posso te dar um conselho?

— Pode.

— Torça para que você demore a saber o que é. — e ao som de Jim Croce, eles percorreram todo o caminho. Quietos, mas de mentes perturbadas. Jane estava contente por ter tido seu primeiro dia de aula, por ter reencontrado seus amigos e por não detestar tanto Maxine como antes. Mas tudo seria melhor se Jim Hopper a dissesse o que realmente se passava com ele.

O que aquele comissário tinha, afinal, com a prezada confiança? Ela sabia que algo sério acontecia, e dizia à si mesma que em algum momento descobriria. Pensava que talvez devesse pressioná-lo mais um pouco. Entrementes, o homem dava continuidade àquele mesmo conflito. E se o plano de Martin de fato desse certo, e ele pudesse ter enfim suas duas garotas? Ambas sob o mesmo teto, em segurança. Libertas enfinamente de um sujeito tão terrível. Hopper havia sido desesperançoso por tanto tempo, não tendo razões para querer dar prosseguimento à sua vida como chefe de polícia, pensar em ser alguém melhor; mas ele agora tinha duas.

E então, ao alcançarem seu destino, os dois desceram da caminhonete, incapazes de encarar um ao outro. Assim que entraram no casebre, se dirigiram a locais distintos — Jane para seu quarto, e Hopper ao telefone. Desejava saber quanto tempo levaria até os testes de sua filha serem concluídos. Para saber quando deveria agir.

Sarah estava viva, e nada mais importava para ele. Esforços não seriam medidos para recuperá-la; isso talvez incluísse a liberdade de Jane.

300.

505 days ˓ milevenOnde histórias criam vida. Descubra agora