Capítulo 01

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Terça-feira, 13 de setembro de 2016

Meu instinto esta gritando que eu deveria sair daqui desde que pisei nessa parte da cidade, mas eu estou ignorando porque preciso achar o idiota do meu irmão e por isso estou aqui numa das áreas mais perigosas de Los Angeles que é frequentada por traficantes, usuários, agiotas e outras várias pessoas que fizeram escolhas de vida questionáveis.

Nunca tinha me dado ao trabalho de sair procurando pelo Nick antes, eu e minha mãe já estamos acostumadas a ficar sem notícias dele por semanas, mas geralmente depois de dois ou três meses recebemos uma ligação do hospital porque ele apanhou de algum traficante ou então ele aparece em casa, come alguma coisa, toma um banho, passa a noite e some de manhã levando algo de valor do seu quarto, vídeo game, notebook, pelo menos ele só pega as coisas que eram dele. Dessa vez não o vemos já a quase seis meses, então minha mãe está começando a ficar desesperada e eu obviamente estou preocupada.

Vendo que não vou encontrar ele pela rua e já está ficando tarde entrei num bar para numa última tentativa ver se alguém ali dentro viu o Nick, o lugar lotado de homens com o dobro do meu tamanho e cheios de tatuagem. Fui direto até o bartender que ergueu uma sobrancelha quando me viu, claramente não está acostumado a ver uma adolescente de camiseta, calça jeans e all star nesse lugar.

-Está perdida garota? - Ele deve ter uns quarenta anos no máximo, cabelos castanhos escuros e olhos da mesma cor.

-Não, estou procurando por alguém. - Peguei meu celular e mostrei a foto do Nick pra ele. -Você o viu por aqui?

-Não. - Respondeu olhando para foto e negando com a cabeça, antes de voltar a olhar para mim. -Está ficando tarde, você deveria ir para casa e deixar para procurar seu amigo outro dia. - Ele está parecendo preocupado comigo.

-Obrigada. - Agradeci e lhe dei as costas decidindo fazer o que ele disse

Infelizmente quando eu estava perto da saída um cara parou na minha frente bloqueando o caminho, meu olhar batendo no seu peito já que ele é bem mais alto do que eu, a camisa preta grudada no seu corpo evidenciando seus músculos, olhei para o seu rosto vendo um sorriso de lado nos seus lábios e seus olhos que parecem ser pretos de tão escuros delineando meu corpo de cima a baixo.

-Já está indo embora? - A fala arrastada deixando claro que ele está bêbedo.

Não respondi, desviei dele indo para porta e não demorou para o sentir segurando meu antebraço, me virei olhando para sua mão no meu braço e estava prestes a fazer qualquer coisa para me defender quando vi alguém segurar o seu pulso, o fazendo me soltar antes de o emburrar contra o balcão do bar.

-Vocês duas pra fora! - O barman gritou e eu tirei os meus olhos do cara que ainda está apoiado no balcão do bar, percebendo só agora que a pessoa que acabou de me ajudar é uma mulher.

Eu ainda surpresa com o que acabou de acontecer não resisti quando ela pegou a minha mão e foi me guiando para fora do bar, paramos em frente ao estabelecimento e ela soltou a minha mão antes de subir em cima de uma moto estacionada ali, seus olhos azuis presos em mim, um meio sorriso nos seus lábios e seus lindos cabelos loiros jogados para um dos lados.

As botas de combate, a calça preta rasgada deixando a mostra sua coxa direita que é coberta de tatuagens, blusa branca sem estampa e a jaqueta de couro preta, a qual a manga cobre só até metade do seu antebraço deixando parte da tatuagem no seu braço esquerdo a mostra. Tudo nela grita problema, e problema é uma coisa que eu prometi a mim mesma ficar longe a muitos anos atrás.

Enquanto crescia fui vendo o Nick destruir o futuro que ele poderia ter aos poucos e diante disso prometi a mim mesma ser seu completo oposto, então me tornei a aluna e filha exemplar, sempre notas boas, nunca indo para festas, bebendo, usando drogas e nunca me envolvendo com pessoas que pudessem me levar a fazer qualquer uma dessas três coisas.

-Você veio até aqui de carro? - Sua voz rouca com um sotaque australiano.

-Não, de ônibus. - Ela suspirou parecendo não ter gostado da minha resposta.

-Sobe. - Estendeu o capacete preto para mim e eu alternei meu olhar entre o objeto e ela, claramente hesitando em atender seu pedido. -Vamos pular a parte onde você me diz que sua mãe te ensinou a não aceitar carona de estranhos ok, porque eu não acabei de arriscar levar uma surra pra deixar você no meio dessa rua escura onde outro imbecil sobre o efeito de algo muito mais pesado que álcool pode aparecer.

