2 anos depois...
As coisas aconteceram muito rápido. Ficou tudo confuso. Naquela noite. Por mais que Ryusei tentasse suas memórias eram meio borradas. Só lembrava de seus filhotes gritando em sua mente. Akise e o bebê morrendo em seus braços. Hana rasgando o próprio peito.
Estava pensando nessas coisas e cuidando da horta. Resolveram fazer uma horta perto da caverna. Seus filhotes vieram viver com ele. De repente veio um pequenino de quase dois anos correndo e gritando - "Papa"!! – Tropeçou nos próprios pés e caiu. Levantou-se rápido sacudindo a terra e continuou em direção ao dragão que sorria babão. Os filhos mais velhos escondiam a risadinha com as mãos enquanto ajudavam o pai.
- O que foi Kai? – Disse Ryusei pegando o pequeno no colo. – Quer trabalhar na horta, também? – O pai coruja viu o seu bebê balançando afirmativamente a cabeça. – Então, pegue suas ferramentas e fique aqui do meu lado ajudando.
Já estava quase na hora do almoço e decidiram ir tomar um banho de cachoeira para se limparem e refrescarem. De noite seria o Solstício de Verão. E como todo ano Takai preparava uma festa enorme. Afinal, a vila ganhara uma família inteira de guardiões. Se bem que Ryusei quase foi embora depois dos eventos daquele dia. Tinha ficado furioso com o monge por ele ter escondido a condição de Akise. Toda vez que pensava no seu pequeno ômega em seus braços o coração doía.
Chegaram na caverna meio molhados com as roupas grudando no corpo. Hana olhou de lado e mandou colocarem roupas secas.
- Que bom que você está por aqui nesses dias. – Fazia 2 anos que não via Hana. Depois dos eventos ela voltou para sua caverna nas montanhas e dormiu por quase 2 anos. – Esses meninos estão com fome!! E o papai deles também!!
O pequeno Kai estava dormindo no seu cantinho da caverna. Todos estavam excitados para o festival daquela noite. Comeram e foram descansar, conversar e passar o tempo, que praticamente voou. Ao pôr do sol estavam todos descendo até o templo. Hana nunca ficou tanto tempo na forma humana, mas estava muito curiosa para ver a festa.
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O pátio do templo estava todo enfeitado. Takai teve mais voluntários esse ano. Ele estava feliz. Tudo estava dando certo. Viu a família de Ryusei Kami chegando. Os meninos eram muito ativos e animados. E Kai era uma fofura. Tinha os olhos lilases como Akise.
Ele mesmo dançou a kagura esse ano. Achava-se velho para isso. Mas, foi convencido pelos devotos de que o monge tinha que ter uma participação mais ativa no festival. Não fez a dança ritual sozinho, mais duas meninas de 10 anos dançaram junto. Foi muito bonito. Depois dos fogos a última performance iria começar.
A dança começou com a artista de costas. Os cabelos caiam em cascata até a cintura. Usava um véu que pareciam asas. Quando virou o corpo de frente revelou um barrigão de gravidez e um lindo olho lilás. Ryusei estava boquiaberto. Hana até engasgou. O deus estava feliz. Dessa vez estava aproveitando a gravidez inteira do seu amado.
Logo depois da dança Akise se trocou parcialmente e correu até sua família. Ainda estava com os enfeites tilintando o que fez Kai tentar puxar alguns. Essa noite a família dormiu no templo contando as histórias das façanhas de Ryusei Sama. Os filhotes vez ou outra soltavam um Oh! E todos sorriam com a dramaticidade de Takai. Até que chegou nos feitos de dois anos atrás.
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O monge começou a história.
- Seu momy tinha sido sequestrado pelo mercador malvado e levado até sua mansão. Não sei detalhes, mas a mãe de vocês disse que ele estava acorrentado num canto do galpão em chamas.
- E Kai ainda estava na barrida do momy, né? – Interrompeu Taki. O momy devia estar com muito medo.
Kai subiu no colo de Akise e acariciava sua barriga que demonstrava um Estágio avançado de gravidez. – Kai na barriga do momy... agora tô aqui. – E ele ria encostando o ouvido na barriga e conversando com seu irmãozinho na língua universal dos bebês.
- Sua mãe, Hana, deu um rasante e entrou no meio das chamas do galpão para resgatar o momy. Ela, é resistente ao fogo, como o Taki. E trouxe ele para o templo. Eu, com meus poucos conhecimentos tentava manter momy e Kai vivos até seu pai chegar.
- Oh!! – As crianças exclamaram. E um Oh! Atrasado de Kai com risadinhas foi ouvido. Akise sorriu acariciando os cabelos do seu pequeno.
- Seu pai chegou, mas só podia salvar um deles. Ou Kai ou Momy. Seu momy pediu para salvar Kai. Foi então, que a mãe de vocês lembrou de antigas lendas que diziam que dava para fazer um elixir de cura e vida longa com o coração de um dragão. Seu pai negou dizia a ela que era loucura se arriscar assim. Eram lendas. Aí a Hana viu o momy desmaiar e sentiu o coração do seu pai entrar em desespero. Sem pensar duas vezes começou a rasgar o peito e tirou uma lasca de seu coração.
- Mãe... você é tão corajosa! – Exclamou Hykaru.
O monge achava engraçado as reações dos jovens. Eles viram tudo ao vivo e a cores. Vai ver ele era um bom contador de histórias. No próximo ano esse episódio iria entrar no teatro de sombras. Para ser relembrado por gerações.
- Seu pai arregalou os olhos, sua mãe jogou o pedaço do coração em minha direção. Olhei para Ryusei e pedi a receita da tal poção da lenda.
- Eu era jovem quando me contaram. – Interrompeu o dragão. – Tinha medo de minhas lembranças me traírem. Fui lembrando das ervas e o modo de preparação e falava para Takai que anotava tudo e saiu correndo para preparar o remédio. Sua mãe disse em minha mente que iria ficar na caverna do alto da montanha dormindo até se regenerar e eu fiquei segurando a energia vital de Akise e do bebê. Pedi para Hykaru sustentar minha energia. Assim, como eu ele é um dragão de cura.
Hykaru sacudiu a cabeça gostando de entrar como um dos heróis da história. Taki reclamou e seu irmão dizia que ele ainda era muito novo. Viveria aventuras quando crescesse. Todos riram.
- Cheguei com a beberagem. – Continuou Takai. – Deu para Akise beber. Foi como mágica. Eu via sua pele ficar rosada, a respiração estabilizar e a febre baixar. Percebi que Kai começou a mexer porque seu pai acarinhava o ventre do seu momy e chorava. Tudo acabou bem.
As crianças começaram a pular e gritar vivas. Kai também.
- O que mais me surpreendeu foi a coragem de Hana. Eu vi em sua mente que ela daria a vida dela em troca da de Akise. E sei como ela odeia humanos. Eu ainda não entendo.
- Ryusei, eu percebi duas coisas observando vocês naquele momento que antecedeu minha decisão. O amor que você sentia por seu pequeno ômega. E ele também daria a vida por qualquer um de nós. Então, não hesitei mais.
Akise estava muito feliz. Rodeado por sua família. E em breve chegaria mais um. Esperava que o resto de sua vida seria tranquila. Mas, sabia que não existia segredo que dure para sempre. Assim que as pessoas soubessem... do ingrediente secreto do remédio que o salvou. Seus dragões não estariam mais em segurança. Eles teriam que fugir. Com esse pensamento olhou para Hana e soube que ela também pensava assim. Vai ver era intuição feminina.
Mas, essa é uma outra história.
FIM
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Bem... não deixei a mídia no começo do capítulo senão iria estragar a surpresa. huahuahuahua. Mas, deixo agora uma mídia para quem quer ver a dança que Akise fez grávido.
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Solstício de verão [Completo]
Short StoryUm amor capaz de curar o corpo, o coração e a alma. Akise não acreditava no amor. Depois de ser vendido, ter o corpo usado e quebrado, seu coração estava frio e sua alma pesada. Ele só acreditava em sua determinação. Tudo isso muda quando ele é dado...