Como "NÃO" Conhecer sua Esposa

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Munique, Alemanha, 1980

Severus estava fugindo de sua família e seus compromissos. Ele estava cansado da especialização em poções, entediado com toda aquela falsa empatia pela morte de sua mãe vinda dos Prince, exaurido de toda a carga que vinha da marca que ele carregava em seu braço.

Foi por isso que se atirou de cabeça quando apareceu a oportunidade de terminar sua especialização na Alemanha.

Atualmente estava procurando um apartamento pequeno e barato para morar uma vez que sua hospedagem no hotel, paga pelo programa ,estava para terminar, e ele já havia conseguido juntar algum dinheiro com a fabricação de algumas poções.

Mas naquela noite de quarta-feira, Snape estava muito ocupado em ver aquelas mulheres de roupas provocantes, bêbadas, histéricas e, aparentemente, loucas por um sexo proibido, com desconhecidos.

Havia uma em especial. Loira, cabelos levemente cacheados e longos. Olhos extremamente azuis, bem marcados pela maquiagem negra. Lábios delicados, ressaltados pelo batom marrom avermelhado.

Aquela mulher não estava a caça. Ela parecia ter ido ali apenas para beber, embora trajasse um vestido que, nela, poderia ser considerado um crime contra a humanidade. Tinha um tecido leve, de um cinza chumbo. Haviam fendas e rasgos estratégicos pela peça. E haviam os coturnos de verniz negro. O salto devia ter uns sete centímetros, mas ela não aparentava ser uma mulher de baixa estatura.

Severus ainda estava na segunda garrafa de cerveja, uma cerveja belga docinha, e a viu pedir um copo relativamente grande, com uma bebida quase transparente, com um leve tom de âmbar. Ele sabia que os Alemães chamavam aquilo de Hidromel, e era a causa mor de suas vendas de poções para ressaca. Era curioso uma mulher com algo daquele tipo nas mãos.

Snape quase teve um ataque quando a mulher, finalmente, retribuiu seu olhar, dando-lhe um bonito sorriso. Ela se ergueu de seu banquinho, deixando o barman com quem conversava a ver navios, e se sentou na mesa em que ele estava, sem deixar de sorrir.

-Olá.-Ela tinha um inglês de sotaque extremamente forte. A voz era rouca e um tanto grave. Não que algo nela parecesse ser sutil. Agora, de perto, Snape via algumas tatuagens espalhadas na pele branca.-Dominic Hoff.-Se apresentou, fazendo o homem sorrir.-Imagino que seja Severus Snape.

-É um prazer, senhorita Hoff. Posso perguntar como sabe o meu nome?

-Me atendeu no St. Mônica na semana passada. Conseguiu fazer um chá que fez minha enxaqueca passar. Posso dizer que fica bem diferente fora do ambiente hospitalar.

-O chá de belladonna...

-Sempre achei que Belladonna fosse um veneno...

-Tudo é veneno, senhorita. Basta saber dosar. Realmente ajudou?

-Há muitos anos nada me deixava livre daquela dor infernal. Agora, realmente vai vir num bar como esse e ficar na cerveja belga?

-Alguma sugestão, Dominic?

A mulher lhe deu um sorriso desafiador, antes de deslizar o copo sobre a superfície da mesa.

-Sem fazer careta.

•~♡~•

Ressaca é uma merda. Onde estava com a cabeça de beber tanto hidromel?

Severus não queria abrir os olhos. Ele não sabia onde estava, o perfume que sentia era familiar. Não conseguia sentir seus membros adequadamente, e ainda estava tonto.

Não sabia precisar quanto tempo havia se passado até conseguir processar as informações e emoções ao seu redor.

Havia um corpo, aparentemente feminino, deitado às suas costas. Conseguia sentir os seios contra sua musculatura. A mão era longa e fina, tinha unhas grandes e estava repousada sobre seu abdômen. A respiração era leve, e estava bem em sua nuca, fazendo-o arrepiar.

O ser se ergueu, sem dizer uma palavra, e lhe trouxe uma boa dose de poção para ressaca. O quarto estava bastante escuro, e foi por isso que abriu os olhos, bebendo o remédio.

Depois que sua ressaca passou, acendeu o abajur. Ela ainda estava nua, e não parecia nada tímida, apoiada no cotovelo, o observando.

-Uma questão prática: você ainda lembra o meu nome?

O homem acabou corando, enquanto a loira ria baixinho. Snape se deu ao luxo de acariciar a tatuagem que ela ostentava na lateral do abdômen, sem vontade alguma de encarar aqueles olhos azuis.

-Fico muito envergonhado em dizer que não...

-Não preciso que fique envergonhado. Esse é um efeito colateral de quem bebe muito hidromel. Eu só lembro o seu porque já o conhecia antes da bebedeira.

Ele se sentiu um pouco melhor, e mais confortável em analisa-la, já que até o momento ela não parecia nenhum pouco incomodada com o que ele fazia.

Era um corpo comum, de uma mulher não tão magra. O que a tornava interessante eram as tatuagens, e aquele sorriso de canto. Na verdade, ela estivera sorrindo todo o tempo. Ele se lembrava de uma moça de jeans e moletom que fora ao hospital há algum tempo, e que lhe relatara um problema sério, sem tirar um sorriso simpático do rosto mesmo Severus vendo em seu olhar que ela estava com dor.

-Por que uma mulher linda como você... Dorme com alguém como eu?

-Por que um homem tão sério dorme com alguém como eu?-Isso o fez arquear a sobrancelha.-Olhe, temos duas falhas percepções. Que curioso.

-Alguém como você? Era a única que não estava a caça ontem.

-Eu estava sim. Mas o que eu estava procurando não olharia para alguém que estivesse se esfregando por aí.

Isso o fez sorrir, antes de voltar a deitar de barriga pra cima, olhando para o teto de mogno.

-O que fizemos ontem...-Começou, um tanto deslocado. A loira se apoiou sobre seu peito, mas não o olhou diretamente, deixando-o confortável.-Como não lembro de muita coisa... Você gostou?

Ela abriu um sorriso malicioso, e se ergueu, deixando que a ponta de seu nariz delicado tocasse a do dele.

-Ah... Gostei. E como gostei. Para ser bem sincera, Severus... Estou apenas esperando você se animar para uma nova rodada. Sóbrio dessa vez.

-Uma nova rodada...-Foi rápido em virar a mulher na cama, ganhando uma risada, antes que se dispusesse a acariciar o pescoço dela com os lábios.-Preparada para o segundo round, senhorita Hoff?

-Só aguenta mais um, senhor Snape?

-Depois do café podemos tentar mais alguns.

-Vou exigir que me peça em casamentão antes que o final de semana acabe.

-Já estaremos casados até lá.

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