Eram nove horas da manhã quando Clarissa acordou.
Todas as paredes da casa eram em tons de marrom claro, e os quartos, ligeiramente mais rosados, faziam com que a luz solar que entrava por uma fresta na cortina, se projetasse alaranjada sobre as bochechas de Samuel. Ele não havia dormido a noite toda. Só quando amanheceu, conseguiu se aquietar por algumas poucas horas. Talvez os flashbacks do acidente ainda o assustassem.
Duval levantou-se e observou, enquanto se vestia, o menino deitado sob alguns lençóis, improvisando de maneira falha, um colchão. Ele parecia realmente cansado. A menina desceu as escadarias, e viu por uma das janelas do andar inferior, que fazia sol lá fora, um clima perfeito para a realização dos seus planos de ir até o centro da cidade comprar bifes e algumas batatas para o almoço. Aquele lugar era realmente aconchegante, como um chalé, e Clarissa queria que o seu último dia ali, fosse vivido como se estivesse em sua própria casa.
Como se estivesse com os seus próprios pais, mesmo que agora esses tenham outro nome.
Lá fora, fazia um dia lindo. Típico de verão, daqueles que traz consigo uma tempestade no fim da tarde. A menina subia, ofegante, a pequena ladeira de terra molhada que a levaria até a casa, com três sacolas nas mãos. Havia decidido comprar mais algumas coisas para abastecer a dispensa. Ao chegar em frente a grande porta, deixou as compras no chão para destrancar e abrir a mesma, e encontrou Samuel andando de um lado para o outro da sala, atravessando o sofá sempre que esperava ser parado por ele.
- Bom dia.
- Bom dia - ela respondeu, pegando as sacolas novamente.
- Você não mudou de ideia, mudou? Sobre irmos ao necrotério - Clarissa permaneceu em silêncio, em uma tentativa falha de fingir não ter ouvido a pergunta. Se dirigiu até a cozinha, ainda assistindo o espírito atravessar os móveis, irritado.
- Isso deve estar sendo aterrorizante para você. Mal consegue olhar nos meus olhos - haviam tons de mágoa em sua fala. - Pode ao menos, usar o seu celular para descobrir onde ele fica? Já me adianta muita coisa visto que eu não consigo segurar absolutamente nada com as minhas próprias mãos.
- Aqui não tem sinal telefônico.
- Droga, será - sua voz se elevou. Ele fechou as mãos com força e desferiu um soco na parede, surpreendendo a si mesmo e a menina parada passos a frente.
- Parece que você consegue usá-las novamente - Clary sugeriu, ligeiramente amedrontada. Samuel tentou pegar as chaves da casa colocadas sobre a mesa, mas não obteve sucesso.
- Sentimentos - ele disse. - Fortes sentimentos me materializam - deduziu. - Mas eu ainda preciso de você ou terei de sentir ódio de uma cidade inteira só para fazer uma busca na internet.
- Samuel... - ela suspirou. - Eu estou aqui buscando alguma coisa que me ajude a construir uma imagem mais sólida dos meus pais biológicos. E só - disse. - Talvez eu até venda essa casa e fique com o dinheiro para pagar o meu curso de enfermagem, mas a última coisa que eu quero fazer nesse exato momento é precisar lidar com o fato de que eu vejo espíritos - desabafou.
- Você consegue fazer as duas coisas. Conhecer os seus pais e me levar até lá. Mulheres são capazes de tudo. E você é inteligente - a incentivou. - Eu posso ajudá-la em qualquer coisa que estiver ao meu alcance - uma pausa em seu discurso. - Qualquer coisa.
Poucas ideias em relação a isso se passaram pela cabeça de Clary. Uma em específico lhe pareceu bastante perigosa, mas essa mesma, também lhe pareceu bastante eficaz.
- Tá legal - a menina devolveu as chaves ao bolso e o fitou. Samuel sorriu e o coração da garçonete disparou.
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As Luzes do Casarão
RomanceDurante o expediente na cafeteria onde trabalha, Clary recebe a visita de um advogado e descobre que os seus pais, são na verdade, pais adotivos, e que a sua mãe biológica a deixou uma casa após falecer. A jovem decide passar um fim de semana no lo...