chapter two

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Da janela da frente do casarão, Clarissa observava a chuva cair forte sobre o lago onde seus pais haviam perdido a vida em um ato de bravura enquanto tentavam poupar a sua vida e a vida um do outro. Sem sinal de telefone, sozinha e com fome, a menina assistia os minutos passarem na tela rachada do celular, ainda nervosa devido ao incidente na cozinha. Não existia nenhuma explicação para o que havia acontecido horas antes. Agora a noite caia e ela precisava preparar algo para comer no jantar.

A menina se levantou do sofá de canto e foi até a dispensa, torcendo para não ver nenhum vulto entre os corredores ou no pé da escada.

- Cup Noodle - pegou a embalagem e dirigiu-se a sua lateral, para conferir a validade do produto. - Ótimo - ainda lhe restavam três meses de utilidade.

Virou-se para sair do pequeno cômodo, que precisava ser reabastecido, por sinal, e assistiu a porta bater a meio metro de distância do seu rosto, arrancando um grito de sua garganta. Algo muito estranho estava acontecendo. Clarissa estava completamente imobilizada, e quanto mais medo sentia, mais a lâmpada acima de sua cabeça piscava. Até que ela finalmente se apagou.

- Tem alguém aí? - Clary perguntou, torcendo para não ouvir nenhuma resposta. Antigamente, costumava se divertir em situações como essa.

- Quem é você? - a voz masculina veio dos fundos da dispensa. A garçonete pensou em três palavrões diferentes e fechou o punho com força.

- Quem é você? - repetiu a pergunta, indignada. - Esta casa é minha, saia ou chamarei a polícia!

- A polícia não vai me tirar daqui.

- O que - a lâmpada tornou a ficar acesa e a menina se virou rapidamente, encontrando o rapaz encostado em uma das prateleiras. - Aí meu deus! - colocou a mão sobre o peito. Seu coração estava extremamente acelerado.

- Eu quase posso ouví-lo daqui - o menino piscou lentamente. Tinha os cílios compridos e seus olhos azuis contrastavam com a sua pele. - Já fazem 24 horas que não escuto nada bater aqui dentro - se aproximou de Clarissa.

Duval arregalou os olhos, amedrontada e deu alguns passos para trás, até bater com as costas na porta.

Socorro! - gritou, virando-se para forçar a maçaneta.

Eu não quero te fazer mal - ele disse. Ignorado pela menina que continuava forçando-se a sair dali, foi até ela e a segurou pelo braço. - Eu não quero te fazer mal!

Foi quando ele se deu conta do que estava fazendo. Pela primeira vez em todas aquelas extensas e confusas horas, estava segurando algo sólido com as próprias mãos. Clarissa o encarava, quase dois palmos abaixo dos seus olhos. Era pequena e delicada como uma boneca. Em um gesto quase instintivo, Samuel a envolveu em seus braços. Sem entender absolutamente nada, a garçonete tremia enquanto o desconhecido a apertava contra o seu corpo.

- O que há de errado com você? - Duval o empurrou, irritada. - Você é alguma espécie de ladrão carente de afeto?

- Ladrão carente de afeto? - ele gargalhou. Clarissa impulsionou seu corpo contra a porta, machucando o ombro.

- Droga! - gritou ainda mais alto. - Abra a porta ou eu vou gritar até que alguém apareça.

- Ninguém vai aparecer. Não existe nenhuma casa habitada em um raio de dois quilômetros. 

- O que você quer? - ela procurou se manter afastada do desconhecido.

- Eu preciso da sua ajuda. Eu morri a noite passada e é a primeira vez que eu vejo alguém durante esse intervalo.

Tá legal, as coisas realmente estavam ficando assustadoras.

As Luzes do CasarãoOnde histórias criam vida. Descubra agora