Capítulo 8 - Tremor

56 5 0
                                    


O silêncio continuava naquela sala fria.

Dr.Holland estava lá parado, aguardando a tão esperada resposta do Delegado de Bridgeton, que apenas olhava o chão segurando os papéis.

Os dois corpos pálidos e frios de Oliver e Rodney, ali jaziam. Suas almas se foram a muito tempo. Apenas seus restos carnais ficaram esboçados na mesa metálica repleta de aparelhos cirúrgicos. O que sobrou de seus órgãos vitais do abdômen e tórax estavam do lado de fora para as análises.

Cooper largou os arquivos em cima de uma mesinha de aparelhos próxima ao corpo de Oliver. A jogou com certa força que derrubou a serra para ossos no chão.

Enquanto um velho observava o chão, o outro velho continuava a esbanjar animação e frenesia com a mais recente descoberta.

- Andrew. Sabe o que isso pode significar? Para mim! Para você... Para a cidade... – A mudança em seu tom de voz ao abaixar falando "Você" e "Cidade" mostrava qual era a prioridade de Martin – Se você me deixar, posso realizar mais algumas análises, só preciso de mais uns dias...

- Martin...

Falou. Curto e grosso.

Uns turbilhões de pensamentos bombardearam seu cérebro tão forte que a enxaqueca de manhã parecia não ser nada. Mas sabia o que precisava fazer. Sabia o que iria custar. Tinha certeza, mas tinha as dúvidas. Porém, deu ouvidos ao que gritou maior, a sua própria e não certa certeza.

- Anote nesse fichário. Causa da morte: Ataque de Coiotes.

- Do que está falando... Não entende do que estamos falando aqui?

E agarrou o jaleco de Martin. Não queria ouvir mais nada. Só queria que a dor parasse.

O pensamento de sujar o chão com o sangue e cérebro de Martin Holland apareceu em sua cabeça. Seguido por uma segunda visão de socar sua boca até que nunca mais fale.

Mas não o fizera. Controlou-se. Tudo que fez foi jogar aquela desculpa barata de doutor contra um armário de remédios. Não estava lá para jogos ou brincadeiras. Duas mortes e não queria saber de baboseiras.

- Você mesmo disse que ouve cortes no corpo. Você mesmo disse que poderiam ser garras. E eu me lembro claramente do que meu pai disse sobre os Monroe. Sobre os coiotes com raiva na região. Então.... Eles voltaram... Mataram dois inocentes... E acabou... Fim de papo... Então você cale a merda da sua boca sobre extraterrestres e espaçonaves. Porque esta droga NÃO. EXISTE.

Podia gritar como um buldogue. Mas a cara achatada de Holland nunca mudava quando o assunto não era espaço. Olhava para ele com aqueles olhos cínicos. Não se sentia intimidado, nem mesmo um pouco, por Cooper.

- Solta o meu jaleco.

Fez o que o médico pediu. Ele ajeitou o jaleco por cima da camisa azul social e calça preta, arrumou os óculos e foi até a mesa.

- O quão ruim te fizeram aqueles remédios, Martin? – Relembrou as memórias do velho que antes era seu melhor amigo – O que você acha que aconteceu naquela noite?

Ele não respondeu.

Parecia ter ficado emotivo de repente.

- Martin... Isso não te faz bem... Isso nunca te fez bem... Seja lá o que você acha que aconteceu naquela noite. O que acha que meu pai fez. O que acha que a cidade fez... Eu estava lá. Eu não fui mandado pra um internato depois daquela noite, eu não tive cinco anos de consultas em uma psicóloga. Eu fiquei em Bridgeton até o final dessa história. O que aconteceu foi isso... Foi apenas isso.

Os OutrosOnde histórias criam vida. Descubra agora