# 8 Desavenças da estrada

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Mhysa gostava de sentir a grama fria nos pés ao amanhecer, e o crepúsculo trouxe um pouco de geada entre a grama, passeava descalça, por entre o pequeno gramado ao redor da estalagem, levando as rédeas de sua égua, ao chegar por entre o bosque, montou com facilidade em Branca e começou a cavalgar, sorria com a brisa que batia em seu rosto, se sentia livre, e muito bem, as nuvens se dispersaram e o sol matinal tocou em seu rosto pálido, ela cavalgou até cansar e quando cansou, parou e levou Branca até a floresta, encontrou um rio corrente, desceu de branca e bebeu água, estava gelada, e saborosa, Branca abaixou sua cabeça, e também desfrutou dá água. Ela caminhou e sentou em frente uma macieira, e inspirou fundo e soltou, ouvindo o barulho do riacho, encontrou um veado se aproximando e bebendo a água , ele parou e olhou para Mhysa, depois mais dois veados se aproximaram, beberam água, e foram saltitando até uma pedra quê Mhysa nem havia notado que estava ali, ela então levantou e foi caminhando até lá. Ela se aproximou e notou que na pedra estava escrito com ranhuras R+K.
- Mhysa?
Mhysa se assustou e virou rápidamente, e viu o rapaz com cabelo despenteado e a barba por fazer,e nas costas seu Alaúde. - Raegal?
- Bom dia, o que está fazendo por aqui?
- Eu estava passeando com Branca pelo bosque, e segui os veados até aqui.
Raegal caminhou e agachou em frente a pedra e a tocou.
- Sabe o quê significa esse R+K, quê está escrito?
- Significa Raegal e Keyla. - Disse o Bardo. - Foi nós que escrevemos.
- O quê? Vocês? Por quê? Como?
Raegal sentou em frente a pedra e tomou um bocado da água que estava em seu cantil. - É uma história demorada e melodramática.
- Temos tempo. - Ela disse sentando ao seu lado.
- Tudo bem. - sorriu. - Keyla e eu vivíamos em Ullurin, ela fazia parte da nobreza, e eu um mero plebeu, filho de um camponês, então aprendi a tocar, e fui cantar mais perto das cidades, cantava em tavernas e estalagens, vez ou outra fui convidado a tocar em grandes salões de Ullurin. Keyla passava pela rua e eu me apaixonei a primeira vista, e foi lá quê nos conhecemos, ela se encantou pela minha música, e me deu uns trocados, não era bem os trocados que eu queria,era seu coração, e depois da nossa conversa, ela começou a sair escondida para nos vermos, e fomos se apaixonando um pelo outro, eu queria ela para mim, queria que ela fosse minha esposa. Então eu fui até os pais dela, e pedi a eles a mão dela, mas claro eles negaram, disseram que a filha deles já tinha um pretendente, um pretendente nobre, não queriam que a filha deles se casassem com um filho de um camponês qualquer.
- Nossa quê chato.
- Eu fiquei muito triste, mas meu amor por ela não acabou, e nós continuamos a nos encontrar escondidos, ela adorava me ouvir tocar, e eu adorava ver ela lendo seus livros, e um dia, nós fomos viajar pelo mundo, passamos por muitos lugares lindos, isso antes de Akzarun e a legião atacar é claro, nós chegamos a estalagem furão Rastejante,mas tínhamos gasto todo o dinheiro no dia anterior, então viemos para cá, e eu fiz uma fogueira, enquanto ela com uma adaga escrevia isso na rocha, nós comemos,rimos, e no fim da noite fizemos amor, foi o dia mais feliz da minha vida. Então voltamos para Ullurin, e no caminho, passamos pelo templo dos deuses. - Serrou os silios e franziu a sobrancelha, olhou no fundo dos olhos de Mhysa - Malditos sejam os deuses, passamos por um templo, e um clérigo ofereceu um livro de magia para ela, keyla muito agradecida aceitou. - Inspirou bem fundo e depois soltou. - Eu era leigo, e não enxergava a maldade nos outros, muito mais de um senhor da fé, com barbas negras e cabelos longos, achei quê fosse uma boa pessoa, e foi ai que o problema começou, aquele grimório, aquele maldito grimório, deixou Keyla obcecada por magia negra, eu sabia que àquilo não era magia do bem, implorei para que ela parasse de lê-lo, mas ela já estava dominada pelas trevas, quase me matou, eu não reconheci seu olhar, estava tão frio, aquele olhar doce, suave e feliz que ela tinha, já não existia mais, e ela sumiu.
- Acha que ela está viva?
- Oh sim, está viva com certeza, está por ai, e eu vou encontrá-la.
- Eu vou te ajudar nisso Raegal, pode contar comigo, para o que precisar.
- Obrigado Mhysa, de verdade, obrigado mesmo.
- E o shaco?
- Está comendo como um porco na estalagem, por que?
- Não, como o conheceu?
- Depois quê Keyla sumiu, eu parti de Ullurin a sua procura, e encontrei Shaco perto dos ermos de Lockland, ele era um ladrãozinho, roubava para sobreviver e alimentar sua irmã, depois que sua irmã foi assassinada pela guilda dos ladrões, ele partiu de Lockland, foi ai a primeira vez que nos vimos, ficamos amigos e saímos por aí, sem rumo, sem casa, sem nada, mas uma coisa é certa, as trevas tirou tudo de nós, é por isso que queremos tanto, irmos até essa montanha, se existe alguma forma de acabar com tudo isso, e impedir que mais pessoas sofram por tudo isso, eu farei.
- Nossa Raegal, quem vê de longe nem imagina por tudo que vocês passaram.
- Já estou acostumado Mhysa, a ser subestimado.
Mhysa abaixou a cabeça e levemente tirou os cabelos lisos e negros do rosto.
- Acho que falei demais, e você? Por que quer ir a montanha sombria?
- Eu vivia em Kazandu. - Disse a garota. - com meus pais, e irmão, porém a legião massacrou a vila, todos foram mortos.
- E como você sobreviveu?
- Meus pais deram a vida para que eu ficasse bem, e eu cansei de chorar e não fazer nada a respeito, graças ao rei Grandiel de Alioth, a quem eu devo tudo, me deu forças e um caminho a seguir, devo honrar as mortes deles, e lutar contra aquilo que os mataram com tudo quê eu tenho.
- Você me entende melhor do que ninguém então, também perdeu tudo quê era mais importante.
Mhysa levantou colocou seu arco entrelaçado em seu ombro, e pegou as rédeas de branca. - Foi muito bom te conhecer melhor Raegal, mas acho melhor voltarmos, devem estar nos esperando para partirem.
- Isso se o anão tiver acordado. - Gargalhou. - Mas tem razão, vamos voltar.

A Lenda do Éther e a Montanha Sombria (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora