Outra amizade.

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(Bianca)

Acabei abrindo a boca do mesmo jeito que Lilie. No meu caso era por não acreditar que alguém estaria andando pelo prédio àquela hora, tirando eu e ela.

_Você deve ser a novata, eh?_Ele segura a porta do elevador._Prazer, Lucas.

_Sou Bianca._Aperto a mão livre que ele estendeu pra mim.

_Bom, até mais.

Ele sorri e vai embora. Lilie ainda estava parada que nem uma boba. Empurro a mesma pra dentro do elevador.

_Ele. É. Muito. Lindo._Ela diz pausadamente._E você chamou a atenção dele. Sei bem como os homens olham pras mulheres quando tem interesse nelas. Por que não dá uma chance a ele?

_Acho que você é mais louca do que imaginei. Não posso dar chance a ninguém e quem iria querer uma grávida?_Solto sem pensar.

_Você está grávida?_Ela parece não acreditar. Me chamo de burra internamente por ter soltado isso sem querer._Cadê o pai do bebê?

_Te conto a história quando estivermos tomando café, oui?

Saímos do elevador e seguimos para o apartamento da Lilie. Ela é morena, possui um piercing no nariz e usa argolas penduradas nas orelhas. Tem um sorriso bem alinhado e um bom humor invejável. Vai ser legal ter alguém aqui pra me ajudar a conhecer a cidade e pra conversar também. Sento no sofá e fico esperando ela fazer o café. O que vou fazer da minha vida agora?

_Toma aqui._Saio dos meus pensamentos ao vê-la estendendo uma xícara média pra mim._Acho que a madrugada vai ser longa. Pode falar.

Provo um pouco do café e pra mim tem um gosto diferente. Um diferente bom. Começo a contar um pouco da minha vida, pausando pra recuperar o fôlego por que não é fácil narrar sobre essas coisas.

_Você quer se esconder dele, eh?_Ela pergunta levando nossas xícaras pra pia._Acha certo?

_Sim, muito. Ele iria me humilhar se eu ficasse, ou pediria pra eu abortar, sei lá. Ele ficou um pouco traumatizado pela morte da nossa filha, mas não quis ser ajudado por ninguém.

_Você pretende morar pra sempre em Montreal?_Ela volta a sentar perto de mim.

_Não, o contrato que assinei vale por seis meses. Quando acabar, talvez eu vá pra França ficar junto da minha mãe. Não posso cuidar de um bebê sozinha, preciso da minha mãe.

Conversamos mais um pouco e então resolvi voltar pro meu apartamento. Marcamos de fazer compras mais tarde, eu realmente preciso. Coloco uma camisola por baixo do roupão, ligo o aquecedor e tento dormir. Mas não consigo. Não paro de pensar em como as coisas ficaram no Brasil.

...

Abro os olhos me dando conta de que adormeci mais rápido do que imaginei. Me espreguiço tentando jogar a preguiça de lado e me levanto pra cuidar. Depois de pronta, vejo que já passou da hora de almoçar. Pego minha bolsa e saio de casa. Encontro o tal Lucas indo em direção ao elevador, me junto a ele.

_Bianca, eh?_Ele pergunta quando aperto no botão no painel.

_Oui.

_Vai visitar a cidade? Montreal tem vários pontos turísticos. Fiz daqui minha cidade natal.

_Não, vou só almoçar. Tive nem tempo de arrumar minha casa direito, quanto mais ir visitar pontos turísticos._Ele sorri ao me ouvir._Quem sabe por esses dias...

_Sou dono de um restaurante aqui próximo. Se quiser me acompanhar..._A porta do elevador se abre._Caso queira, lá tem o menu brasileiro que é divino.

Acabo aceitando e indo com o Lucas até seu restaurante. Eu iria ter o trabalho de procurar um restaurante e depois tentar pedir algo que eu não fosse vomitar no prato. Não sei nada da culinária daqui. Não vou arriscar.

_Você parece ser divertida._Ele comenta quando entramos no seu carro._Estou errado?

_Já fui uma jovem muito divertida._Respondo com um pouco de pesar._Mas meu ex-marido destruiu esse meu lado.

_Divorciada?

_Quase lá.

Não demorou nem cinco minutos direito e logo me deparo com um restaurante não muito grande, mas bem acolhedor. Eu e o Lucas conversamos bastante, fazia muito tempo que eu não conversava tão abertamente com as pessoas. Senti falta.

_Vem, vamos entrar._Ele segura em minha mão e sai me guiando._Essa mesa é ideal pra você, perto da janela pra se caso enjoar do cheiro das comidas.

_Obrigada, Lucas.

Ele me deixa olhando o menu brasileiro e some provavelmente indo pra cozinha. Observando atentamente o menu, vejo que tem realmente muita coisa brasileira. Imagino o quanto deve ser difícil encontrar certos ingredientes. Um garçom me aborda e então escolho o típico feijão, arroz, bife e batata. Fico perdida observando a rua pela janela, é tudo tão diferente.

_Imaginei que fosse querer o comum da culinária brasileira._A voz de Lucas me faz olhar para frente._Tomei a liberdade de pedir o mesmo pra mim e te acompanhar.

_Sinta-se à vontade._Sorrio encarando o lindo prato._Estou sozinha mesmo...

_Não mais.

Comemos conversando mais um pouco sobre a vida. Acabei descobrindo que Lucas é formado em gastronomia, tem esse restaurante há 3 anos e é solteiro. Por ser sozinho, optou morar em um prédio tomado por brasileiros. Ele gosta de se sentir em casa, acolhido. Seus pais adotivos estão na Tailândia em uma especialização culinária.

_Sua vida deve ser bem corrida._Comento apreciando a batata frita.

_Um pouco. E você? Planos pro futuro?

_Até agora meu único plano é ter meu bebê em paz._Bebo um pouco do suco._Não tenho grandes ambições pro futuro.

_Acho que está faltando um pouquinho de diversão nisso aí, eh?_Ele sorri, que sorriso contagiante!_Topa sair comigo hoje à noite? Prometo que vai ser divertido.

Que mal tem né? Tô fazendo nada mesmo...

_Tudo bem. Só é me dizer a hora que vai passar no meu apartamento.

Ficamos conversando mais um pouco e por fim ele trouxe brigadeiro como sobremesa. Vale ressaltar que ele não me deixou pagar a conta, disse que é cortesia. Ainda me levou pra comprar um chip novo pois o meu não pega aqui. Deixou-me na frente do prédio e voltou pra trabalhar.

Que evolução, dona Bianca!
Dois amigos em tão pouco tempo. Maravilha.

***

Tentando recomeçar - Duologia Recomeço  Onde histórias criam vida. Descubra agora