Capítulo 4 - Meteoros e Luzes

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Antony

Os pneus da caminhonete preta cantavam na rodovia recém-asfaltada para fora de Bridgeton e mais adentro da área rural do Maine. Paisagem coberta de grandes árvores que cobriam o sol prestes a se por nas montanhas que rodeavam o vale. O destino: Condado de Andell.

A cidadezinha com pelo menos 100 habitantes ficava a 45 minutos de carro de Bridgeton. Era um lugar amistoso, repleto de idosos e famílias com crianças que procuravam a paz e sossego, afastados da grande movimentação; mesmo morando a 45 minutos da Interestadual. Essa cidade possui um lugar especial no coração de Antony, já que foi onde nasceu e cresceu antes de partir para o mundo e deixar o Tio Lionel e a Tia Iris para trás.

Mesmo que fosse uma viagem rápida de carro, para Antony, parecia interminável. O tratamento de gelo que a esposa estava dando podia muito bem criar neve dentro do carro. Toda vez que olhava para a companheira, ela estava com os olhos concentrados na estrada ou em uma revista de moda que trouxe consigo. Todas as tentativas de diálogo com Susan foram respondidas com: "Aham, legal", e apenas isso.

O filho Benjamin também não ajudava, sempre com os olhos em seu joguinho no Tablet e com os fones de ouvido verdes de um "Creeper", aquele bichinho estranho do jogo de cubos.

A caminhonete de Antony adentrou na cidade pela rua principal. Mesmo com a predominância de casas e prédios de dois andares apenas, era um lugar confortável e que possuía o necessário para se sustentar, sem contar a paisagem linda ao seu redor por estar em uma clareira rodeada pela floresta e à 2km do lago. Seguiu reto até entrar em uma estrada de terra, seguindo até ver a casa de campo azul bebê ao fundo. A viagem silenciosa chegou ao fim.

- Chegamos – Anunciou.

Caminhou até a velha varanda da casa de madeira e bateu na porta a espera de uma resposta; que varanda cheia de memórias. Acompanhado do filho que ao seu lado não parava de sorrir e pular; algo raro para quem passou os últimos minutos sentado no carro jogando joguinhos de blocos. Antony olhou de relance para a mulher, que tirava as malas do carro e as colocava na varanda, ainda calada. Dera um suspiro. "Até quando ela iria continuar assim?", se perguntou.

A porta de madeira abriu com um rangido e de lá, duas figuras emergiram com sorrisos enrugados.

- Meus garotos! – Um poço de felicidade se abrira nos três homens ao engajarem em um abraço coletivo.

- Vovô! – Falou emocionado o pequeno, que foi erguido no colo do homem. Mesmo idoso, estava em boa forma para levantar uma criança de 28kg.

De dentro da casa, a moça idosa de cabelo curto e grisalho saiu. Esboçava um sorriso forte no rosto, tão forte quanto seu cheiro de naftalina. "O perfume de vó" como Antony brincava.

- Tão bom ver vocês, tios – Abraçara a senhora com força.

- Já estávamos com saudade – Ela fala com um sorriso.

Tio Lionel e Tia Iris moravam naquela fazenda desde quando as primeiras casas de madeira foram erguidas em Andell. O casal combinava seu cabelo grisalho como combinavam com as poucas rugas marcas da idade em seus rostos, contando a trajetória de uma vida longa.

Mesmo tendo sido criado sua vida inteira pelo casal e sendo considerado como um filho por eles, Antony não conseguia chamá-los de "Pai" e "Mãe", achava que não deveria rotular as pessoas que o criaram, apenas demonstrar através de palavras e gestos todo o seu amor e gratidão por eles, isso valia mais do que duas etiquetas.

- Vamos entrando! Sua tia fez biscoitos... – Pegou o garoto enérgico no colo e o carregou para dentro com a tia.

Olhou para trás procurar sua esposa. Chaveava o carro ao terminar de descarregar as malas. Pegou a sua e se preparava para entrar. A expressão não mudou, e isso o deixou enfezado.

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