10- Câmera E Cadeira Nuas

12 6 3
                                    

Vovó nos servia seu suculento frango recheado enquanto vovô lia em voz alta o jornal, reclamando vez ou outra das notícias, meus dedos batucavam a cada sílaba, acompanhando o ritmo de sua leitura. Noite passada havia sido um tormento. Não conseguira dormir de maneira alguma, mesmo depois de ler a agenda eletrônica de meu pai. Um pressentimento forte fazia a ponta de meus dedos formigarem, minha intuição raramente falhava, mas temia que estava começando a ficar obcecada com um fato que ocorrera há meses. Bati os dedos contra minhas coxas, tentando me livrar daquele formigar infernal. As peças não se encaixavam, as informações não batiam, tinha deixado alguma coisa importante passar, sabia disso, mas não sabia o que poderia ser.

- O que tanto pensa, querida? - Vovó tocou meu ombro.

- Acho que estou me esquecendo de alguma coisa. - Mordi o lábio inferior.

- Você? Se esquecer de algo? É impossível, Megan. - Vovô riu. - A frase certa seria, deixei algo passar, mas não sei o que. Você não se esqueceu, apenas não notou algo importante. Por exemplo, trocou seu sabonete pelo shampoo.

- Quem dera fosse algo banal assim. - Suspirei.

- Mas então, como está indo na faculdade? Alguma novidade? - Vovó pegou um pouco do frango.

- Eu acho que fiz dois amigos... - Comecei a comer. - E eu estou indo muito bem na faculdade, parece que eu estou entre os cinco melhores do campus. E eu consegui um emprego.

- Que maravilhoso! Estou tão orgulhosa de você. - Recebi um beijo estalado em minha bochecha. Abri um curto sorriso, voltando a comer.

Meus pensamentos, assim que abandonados por meus avós, voaram para as informações nada satisfatórias que tinha. Estavam procurando uma coisa que meu pai tinha e ele era informante de Thomas, minha tia tinha todas as informações de policiais e de outras pessoas as quais confirmei fazer parte de um tipo de facção. Mas o que eles procuravam? O que meu pai deu para Thomas, o que ele queria? Minha tia achou as informações que os outros homens procuravam e as escondeu? Ou será que ela estava contra o meu pai? Eram tantas perguntas para tão poucas respostas. Estalei a língua contra a boca, olhei o relógio e engoli o último pedaço de frango em meu prato.

- Obrigada pelo almoço vovó, estava muito bom. - Me levantei.

- Não vai ficar para a sobremesa?

- Não, eu tenho que ir trabalhar. - Beijei sua testa.

- Que não seja por isso, espere um pouco. - Minha avó se levantou e rapidamente colocou um pedaço de sua torta em uma caixinha de isopor. - Bom trabalho minha pequena.

- Obrigada. - A beijei novamente e abracei meu avô com força.

- Não pense demais, as vezes, aquilo que mais procuramos está bem na nossa frente. - Vovô murmurou em meu ouvido. Sai de seu abraço e sorri.

- Até. Amo vocês.

- Nós também te amamos! - Ambos gritaram da cozinha.

Corri para a rua e respirei fundo o ar puro, tentando me livrar daqueles pensamentos que tiravam meu sono. Comecei a andar rumo ao trabalho, ou pelo menos, foi o que pensei estar fazendo, pois meus pés começaram a andar para o lado oposto do ponto de ônibus. Dois quarteirões abaixo, ele disse, espero que meu avô esteja certo. Segurei firme a alça da bolsa e apressei o passo. Devia estar ficando louca, mas no atual momento, nada seria loucura se resolvesse minha inquietação. Parei de andar quando cheguei em meu destino. Olhei as casas ao meu redor, como saberia qual era? Por que concordara em fazer uma coisa tão estúpida? Estalei novamente a língua contra o céu da boca. Pronta para dar meia volta, um taxi parou a algumas casas de distância, e para meu espanto, Thomas apareceu. Ele trancou a porta da casa e entrou no táxi, pouco notando minha presença.

Tocando as notas do crime (Em Correção)Onde histórias criam vida. Descubra agora