Capítulo 3 - Noites Claras

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O café da manhã era a refeição mais importante do dia. Começando com um prato reforçado para ter um dia ativo, acompanhado da melhor companhia que poderia existir: A Família.

Era esse o pensamento que Antony Jenkins tinha toda vez que descia às 6:30 na quinta-Feira para preparar o café da manhã para sua família. Preparou ovos mexidos e fritou bacon; preparou torradas com geléia, suco natural de laranja e um café passado, deixando tudo à disposição na mesa da sala de jantar. Sentou-se na ponta, como de costume, e esperou a chegada dos restantes para então servir-se.

Porém, havia uma razão oculta para tudo isso. Não conseguira dormir depois da noite passada. Sabia que tinha que fazer algo para a manhã seguinte e quebrar a tensão que cairia como uma bomba atômica.

- Bom dia papai! – Ben foi o primeiro a chegar. Sentou na mesa e rapidamente colocou quatro tiras de bacon frito e gorduroso em seu prato.

- Bom dia campeão. Fez os temas? – Ele servia um copo de suco para o filho.

- Tudinho feito.

- Assim que eu gosto de ver, então depois da escola vamos ir tomar sorvete. Só os rapazes – Sorriu para o filho e deu um tapa leve em suas costas. Tentou fingir que estava tudo bem.

- Eu não sou burro pai, já tenho 8 anos – Antony toma um gole do suco ouvindo com calma – Você e a mamãe brigaram e você quer fugir dela.

Antony quase se engasga com o bacon após ouvir as palavras do filho. A tom de voz calmo com o qual o pequeno falou parecia soar como um deboche, havia lhe subestimado. Olhou para o filho com aquele olhar paterno e pensou no que ele poderia ter ouvido.

Sentiu uma pontada no coração ao imaginar o que o filho poderia ter ouvido. As memórias da noite passada retornaram.

...

- Eu preciso te lembrar o quanto isso te fez mal, Susan?! – Tentava ao máximo manter a calma, mas era impossível. Não conseguia esconder a indignação ao ver a capsula laranja de comprimidos, já vazia, na gaveta do criado-mudo.

Sentada na beirada da cama de costas para o marido, Susan balançava o corpo de um lado para o outro devido à tontura por causa da medicação e da alta dose de vinho tinto que tomou naquela tarde. Se mantinha em silêncio, um silêncio que parecia ser de petulância.

- Está me ouvindo? – Ele se aproxima.

- Sim... Antony! – A voz de raiva e impaciência fez o ambiente pesar – Eu estou te ouvindo, o que quer que eu faça agora? Vomite tudo? Tarde demais... Já fez efeito.

Ele bufa e respira fundo. Era um homem racional. Não podia se deixar perder a calma.

- Susan... Eu preciso saber – Sua voz perdeu o tom, estava mais calmo. Fica de frente para a mulher que o encara com os olhos vermelhos após lacrimejar. Um misto entre raiva e culpa estampado no rosto – Só me diga uma coisa. Quando você voltou a tomar isso? Quanto tempo? – Ele mostra a cápsula.

Susan recua, não queria responder. Ele sabia que tinha que pressioná-la. Pode sentir que a culpa dela por ter sido descoberta era maior que o arrependimento por ainda estar tomando os antidepressivos.

No começo, Antony não se importava que Susan tomasse esses comprimidos, contanto que ela estivesse bem e pudesse se abrir com ele. O problema era que as pequenas doses se tornaram maiores e corrompeu-se em uma forte dependência, sem contar a mistura nada saudável com bebida alcóolica que a esposa insistia que ajudava a descer mais rápido.

- Faz... Acho que uns dois meses – Ela limpa uma lágrima que escorre de seus olhos azuis cintilantes – Eu tentei me controlar. Mas aí quando eu estava limpando, eu achei uma cápsula extra que tinha comprado antes e havia esquecido... Quando eu vi aquilo e-eu... eu não sei! Eu precisava daquilo, parecia ser a única coisa que me fazia sentir bem!! Não estava dormindo direito, não comia bem... Como você não reparou?

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