ㅤseventeen︱blackmail

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A fúria de Jane para com o comissário ainda se estendia, e seria assim por um bom tempo, pois para ela não era fácil perdoar tamanha falta de confiança. A menina, como todos os outros dias, tinha a cabeça recostada na janela, os pensamentos em Troy e uma curiosidade, antes tremenda, sendo reduzida aos poucos. Hopper havia feito uma ligação naquela madrugada, e foi sorrateiramente ouvido por ela. Jane perdeu as contas de quantas vezes se perguntou coisas como "quem ligaria em um horário tardio como aquele?", ou "por que ele estava tão inquieto?".

Não lhe parecia bom, mas também não parecia algo que ela deveria saber. Ela resolveu se manter quieta, não se intrometer ou o sobrecarregar com perguntas, embora tivesse muitas. Hopper nunca as respondia, de nada adiantaria. Mas não a restou muito tempo para pensar naquilo, dar continuidade ao seu raciocínio, porque a caminhonete do homem havia sido estacionada em frente às portas da escola de Hawkins.

— Tenha uma boa aula, Jane. — falou ele, tão distante que não parecia estar presente lá sequer de corpo. Toda aquela vagueza intencionalmente a feria.

Após descer de seu automóvel, não demorou para que seus amigos a localizassem, indo até ela e a encarando com um olhar assustadoramente acusativo. Eles estavam totalmente determinados a descobrirem cada minucioso detalhe sobre sua amiga.

— Temos algumas perguntas a serem feitas, Jane. — falou Michael, em um tom que a deixou desconfortável. Porém, ela não os questionou. Apenas suspirou com alívio ao ver que, antes de ser empurrada para dentro do edifício, Hopper havia partido tempo suficiente para impossibilitá-lo de vê-los.

A menina foi colocada sobre a arquibancada, na quadra de esportes, sendo cercada pelos meninos e Maxine. Jane não fazia ideia do que viria a seguir, mas, apenas por suas expressões, sabia que não era algo que apreciaria.

— Como se chamavam os seus pais? — questionou-a a ruiva, recebendo um suspiro da amiga. Suas mãos se mexiam, tão inquietas quanto ela própria.

— Você tinha amigos em Bloomington? — indagou o Henderson.

— Qual a sua ligação com waffles, Jane Hopper? — perguntou Lucas com ressabiamento, tornando todos os olhares para si. — Que há com vocês? É importante sabermos!

— Por quê? Por que tantas perguntas? — disse a menina interrogada justamente por seus amigos, confusa com a repentina sequência de questionamentos. Estava com medo do que quer que eles planejassem. E se a tivessem descoberto?

— As responda, Jay! — brandiu a Mayfield, largando o esqueite que estava em seus braços ao piso, tendo como objetivo assustá-la. Seus dias ainda não eram dos melhores, e tudo o que ela menos precisava era de dúvidas acumuladas. Maxine descobriria onde a antiga amiga dos meninos estava, independentemente do preço que pagaria por aquilo.

— Jay? — eles bufaram, desejando que a menina fosse direto ao ponto. — Eu não conheci meus pais. — depois de algum tempo, ela falou finalmente, evitando de todas as formas possíveis trocar olhares com qualquer um à sua frente. — Eles faleceram em um acidente, Hopper é como um substituto para mim.

— Já ouviu sobre o dr. Brenner? — e a menina se viu obrigada a franzir as sobrancelhas, de fato não compreendendo Mike. Jane não o conhecia por aquele nome. — Departamento de Energia? Laboratório de Hawkins? Armas e russos, Jane!

— Do que é que você está falando? — ela inclinou levemente a cabeça, como quem está confusa. — Meus pais se foram, eu me mudei de Bloomington e agora moro com Hopper. Qual a relação disso tudo comigo?

— Não... não é nada. — o Wheeler coçou a nuca. — Eu só pensei que talvez, quem sabe, isso pudesse recordá-la de algo.

— Tudo bem. — Jane abriu um sorriso, realmente satisfeita com sua atuação. Mas se sentia em meio a um clima tão estranho, eram ruim falar sobre seu passado. Entrementes, William mal acreditava no que havia saído dos lábios da amiga, ele estava total e completamente inconformado. Amigos não mentem, ele pensava. Mas não esperava que a menina de fato o ouvisse. — De qualquer forma, eu já tive amigos. Só... só que precisei deixá-los. — ela suspirou, sabendo que todos no local se puniam mentalmente por tê-la questionado algo do tipo. — E, não que eu considere isso algo importante, nem válido, mas gosto muito de waffles, Sinclair.

505 days ˓ milevenOnde histórias criam vida. Descubra agora