12 - Fetiche part 2 (FINAL)

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Taehyung e eu marcamos de nos encontrar daqui uma hora. Fui até o banheiro, escovei os dentes e lavei minhas mãos com o sabonete liquido, o cheiro de pitanga emanava no ar do banheiro úmido e a tarde nublada prometia chuva mais tarde.

Deixei um bilhete na geladeira, para que quando Namjoon acordasse soubesse de meu paradeiro. Respirei fundo e coloquei meu boné. Peguei a chave do carro e desci.

Chegando no café onde havíamos combinada, reparei o quão pacata aquela cidade era, dois quarteirões dali era a conveniência onde conheci Jimin. As raízes das memorias nunca morrem por completo, sempre tentando achar um jeito de brotar novamente, em busca de um raio de sol e um pouco de chuva para crescerem tão alto... para depois desmoronar encima de você.

Pedi um expresso e um chocolate quente para quando Taehyung chegasse reparasse que ainda sei das coisas que ele gosta. Depois dos pedidos chegarem, agradeci a garçonete simpática e vi Tae entrar pela porta do estabelecimento, cabisbaixo e usando um moletom surrado cinzento. Seu rosto parecia cansado, os olhos caídos e tristes, a pele mal cuidada e o pouco cabelo que aparecia debaixo do capuz estava bagunçado.

- Oi. – Disse ao sentar-se.

- Oi, tudo bem? – Perguntei mexendo-me na cadeira e tentando o olhar nos olhos, pois ele só conseguia manter a visão no chocolate quente que soltava ainda soltava um pouco de fumaça.

- Hum, sim, só ando meio cansado ultimamente.

Mentira. Mas isso não me surpreende, Taehyung nunca teria a coragem de admitir estar mal.

- Inclusive, obrigado pelo chocolate quente, sabe que eu gosto.

Sorri.

- Claro que sei, sempre fazia em dias nublados como este.

Ele também sorriu.

- As coisas andam estranhas sem você por perto, fazia anos que estávamos juntos e do nada tudo se rompe... – Olhava para a janela, agora com pingos de chuva enquanto falava.

Era engraçado a forma como ele soltava as palavras de modo que fosse realmente tudo por agua a baixo... apenas aceitando o fato do fim e nunca tentando achar um caminho secreto, um caminho no qual sairíamos dali sorrindo e eu voltaria para a casa de Namjoon buscar minhas coisas para depois voltar para nossa casa juntos. Parecia não haver esse caminho, ele parecia não esforçar-se para acha-lo. Também não sou aqueles babacas que esperam tudo de outra pessoa. Eu me esforço.

- Sabe Tae – Estendi a mão para ele sob a mesa de madeira – As coisas parecem ruins agora, mas a gente pode arranjar algum jeito de voltar a funcionar, okay? Jimin foi embora e não a nada que possamos fazer. Não é justo nosso amor acabar por causa de um adolescente problemático que ferrou nossas vidas por nada.

- Nem tudo se trata dele, Jungkook... você já deveria saber – Falou essa frase em tom de voz mais baixo do que o normal, quase como um sussurro, quase qual os sussurros que ele soltava em meu ouvido nas madrugadas frias quando eu não conseguia dormir bem. Mas não soava com a delicadeza que antes tinha.

E sei que de certa forma ele tem razão. Isso não aconteceu por alguém. E sim por nós. Somente nós poderíamos acabar com algo tão forte quanto nosso relacionamento de anos.

Ficamos em silencio tomando nossas bebidas, quando eu vi passar pela porta, atrás de Taehyung, eu vi Jimin. Ele andava apressado em direção a conveniência e eu o acompanhava com o olhar, apenas petrificado com o fato dele aparecer assim de repente.

- Jimin está aqui. – Disse eu paranoico, ainda fitando o olhar nele.

Taehyung virou para trás e viu também, até que ele sumiu de vista. Taehyung levantou-se afobado.

- Eu preciso falar com ele. Nós precisamos.

Levantei e segurei o braço de Taehyung com força.

- Não, não precisamos. Conseguimos seguir em frente sem ele.

- Jung...

- Tae, escolha agora, vai atrás dele... ou fica comigo.

Taehyung soltou-se de minhas mãos e como se fosse em câmera lenta o vi sair pela porta e eu apenas o deixei ir. Pegou seu carro e dirigiu até a conveniência, suponho.

Depois de poucos minutos, uma multidão de pessoas começaram a passar pela porta e então fui ver o que tanto os chamava a atenção.

O carro de Taehyung estava destrocado, batido em um poste, uma esquina antes da conveniência. Corri até chegar perto. Os fios do poste haviam se soltado e caíram no chão emitindo eletricidade nas poças de agua da calçada que carro tinha invadido.

Olhei para a conveniência e Jimin estava no caixa, ao lado de um homem velho e logo em seguida saiu com uma garrafa de vinho nas mãos e então, olhou ao redor e reparou no amontoado de pessoas ao redor do carro, veio ver o que ocorrera, seus olhos encontraram os meus e sabendo do pior, eles se encheram de lágrimas simultaneamente com os meus. Ele soltou a garrafa de vinho das mãos e veio correndo em minha direção. Olhou para dentro do carro e imediatamente tampou sua boca com as mãos e chorando veio parar em meus braços.

- Porque?

- Ele queria te ver... Te escolheu.

- Não é justo, isso sempre foi entre eu e você – Falou fungando e apertando o rosto no meu ombro.

- Eu sei. Entretanto eu o amava tanto... E ele simplesmente queria os dois.

- E porque não os dois?

- O amor é mais finito do que parece, Jimin. Não para a pessoa que você realmente ama, mas quando se trata de outras, sempre é sobre escolhas.

As sirenes da ambulância invadiram nossos ouvidos, a chuva caia com mais força, nossos corpos estavam ensopados de agua, mas o de Taehyung de sangue.

Tudo isso, desde o conhecimento da existência de Jimin, ali naquela conveniência, até o acidente que agora ocorreu, foi baseado em escolhas.

Tanto que meses se passaram desde o funeral e tomei as escolhas de comemorar o aniversario de dezoito anos com Jimin, morar junto com ele e fixar um relacionamento sério. Sem olhar para trás, igual Taehyung quando saiu pela porta do café em direção a morte, nunca foi em direção do amor que já estava em sua frente. Ele sempre quis mais e mais. Desde que o conheci de verdade naquele baile de mascaras. Sempre egocêntrico e narcisista.

Entretanto isso foi um dos motivos pelos quais sempre estive junto a ele. No final todo ser humano quer mais. Todos querem se sentir amados sem fazer nada em troca, ninguém consegue simplesmente pegar o amor e acolher-se junto a ele, sempre querem por o amor a prova de várias situações. Testá-lo para ter certeza de que é real. Porque no final a insegurança é uma característica de todo mundo. E por isso eu juro que eu lhe entendia. Juro.

Mas agora Taehyung morreu. E não há nada que possamos fazer.

Taehyung Morreu | JIKOOK & TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora