Ser sozinha e mãe solteira não é uma tarefa fácil.
Com o emprego por um fio e a babá negando-se a trabalhar sem o salário combinado, a situação de Amberli não é a das melhores. Na noite do feriado de 04 de julho, após seu expediente, onde ela não t...
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As cartas de cobrança não paravam de chegar por debaixo da porta, e o meu desespero mudo nunca parecia ter fim.
O choro de Hilary me desperta, repouso a xícara de chá na mesa de madeira a minha frente e vou em direção ao quarto da pequena no segundo piso. Entro no quarto rosa e azul com poucos móveis e fico diante do berço branco. A criaturinha estava até vermelha de tanto berrar, visivelmente com fome já que estava com uma das mãozinhas na boca. Sorri.
- O que a minha alegria faz acordada a essa hora hein? - perguntei a ela chamando sua atenção. Olhei no relógio em forma de flor que pus em seu quarto vendo que faltava dez minutos para dar cinco horas, da manhã.
Hilary tirou a mão da boca e sorriu mostrando-me seus dois dentinhos na parte debaixo, me fazendo derreter por dentro, tendo meu coração aquecido por alguns segundos. Ela era a única coisa importante na minha vida, era apenas por isso que eu estava viva, ela dependia de mim, assim como dependo dela.
Sentei na poltrona de amamentação abaixando o tecido do sutiã expondo meu seio para que ela mamasse, nessas horas Hilary nunca era paciente. Depois de dez minutos mamando, consegui faze-la voltar a dormir, pois eu ainda iria trabalhar, e a babá, a Loren viria em casa para olhar a Hilary, leva-la para creche, busca-la e cuidar dela até que eu voltasse para casa, quase às oito da noite, pois estava fazendo horas extra para conseguir pagar o aluguel da casa, as contas mensais e a babá, sem contar claro, com as despesas, e uma parte da mensalidade da creche ( consegui uma "bolsa" para a minha filha onde eu poderia pagar apenas trinta por cento da mensalidade total) tinha que trabalhar muito!
Às seis e meia em ponto Loren chegou com a cara inchada de sono, apenas resmungou um bom dia mau-humorado me cobrando sobre seu pagamento atrasado. Pedi desculpas e contei que não estava sendo fácil para mim também, que eu estava me dobrando ao máximo no trabalho para ganhar um pouquinho a mais. Ela apenas assentiu e foi para sala me prometendo que cuidaria bem da minha menina, pois ela era boazinha. Sorri, mesmo ela não vendo, me agasalhei e parti para o ponto de ônibus, indo trabalhar.
Sete e cinco da manhã, eu passei o cartão, e me dirigi a sala da minha supervisora, eu não tinha uma atividade fixa no emprego, eu era tipo a faz tudo, se estão precisando de alguém para limpar os vidros, eu seria a pessoa a limpar.
- Que milagre não estar atrasada hoje Amberli. - Quirá falou ao me ver passar por sua porta - Como sei que hoje também irá fazer hora extra, tenho o serviço perfeito para você. - falou com sua voz grossa enquanto olhava para o monitor do computador. Esperei ela continuar. - Hora você ira revisar os documentos de três computadores master. E também verificar se há assuntos sérios nas papeladas vindo do fax. Mas têm que ser importantes mesmo - disse arrastando o 's' da palavra, a frisando. - Pode ir - dispensou-me com um aceno de mão - Há muitas coisas a se fazer.
- Quais são as cabines?
- Cabine dezenove, nesse setor; três no setor quinze, e o quarenta no setor dezoito.
- Obrigada. - agradeci saindo de sua sala, indo para a cabine dezenove. Se ela falou esse número primeiro, era nesse que eu teria que ir.
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Meus olhos não aguentavam mais, além dele, minhas mãos, minhas pernas, e minha bunda não aguentavam mais! Respirei fundo me inclinando no encosto da cadeira, relaxando um pouco; meu consolo era que esse é o último documento, da última cabine. Olhei no relógio do monitor e vi que já iria dar oito horas da noite. Voltei meus olhos e minha atenção para o documento, e me lembrei que ainda faltava as papeladas. Sufoquei um gemido angustiado.
O setor estava silencioso, noventa e oito por cento de todos que trabalham aqui já haviam ido embora, faltava eu, e alguns funcionários da segurança, e talvez Quirá e Patrick, o chefe dela. Continuei meu trabalho.
Depois de alguns minutos, ouvi o som de passos se aproximando da cabine, mas logo pararam, quero dizer, o barulho sumiu, franzi a testa e continuei meu trabalho, que estava demorando mais do que o esperado. Que horas eu irei sair hoje?! Dez da noite?!
- Amberli!
- Oi! - gritei assustada com a abordagem, poderia apenas ter me chamado, não gritado - Oi. - respondi mais suavemente, ao perceber que era Quirá, com a feição fechada.
- Pode desligar o computador assim que acabar e ir para casa, já está tarde. Sobre as demais papeladas, não precisa se preocupar, já deram um jeito. Tem apenas eu e você aqui no prédio, os seguranças estão por aqui dando uma fiscalizada, avisei sobre você.
- Tudo bem, - confirmei acenando a cabeça - Esse está demorando mais do que o esperado.
- Certo. Boa noite. - saiu do setor.
- Boa noite.
Sai do prédio oito e vinte e cinco da noite, acenei para os dois seguranças do portão e desci a rua. Olhei de longe e vi luzes e muitas pessoas, e deduzi que a rua estava interditada pela possível festa. Atravessei a rua e virei a esquina indo para a rua anterior onde o ônibus passaria, aqui estava bem silenciosa.
Ouvi o som de algo vibrando e me lembrei do aparelho quase mais antigo que eu, na minha bolsa. Parei minha caminhada para abrir a bolsa e procurar o bendito tijolinho cinza de teclas, pois eu não sabia fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
Antes que eu sequer abrisse a bolsa direito, algo se chocou contra mim, me lançando numa parede. Perdi o ar, tentando falhamente respirar, o que foi aquilo? Olhei ao redor, mas a rua continuava silenciosa, ninguém além de mim.
- Mas, o quê? - murmurei em meio a dor abaixo do meu seio esquerdo. Ouvi o celular vibrar novamente. A única pessoa que tinha meu número além do banco, e a empresa em que trabalho era... - Loren! Ai meu Deus, será que aconteceu alguma coisa com a Hilary?! - me desesperei.
A bolsa estava perto dos meus pés, tentei me inclinar em meio da dor para ver se eu conseguia alcança-la, mas do nada a bolsa foi arrastada para longe de mim.
- Quê? - perguntei a mim mesma- O que 'ta' acontecendo hein?
- Você deveria perguntar o que irá acontecer. - alguém me respondeu. Olhei para cima e um homem estava acima de mim sorrindo.
- O quê? - perguntei como uma retardada, antes que ele me golpeasse.