# 15 Herança

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Mhysa corria dos carniçais como se isso lhe custasse a vida, e poderia lhe custar de fato, Rubky tropeçou em uma pedra no chão, mas se manteve em pé com a ajuda de Elric, olhando logo a frente Mhysa encontrou um portão em forma de grades. A garota o abriu com força, e fez um gesto com as mãos para eles entrarem. Depois que entraram Rubky apontou sua varinha para a porta e uma tranca mágica apareceu.
- Bom... Agora estamos seguros. - Disse ele aliviado.
Mhysa sabia que isso não seria o bastante para impedi-los, mas talvez fosse o bastante para retarda-los.
Elric encontrou um pedaço de tronco em cima da mesa velha, caindo aos pedaços. - Rubky, uma ajuda aqui por favor.
O feiticeiro ergueu sua varinha e o pequeno tronco virou uma tocha, ele a levantou e conseguiram enxergar um salão, que se estendia até onde os olhos enxergavam, várias pilastras
Com escrituras anãs, possuiam candelabros escuros, apagados com o tempo, uma outra mesa maior no centro, que continha pergaminhos velhos, e velas apagadas. Rubky pisando com cuidado sobre alguns esqueletos, tirou o bracinho de um corpo que estava jogado perto de um pilar, e pegou o grimório que ele segurava. Limpou a poeira e guardou com cuidado em sua bolsa.
Mhysa pegou uma flecha velha que estava em cima da mesa, passou seu dedo devagar sobre a ponta, e o sangue escorreu pelo seu dedo indicador, olhou as runas que percorriam por toda a parte e guardou em sua aljava.
Elric com sua espada em mãos, andou pelo fim da sala e encontrou um pedestal, com um furo no centro e algumas escrituras
- Rubky! - Gritou o paladino, e um eco assolou o lugar. - Consegue ler isso?
Rubky passou as mãos nas escrituras, olhando com curiosidade. - Um sacrifício deve ser feito para que só então o invisível apareça. - Leu o feiticeiro. - Para passarmos,devemos sacrificar algo.
- O quê? - Perguntou Mhysa.
- Eu não sei, alguém por acaso tem algo para ser sacrificado?
- Eu sacrifico a minha espada. - Elric tirou sua espada de prata fria que encontrou na sala do minotauro, e enfincou com força no meio do pedestal.
As escrituras começaram a girar, e a espada começou aos poucos virar pedra, até chegar nas mãos de Elric, e foi subindo, o paladino estava com metade do corpo petrificado e continuava a subir.
- Elric! Solta a espada!
- Não dá! - Gritou ele, sendo sufocado, até seu rosto virar pedra assim como o seu corpo inteiro.
- Elric!! - Trovejou Mhysa. - Eu não acredito! Rubky, não devia ter deixado ele fazer isso!
- Eu não sabia o quê iria acontecer!
- Deveria saber! Que tipo de mago você é?!
- Ainda sou um feiticeiro.
- É tudo a mesma coisa! Pelos Deuses! E agora?
Enquanto Mhysa soltava sua fúria, parte da parede desceu, como uma porta secreta, Mhysa olhou e entrou dentro da pequena sala, Rubky a seguiu, no final tinha uma porta, guardada por uma estátua, uma estátua bizarra, com um corpo de um grifo,mas segurava um longo arco, com mãos humanas e sua cabeça lembrava a de uma esfinge, com um talismã em sua testa, quando chegaram mais perto da estátua, uma porta em forma de grade desceu na entrada, impossibilitando eles de voltarem, e os olhos da estátua se abriram. - Ninguém poderá passar!

- Pela honra de meus irmãos, pela honra do meu povo, eu, Fhorturin das minas da forjatura, irei acabar com você! - Trovejou.
- Não me faça rir. - Disse o guardião sem emoção na voz. - Vou destruir você assim como fiz com Framyr e toda a sua linhagem.
- Então foi assim que conseguiu esse machado?!
- Framyr o Grisalho me matou durante a rebelião dos povos bárbaros, mas eu não podia perecer assim, então meu mestre me trouxe de volta a vida, para extinguir Framyr e seu povo, e foi isso que eu fiz, e será isso que farei com você também!
A boca de Fhorturin espumou de raiva. - Você não tem a honra de possuir esse machado, uma das heranças mais antigas dos anões, eu não vou permitir que você desonre o nome sagrado e os feitos de meus ancestrais! - O anão correu segurando firme seu martelo de batalha pronto a acertar o peito do guardião.
- Você fala demais, já me cansei de você! - O guardião correu com o machado visando o rosto de Fhorturin.
O choque entre as duas armas, fez os dentes do anão ranger. A força do guardião era muito superior a do anão.
  Fhorturin percebeu que não podia digladiar na força bruta com esse adversário, e acabou sedendo. O guardião depois de quase o derrubar no chão, o empurrou para longe.
  - Você não tem chances senhor anão. - Disse o Guardião debochando. - Treine por mais cem anos, antes de voltar a me desafiar, não... Talvez nem assim.
   - Você está bem? - Disse Raegal levantando Fhorturin.
  - Estou, estou! - Disse o anão enraivecido. - Esse maldito é muito forte.
  - Eu sei, mas você tem que ter calma, e atacar em conjunto.
  - Não preciso da ajuda de vocês! Eu vou derrotar ele e conquistar esse machado sozinho!
   Arianna tomou a frente de Raegal, olhou no fundo dos olhos de Fhorturin e franziu a sombrancelha. - Não venha com essa teimosia agora! Você precisa aceitar que estamos do seu lado! - Disse ela em um tom severo. - Esse não é um oponente a qual você irá conseguir derrotar sozinho, somos uma companhia, e entramos aqui juntos, para enfrentarmos as dificuldades juntos. - Ela tocou sua mão suave na larga do anão. - Então deixe nós ajudarmos você, juntos... Somos mais fortes!
   Ao olhar os seus penetrantes olhos azuis, e as suas palavras, o anão, levantou. - Você tem razão. - Concordou ele puxando o longo cabelo preto Para trás.
   - E olha que eu pensei que ela só sabia dar risadas engraçadas. - Brincou Shaco.
  A elfa olhou para o Halfling, e sorriu.
   Fhorturin segurou seu martelo e ergueu os ombros, foi dando passos leves e devagar até o guardião.
  - Vamos ver se o que disse é verdade elfa! - Exclamou ele. - Comigo! - O anão correu na frente, Arianna armou seu arco e correu atrás, Shaco vestiu seu capuz e se escondeu, Raegal sacou sua espada curta e correu logo atrás.
  - É inútil! - Disse o Guardião. - Geralmente gosto de ver meus oponentes sofrerem antes de mata-los. - encarou a investida do grupo. - Mas já não aguento mais vocês! - Levantou seu machado. - Morram!
  - Bardo! - Gritou Fhorturin.
  Raegal passou de Fhorturin e Digladiou com o machado do guardião, segurou bem firme, mesmo quase sendo afundado com tamanha força.
  - Elfa! - Ordenou mais uma vez.
  Arianna atirou uma flecha especial, meio azulada. O guardião soltou uma mão do machado para segurar a flecha.
  - Segura isso! - Gritou a elfa, quando a flecha explodiu e congelou a mão esquerda inteira do guardião.
  - Maldita! - parou de forçar o machado e deu alguns passos para trás, olhando sua mão.
    Shaco aproveitou o descuido dele para dar uma pirueta na frente, e enfincar uma adaga em cada pé, fazendo com que ele ficasse imóvel no chão.
   O guardião berrou de dor, enquanto procurava o que furou ele.
  Quando olhou para frente, viu apenas um olhar penetrante olhando no fundo de seus olhos. - Você pagará por tudo que fez ao meu povo! - Trovejou Fhorturin dando uma martelada em cheio no peito do Guardião, fazendo com que as adagas que o prendiam soltassem e ele voasse metros de distância.
   - Eu vou te enfrentar, vou mostrar meu poder, sozinho sou forte, mas com meus amigos, você não tem chance, você, está sozinho, não tem poder nenhum, veja como somos mais fortes juntos.
   - Amigos... - Riu o guardião levantando. - Eu já tive amigos... Eu já tive uma família, até o seu Maldito rei anão, com sua enlouquente idéia de expandir seus domínios, destruir meu vilarejo.
   - Isso não é verdade! Framyr jamais faria isso, ele foi um bom rei!
   - Isso é o que os menestréis cantam em seus salões? Não brinque comigo, Framyr foi um assassino impiedoso..., Além de mentir para mim, quando achei que tinhamos um tratado, me apunhalou pelas costas...mas eu me vinguei dele, graças ao meus senhor, que me deu uma segunda chance...
   - Que senhor é esse? - Perguntou Arianna.
   - Ele voltará, para transformar esse mundo muito melhor do que está agora!
   - Akzarun? - Raegal disse encarando o guardião.
  - Não, alguém muito mais poderoso! Vocês não perdem por esperar! Eu vejo que tem amigos Fhorturin, e disse que eu não tenho poder sozinho, acontece que eu não estou sozinho. - O Guardião ergueu sua mão direita onde uma runa havia sido entalhada na palma de sua mão, e conjurou: Eu vos evoco Balron Rei dos espectros!! Forneça- me apoio, com a sua legião! - A runa púrpura de sua mão brilhou forte.
   Uma figura surgiu das sombras, com uma capa negra, e um rosto cadavérico, segurando uma espada com cabo feito de ossos, e a sua legião de espectros.
   - Fazia tempo que não me invocava Náinuun. - Disse o espectro com uma voz gultural e amedrontadora.
   - Não havia necessidade, mas dessa vez é diferente, não quero brincar com esses adversários, quero usar o poder total, para aniquila-los.
   Shaco chegou perto de Raegal e Cochichou em seu ouvido. - Se tudo estava ruim, agora acabou de azedar não é?
   - sim. - Cochichou Raegal de volta. - Shaco, quero que faça o quê você sempre faz, descubra a falha desse guardião, ele tem uma pele muito forte, mas é como você me disse várias vezes não é? " A uma falha em seu plano".
   - Shaco sorriu. - Pode deixar comigo!
   O espectro segurou sua espada larga e foi voando até Fhorturin, o anão desesperado ao ver essa criatura se aproximando, tentou acertar uma martelada, mas foi em vão, atravessou o corpo de Balron.
  - Fhorturin! - Gritou Arianna. - Seu corpo é intangível, você não irá atingi-lo!
  - Tarde demais! - O espectro tocou a cabeça dele. - morra! Pela minha Energia Sombria !
   Forthurin sentiu sua alma sendo arrancada de seu corpo, enquanto gritava de dor.
   Arianna levantou seu arco e criou uma flecha espectral com a mão direita. - Se afaste dele! - Gritou ela. - Flecha Fantasma! - Atirou sua flecha em cor cinzenta, ao atingir no ombro de Balron, Ele soltou Fhorturin na hora, Virou- se para ela. - Como ousa?!
  Ela criou outra flecha espectral. - A próxima será na sua cabeça! - Ameaçou.
   - Não vai! - Disse Náinuun o guardião levantando ela pelo pescoço outra vez. - Morra de uma vez! - começou a estrangula-la, enquanto Arianna segurava as mãos do guardião na esperança de fazê-lo soltar o seu pescoço, mas não tinha mais esperança, nem força para isso. Aos poucos ela foi fechando os olhos, e soltou as mãos, seu corpo ficou mole.
   - Arianna!!! - Gritou Raegal, sem saber o que fazer, enquanto vinha uma legião de espectros atacar Fhorturin, e o guardião estrangulava Arianna.
   Mas não precisou se mover no momento, pois viu Náinuun gritar como nunca Antes, o eco reverberou por toda a sala, fazendo as paredes tremerem, ele soltou Arianna e caiu com as costas sangrando.
   Raegal olhou assustado para a cena até ver Shaco tirando o capuz da capa da invisibilidade, e ver a adaga que perfurou o guardião em sua mão. Ele piscou para o bardo e correu até Arianna, tocou seu rosto e ouviu seu coração, mesmo que baixo, ainda batia. Ele mostrou um sinal de positivo.
   O bardo correu até Fhorturin que estava caído, e ficou em sua frente, olhando para a legião de espectros.
  - Se manda daí! - disse o anão rouco. - Eles vão te matar!
  Raegal olhou para seu companheiro caído, depois voltou a olhar para a legião, sacou sua flauta e seu Alaúde, fechou os olhos e quando abriu seus instrumentos tinham se tornado um grande violino - minha música hipnotiza, encanta e revela. - Começou a tocar as notas. - Atos nobres, meu doce som entra em você. Enquanto o bardo tocava uma luz, foi saindo de todos os espectros e eles se desfaziam, um por um. - Abrindo seu coração, minha música é minha alma, cada toque mostra ao próximo o quê sou capaz de fazer.
   - Essa melodia!! - Gritou Balron, não será o bastante para acabar comigo! - O espectro rei, foi chegando perto com dificuldade.
   -Meu som é belo, faz as trevas clarecer!
    - Eu... não serei...derrotado... por isso. - Resistiu até o último momento, e ficou cara a cara com Raegal.
   - O Réquiem! Canção dos mortos!
  Quando o Bardo tocou a última nota, o corpo de Balron foi se desfazendo, primeiro seu rosto, até suas vestes e por fim sua espada, até se transformar em nada.
   Fhorturin olhou para a cena e se inspirou, Raegal, aquele bardo que conhecera, havia acabado com todos eles? Se perguntava.
  Depois disso, o violino voltou a ser um Alaúde e uma flauta, o bardo ajoelhou sem forças.
   - Você está bem? - Perguntou o anão colocando sua mão no ombro dele.
   - Estou. - Respondeu ele. - Só que essa canção consome muito de mim.
   - Descanse, você já fez muito. - O anão levantou e encarou Náinuun outra vez.
   - O quê?? - Disse o Guardião se levantando. - Como esse maldito acabou com Balron e toda a sua legião, dessa maneira? E você? - Pegou Shaco pelas vestes e levantou o Halfling. - Como conseguiu achar meu ponto fraco?
   - Você... Disse que foi  traído e morto pelas costas...foi quando encontrei a cicatriz, e tinha que comprovar minha tese, se ali era realmente o seu único ponto fraco, e pelo seu grito, eu estava certo!
   - Maldito! Acho que falei demais! - Ele levantou o machado de Framyr, para dilacerar Shaco, sentiu apenas uma forte dor no rosto, e seu corpo sendo arrastado metros de distância.
  Quando se deu conta, do quê havia acontecido, viu Fhorturin com seu martelo em mãos, encarando ele.
  - Está na hora de colocar um ponto final nisso!
  - concordo!
  Os dois correram e houve outro choque de armas, o som de aço batendo em aço, reverberou pelo salão, depois de várias investidas falhas, Fhorturin olhou para o seu martelo, e percebeu que ele estava quase se partindo, mas o machado de Framyr continuava intacto, mesmo depois de tantas pancadas.
  Esse meu último golpe, eu não posso errar de maneira nenhuma, pensou Fhorturin, segurou bem o cabo do martelo, desviou do golpe do machado, tentou bater o seu martelo nas costas do guardião, mas Náinuun, foi mais rápido e defendeu a martelada com seu machado.
   - Que decepção.- Comentou o Guardião ao ver o martelo em pedaços no chão.
  Fhorturin sem esperança, ajoelhou e aceitou a derrota, não tinha mais o que fazer.
   - Isso! Ajoelhe-se, e rateije como o verme que você é! - Náinuun ergueu o machado, para dar o golpe final.
   Fhorturin olhou bem para o machado, e lembrou de seus irmãos, das minas da forjatura, sabia que esse machado era a última coisa que veria, queria um dia sentar num trono e ser titulado rei sob a montanha, e fazer seu povo prosperar como nenhum outro rei fez.
   Foi quando viu duas adagas entrando nos olhos de Náinuun e cegando-o.
   - Aaargh! - Amaldiçoou a situação e virou- se de costas, tentando pegar Shaco que estava invisível em seus ombros. - Maldito seja!!
  Fhorturin olhou para as costas dele desprotegida, mas como iria atingir aquele ponto, sem seu martelo? Olhou para os arredores, até fixar seu olhar no machado de Framyr, encarou bem a arma de seus ancestrais e ergueu a mão direita.
   - O quê é isso? - Perguntou abaixando sua cabeça para o machado. - Este machado está fazendo força contra mim!
   O machado voou até as mãos de Fhorturin, ele nunca se sentiu tão vivo, e tão forte com aquilo em suas mãos, levantou seus joelhos, deu uma pequena corrida, Shaco tirou seu capuz, ficando visível outra vez e saltou dos ombros de Náinuun, Fhorturin quando chegou mais perto deu um saltou trovejando, e com o machado de Framyr dividiu o Guardião em dois.
   Shaco arregalou os olhos, enquanto Fhorturin estava mais ofegante que um tigre. - Vem cá pequeno.
  Shaco foi devagarinho, e olhou fixamente para a mão de Fhorturin estendida para ele. - Você foi incrível! Eu não teria conseguido derrota-lo sem a sua ajuda.
  - Pensei que nunca viveria para ver você agradeçendo...posso?
  - Pode. - Disse Fhorturin querendo dizer não.
  Então Shaco pulou em um abraço, e dando tapinha nas costas. - Obrigado, por salvar nossas vidas. - Riu.
    Raegal chegou dando suporte para Arianna andar. - Vencemos? - Perguntou ela, meio lesada.
   - Vencemos Ari. - Fhorturin passou a mão no seu rosto com carinho, graças ao seu sermão.
    Ela soltou um riso torto e encostou o rosto no ombro de Raegal.
   Shaco agachou para pegar o colar com o talismã da Fênix, que o guardião carregava no pescoço, Raegal sacou o talismã da Águia que tinha pego no labirinto.
   - O que será elas? - Perguntou Shaco analisando ambas lado a lado.
   - Eu não sei exatamente, mas deve ser algum tipo de chave ou enigma, de algum lugar, para o guardião dessa sala estar usando isso...no mínimo tem que ser importante.
   Fhorturin tomou a frente, olhando encantado para o machado de Framyr, Raegal o seguiu carregando Arianna nas costas, e Shaco atrás. Ao passar da pequena porta de rochas, encontraram uma escadaria, que quase não se enxergava o topo, e por um bom tempo, eles subiram...
 
 

A Lenda do Éther e a Montanha Sombria (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora