chapter seven

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Já eram quase sete da noite quando os dois chegaram no hospital. O sol se punha no horizonte, brilhando em tons quentes e vibrantes de laranja. Todo aquele ambiente parecia propício a uma cena pré apocalíptica onde os personagens encontravam-se finalmente a salvo dos perigos da cidade abandonada, mas aquela não era a realidade de Samuel e Clarissa. Os dois corriam contra o tempo e viam da calçada da rua principal, a cidade acender.

A movimentação nos arredores não era tão grande quanto a do lado de dentro do Hospital Rumancek. Médicos agitados passeavam pelos corredores checando suas pranchetas, batendo o ponto digital, organizando fichas e dando apoio primário à alguns pacientes. A futura enfermeira sentia-se pela primeira vez, agoniada ao estar inserida naquele ambiente. Precisava encontrar alguém que a levasse até Samuel caso ele estivesse ali.

- Com licença, eu preciso checar se um conhecido meu deu entrada aqui nos últimos dias - Clary abordou a atendente do balcão.

- Saberia precisar o dia e a hora? - questionou a ruiva, que deveria ter aproximadamente vinte e cinco anos.

- Quinta-feira... à noite - olhou para o rapaz ao seu lado, este que sussurrou: "algo próximo das duas da manhã". - Algo próximo das duas da manhã, então... sexta-feira - corrigiu a informação.

Então eles aguardaram a funcionária conferir algumas fichas de papel sobre a mesa e depois recorrer ao computador instalado a sua frente. O relógio preso à parede clara parecia estar congelado. As pessoas ao redor tinham pressa e Samuel sustentava uma expressão indecifrável. Seus cabelos médios caiam em perfeitas ondas até o queixo e seus olhos estavam mais claros devido à luz.

- Samuel Mitch deu entrada na ala emergencial sexta-feira às duas e cinquenta e três da manhã.

- E onde ele está neste exato momento? Eu posso vê-lo?

- Neste exato momento - ela digitou alguma coisa e enviou. - Leito número 22. Chamarei uma enfermeira para acompanhar a senhorita. O que ele é seu? - perguntou.

- Meu... namorado - Clary respondeu. O rapaz parado ao seu lado a fitava.

Seus olhos a infiltravam de uma maneira surreal. Era como se eles pudessem enxergar todas as fraquezas e forças daquela figura magra de pele tão clara quanto a personificação da paz. Samuel desejava poder terminar o que eles haviam começado uma hora atrás. Clarissa notou essa vontade embutida em seus fundos olhos azuis, mas se voltou novamente para a atendente.

- Obrigada.

Os dois aguardaram cerca de cinco minutos até que uma enfermeira aparecesse para os acompanhar até o quarto onde o corpo de Samuel repousava. A mulher se chamava Vitória e foi gentil ao explicar a situação do rapaz.

- A batida foi fortíssima. O carro foi encontrado praticamente partido ao meio pela árvore. Samuel sofreu inúmeras fraturas e precisou passar por duas cirurgias. Quebrou o braço esquerdo, fraturou um dos joelhos, teve um traumatismo craniano e um facial, este último, mais leve. Mas a pancada da cabeça contra o painel o mantém desacordado desde o acidente.

- Não existe previsão para que ele retorne?

- Não. Não há mais nada que os médicos possam fazer a não ser mantê-lo medicado para que não hajam complicações futuras.

- O irmão dele? Como está?

- O irmão de Samuel teve um pouco mais de sorte, mas também teve um traumatismo craniano decorrente do impacto e precisou passar por cirurgia. Ele já está acordado, mas só receberá alta semana que vem. A senhorita gostaria de vê-lo?

- Mais tarde. Eu gostaria de poder ficar um pouco sozinha com ele - olhou para o rapaz deitado na cama.

- Fique à vontade. O irmão dele está no quarto ao lado. Caso precise, estarei a disposição.

As Luzes do CasarãoOnde histórias criam vida. Descubra agora