Olhei para a rua mal iluminada onde estamos avaliando minhas opções, eu posso recusar sua carona e ter que andar pelo menos vinte minutos até o ponto onde saltei, provavelmente esperar mais meia hora para algum ônibus aparecer, já que o transporte público nessa área da cidade é uma porcaria, correndo o risco de outro idiota me abordar ou posso ir com ela e em menos de meia hora já vamos estar fora desse fim de mundo.

-Vamos, você não precisa me dar seu endereço ou nem mesmo me dizer o seu nome, eu te deixo no centro da cidade onde tem transporte público de quinze em quinze minutos. - Ela estendeu novamente o capacete e dessa vez me vendo sem uma escolha melhor eu aceitei. Percebi que esse é o único capacete mas não falei nada, ela colocou seus óculos escuros e deu a partida na moto antes deu subir na mesma. -Você vai ter que segurar em mim.

Me xinguei mentalmente por ter tido a ideia de vir procurar o Nick, ocasionando em eu me meter nessa situação, antes de passar meus braços pela sua cintura e ao contrário de mim ela parecia confortável com isso. Como previsto não demoramos muito para chegar no centro da cidade e ela parou em frente a um restaurante, saltei da moto e vi ela fazer o mesmo antes deu entregar o capacete para ela, que tirou seus óculos escuros e deixou o capacete que eu tinha lhe entregado em cima do banco da motocicleta.

-Obrigada, pela carona e por ter me ajudado lá no bar.

-De nada. - Tirei meus olhos dela pegando o meu celular para ver que horas tem ônibus, vendo que vai passar um aqui em dez minutos. -O que uma garota como você, estava fazendo em um lugar como aquele?

-Como assim uma garota como eu? - Ela riu e me olhou de cima a baixo como se isso respondesse a minha pergunta.

-Uma estudante do ensino médio, que deve ter uns dezesseis anos e estar no segundo ano, claramente não usa drogas, duvido que já tenha experimentado sequer um cigarro e com certeza nunca tinha estado naquela área da cidade se resolveu entrar naquele bar depois das dez horas da noite.

-Eu tenho dezessete e estou no terceiro ano, mesmo sendo nova tenho certeza que fiz escolhas melhores para minha vida do que qualquer pessoa dentro daquele bar, então com certeza não uso drogas e prefiro ficar longe de cigarro e das pessoas que tem o hábito nojento de fumar. - Novamente ela riu e eu revirei meus olhos.

-Você ainda não respondeu a minha pergunta.

Eu podia atravessar a rua e ir para o ponto de ônibus evitando continuar com essa conversa, mas ao mesmo tempo que seu jeito, aparência, estilo e o sorriso presunçoso no seu rosto me passavam a mensagem de que eu deveria ficar longe, seus olhos azuis me passavam uma calma e segurança que me faziam querer continuar ali.

É como se ela estivesse me mostrando que nem tudo no mundo é preto ou branco, que tem um meio termo, que todas as pessoas tem dois lados e você só precisa lhes dar uma chance para descobrir qual se sobressai, sem tirar conclusões por causa de aparência ou uma primeira impressão errada.

-Eu estava procurando pelo meu irmão.

-Eu também estava procurando por alguém, um amigo, ele estava a meses sem usar mas sumiu três dias atrás e a irmã dele me pediu para ver se eu o encontrava.

-Boa sorte. - Estava prestes a atravessar a rua quando ela voltou a falar.

-Ei, eu vou voltar naquela área mais algumas vezes essa semana para ver se o encontro, então se você me mostrar uma foto do seu irmão eu posso prestar atenção para o caso de o ver por lá. - Eu não tinha nada a perder então mostrei a foto para ela, que olhou bem antes de tirar um cartão de dentro da sua carteira. -Se você quiser saber se eu o vi ou não é só aparecer nesse endereço.

-Ok, valeu. - Olhei para o cartão vendo que é de um estúdio de tatuagem não muito longe da onde estamos agora.

-Meu nome é Elyza, Elyza Lex. - Estendeu a sua mão e eu retribui o cumprimento rapidamente.

-Alicia, obrigada de novo e tchau. - Ela assentiu me lançando um último sorriso antes deu atravessar a rua, quando cheguei no ponto ela já estava dando a partida na sua moto, saindo dali em seguida.

Having you is more than enoughOnde histórias criam vida. Descubra agora