Tocando as notas do crime (Em Correção)

1 - É Natal. É o Fim

Era natal. Tudo estava brilhando com a decoração, piscando azul, vermelho, amarelo e verde. Meus pais sorriam, contando suas histórias de sempre, nos levando ao passado de suas infâncias. Minha irmã comia sua pipoca, entretida com nossos pais, absorta nas histórias. Os embrulhos dos presentes continuavam jogados pela sala, decorando ainda mais o ambiente. Meu suéter novo me pinicava junto das meias, me forçando a coçar a barriga e os pés hora ou outra. Vovó tinha se esforçado para fazê-los, e eu estava contente por tê-los ganhado.

- O que acham de vermos um filme? - Papai se pronunciou. - Tem alguns que ainda não vi.

Concordamos com a ideia e rapidamente nos amontoamos no sofá, cobertos por uma manta longa e vermelha. Mamãe preparou chocolate quente e papai escolheu o filme. Não estava tão frio, mas ainda assim o chocolate que desceu pela garganta me reconfortou. Minha irmã contornou seu braço ao meu redor, me forçando a usar seu ombro de travesseiro. Sorri, satisfeita por mais um natal incrível.

- Céu, o que acha de irmos no parque amanhã? - Perguntei a minha irmã.

- Seria legal, mas antes temos que ir na vó agradecer os presentes. - Assenti, voltando a prestar atenção na televisão que não parava de piscar imagens.

Após meia hora de filme, senti minhas pálpebras ficarem mais pesadas a cada piscada. Meu suéter já não pinicava e minhas meias estavam mais quentes. Céu ainda me abraçava, focada nas cenas que passavam a sua frente. Meus pais trocavam algumas palavras quando não entendiam direito o que estava acontecendo. O vento lá fora já não soprava mais a janela com tanta força, tudo estava ficando mais calmo a cada instante. Fechei meus olhos por um momento, sentindo o cheiro ainda presente do chocolate e da pipoca. A respiração de Céu me acalmando cada vez mais.

- Céu... - Murmurei, logo sentindo um beijo no topo de minha cabeça. - Te amo.

- Eu também te amo, muito.

Meu sono se aprofundou no mesmo instante, e, quando menos percebi, já estava embalada no mundo dos sonhos. Estava feliz e realizada, pois o dia não poderia ter sido melhor. Toda a comemoração, toda a bagunça, as conversas jogadas fora, tudo, nada poderia melhorar, e mesmo que pudesse, preferiria que continuasse do jeito que estava. Talvez, se pudesse escolher mais um presente, iria pedir para que esse dia se repetisse diversas vezes, assim, nunca esqueceria do amor e dos sorrisos contentes, poderia me lembrar de cada abraço, cada palavra, e assim ficaria motivada eternamente a ser uma pessoa feliz e realizada no futuro.

Um barulho alto ecoou pela sala, me despertando abruptamente. Olhei ao meu redor, ainda atordoada, tentando entender o que estava acontecendo. A porta da sala estava escancarada, permitindo o vento gélido entrar. Três homens se aproximaram de nós, apontando armas na nossa direção, esboçando auras ameaçadoras e destrutivas. Céu me agarrou com força, igualmente atordoada, encarando os homens com dúvida e medo. Meu pai rapidamente se prontificou, ficando na nossa frente, tentando de alguma maneira nos proteger dos invasores.

- Por favor, levem o que quiserem, mas deixem minha família.

Mamãe se levantou, ficando logo atrás de meu pai. Abracei minha irmã com força, assustada demais para tentar fazer alguma coisa. Tudo estava desmoronando.

- O que vocês querem? Dinheiro? Eu dou dinheiro. - Papai deu um passo, ainda na nossa frente, nos defendendo.

- Por que iríamos querer o seu dinheiro seu velho? - Um dos homens o empurrou contra o chão, apontando a arma contra sua cabeça, fazendo mamãe gritar. - Quieta!

Os outros dois homens começaram a revirar a casa, jogando tudo pra fora dos armários e gavetas. Céu tremia contra meu corpo, olhando atenta toda situação. Eu não sabia o que fazer, não sabia nem mesmo como reagir, eu apenas encarava a arma apontada na direção de meu pai, atônita.