Capítulo 14

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Os dias voltaram ao normal. O braço de Afonso ainda estava longe de estar completamente cicatrizado, mas o namorado de Amy já consegui fazer alguns movimentos com o braço, apesar de ter sido obrigado a ficar cada vez que os outros saiam à procura de alimentos ou água.

Por muito difícil que parece-se, a rotina normalizou-se, entre matar uns zombies a mais, outros a menos.

"Amy, como costumavas passar o natal?" Beth perguntou, faltava um dia para  a véspera de natal e as duas estavam no ponto de vigia, no turno da noite, e a loira queria conversar, sentir que realmente a vida que ela tinha antes realmente existiu, porque tudo o que ela tinha agora eram apenas memórias longínquas e nubladas sobre como as coisas eram.

"Na casa da minha avó, com toda a gente. Sempre fomos uma família muito unida, estávamos juntos várias vezes durante o ano, mas no natal era sempre especial. Era sempre tão divertido, todos tinham sempre as mesmas histórias para contar, as gargalhadas eram constantes e era sempre uma grande confusão na hora de abrir as prendas, mas era tão bom, tão real" Amy contou, um pequeno sorriso brincava nos seus lábios pelas memórias que atravessaram a sua cabeça, mas que a mesma mandou embora tão depressa como chegaram porque ficar agarrada ao quanto foi feliz não era de todo algo que ela queria fazer.

"Eu passava na fazenda, com o meu pai, o meu irmão e as minhas irmãs mais novas. Era-mos só nós. Decorava-mos a casa toda, o meu pai e o meu irmão matavam sempre um dos perus que tinha-mos criado o ano inteiro e cozinhavam para nós e as meninas preparavam sempre uma pequena dança e cantavam uma canção apenas para nos entreterem. Os presentes eram poucos, éramos pobres, mas conversava-mos e jogávamos jogos a noite inteira." Beth suspirou, o seu olhar perdido nas estrelas, quase como se a pedir para que, se ela fechasse os olhos, pudesse voltar aquele tempo "Ainda consigo sentir o cheiro da casa. Nós esperávamos ansiosamente pelo natal, era a nossa época preferida. E não era por causa dos presentes. O meu pai ganhava um entusiasmo diferente, passava-mos por todos os vizinhos das redondezas a desejas um feliz natal e dar alguns ovos e o meu irmão vinha finalmente a casa da tropa. O natal sempre foi tão importante, e agora é apenas mais uma noite que não têm o mínimo de sentido." Beth não estava em lágrimas, mas Amy poderia jurar que conseguia sentir a tristeza e saudade na voz da loira, e queria, mais do que tudo, dar à loira um pouco daquilo que ela vivia. Então a cabeça de Amy começou a trabalhar, e decidiu que, no dia seguinte eles teriam uma noite de natal. 

-x-

"Okay, a Beth está lá fora com a Sofia a fazer exercícios, então é o melhor momento para falar-mos disso." Amy estava sobretudo entusiasmada. Ela queria fazer aquilo, trazer alguma normalidade e lembranças da vida antiga para a nova vida que eles tinham. Algum incentivo, que se eles quisessem, nem tudo tinha morrido.

"Passa-se alguma coisa com ela?" Daryl indagou preocupado

"Não, mas nós vamos fazer algo acontecer." Ela fez uma pausa olhando para todos, que estavam expectantes por o que Amy queria fazer. "Percebi ontem que a Beth sente falta do natal mais do que tudo, era algo muito importante para ela e para a família dela. Sei que estamos muito em cima da hora, mas acho que conseguimos ir até à vila mais próxima e procurar efeitos de natal numa casa, assim como tentar arranjar algo mais... sofisticado para cozinhar-mos, de preferência, peru."

"E têns a certeza que vale arriscar por isso?" Dave perguntou, porque era sempre um risco, saírem de casa para ir à procura de algo que eles realmente não precisavam.

"Eu acho que nós precisamos de nos lembrar que continuamos a ser pessoas. Que o mundo continua a rodar e que nada disto vai melhorar, porque não celebrar-mos algo que fazíamos antes? Não temos as nossas famílias ou as pessoas com quem costumávamos passar esta noite, mas estamos nós, estamos vivos, então podemos continuar a festejar o natal e ter alguma emoção." Amy estava séria, ela faria aquilo sozinha se for preciso. "Eu não vos vou obrigar, irei sozinha se for preciso, mas digam-me algo, se não sentirmos nada, do que vale estarmos vivos e a lutar para permanecer assim?"

Who Will Survive? 3ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora