Valentina narrando...
Acordo,faço minha higiene e vou para a cozinha,para minha surpresa Kaique está preparado o café da manhã,ele está de costa e não me ouve chegando.
-O que ainda tá fazendo aqui- Digo e ele se assusta deixando a tigela de cereal cair,ele se abaixa para limpar.
-Bom dia pra você também!- Diz irônico e vem para me beijar,ficando frustrado quando desvio.- Eu acordei um pouco mais cedo e decidi fazer um café pra gente. Termina de se arrumar,porque daqui a pouco vamos encontrar com a Juliana.
-Não vamos pra escola?- Pergunto surpresa.
-Não,vamos dar um role juntos.- Sorrio com a idéia,vai ser ótimo passar o tempo com eles. Termino de me arrumar,tomamos café e vamos pra casa da Ju. Decidimos passar o dia na pista de skate,Juliana prometeu me ensinar e eu não vou recusar a ajuda da rainha das pistas. Chegamos na pista e os amigos de Kaique se aproximam e nos cumprimentam.
-E aí Kaique?Firmeza?- João pergunta,cumprimentando Kaique e direciona seu olhar pra mim.- E você deve ser Valentina.- Pega minha mão e beija num ato que qualquer garota acharia bonitinho, mas eu não. Tiro minha mão bruscamente e ele continua me olhando.- Você tinha razão Kaique,marrenta e bonita. Sua garota é de enlouquecer qualquer um.
-Sua garota?- Pergunto à Kaique furiosa.
-Vale,não fica brava. Você sabe que eu te amo e eu pensei que tava rolando alguma coisa entre a gente.- Diz me irritando mais ainda.
-Pois achou errado.- Digo e saio batendo o pé,o deixando pra trás com cara de idiota.
Sento num banco no parque,fico ali olhando pro nada e tomando coragem pra voltar pra casa. Meu celular vibra com uma mensagem de Murilo.
Mensagem on
-Oi Vale,não veio para a escola hoje...Eu...-Respira fundo e pergunta- Aceita dar um passeio comigo na cachoeira?- Assim que o ouço falar "cachoeira" meu coração fica apreensivo,faz muito tempo que não me permito sentir as emoções do passado e voltar lá só pioraria minha situação.
-Não sei, acho melhor não.- Digo torcendo para que ele simplesmente aceite minha decisão.
-Vale faz isso por mim,por favor.- Sinto algo em sua voz,que irei chamar de desespero.
-Tá bom. As quatro horas?-Pergunto.
-Sim,pode ser. Até mais tarde.
-Até.
Mensagem off
Tento criar desculpas: uma gripe forte,um acidente de skate ou qualquer outro motivo para não ir,mas não dá pra fugir pra sempre,tenho que encarar meus fantasmas de frente mesmo que isso custe perder a pose de fria perante as lembranças do passado. O tempo passa voando e quando me dou conta já está quase na hora de ir,sinto meu coração apertar e minhas mãos suarem,não entendo minha própria reação. Vai ficar tudo bem! Meu subconsciente diz me encorajando a ter esperança,caminho até a entrada da cachoeira onde Murilo já me espera tão nervoso quanto eu.
-Oi Vale,que bom que veio.- Ele diz com sinais claros de insegurança.
-Eu disse que viria. Vamos?- Ele assenti com a cabeça e começamos à caminhar. Sentamos numa pedra e ficamos observando o lugar.- Não mudou nada.-Digo,mas Murilo parece distante encarando a água de uma maneira esquisita.-Eu também me lembro.- Digo também encarando a água.
Flashback on
-Vem Murilo.-Pego em sua mão e o puxo.
-Vale não é uma boa idéia. Minha mãe vai ficar brava.-Bufo e paro.
-Por favor.-Faço uma carinha fofa,ele cede e continuamos a andar. Chegamos a cachoeira e não espero muito tempo,pulo na água.-Vem Murilo,a água tá boa.
-Não,acho melhor a gente voltar.-Diz ele como um gatinho assustado,ele me dá as costas caminhando de volta para a entrada. Continuo a nadar e não percebo quando a água começa a me arrastar.
-Socorro!Socorro! Murilo...-Sou puxada pela correnteza,começo a ficar sem fôlego quando vejo Murilo correndo e pulando na água. Ele me leva até a pedra na qual estávamos sentados.
-Vale,Vale,por favor acorda.-Ele dá batidas de em meu rosto,cuspo a água que engoli e vejo seu olhar desesperado se dissipar.-Vale,graças à Deus...Eu...-Ele respira ofegante.
-Calma,eu tô bem.-Digo e ele me abraça forte.
-Eu nunca mais vou te deixar sozinha,eu vou te proteger.-Ele diz sem me soltar.
-Promete?- Pergunto sorrindo.
-Prometo.- Diz sério.
Flashback off
-Não cumpri minha promessa,na primeira oportunidade eu me afastei,mesmo que eu não quisesse acabei me distanciando de você.- Ele diz com um olhar de tristeza e amargura.
-Murilo...Você não...-Ele me interrompe.
-Vale, eu te abandonei quando você mais precisou...Quando você sofreu um acidente eu fui te visitar no hospital,eu vi sua dor dia após dia,e eu me senti fraco demais para ajudá-la e simplesmente me afastei.- Ele começa a chorar e soluçar.
-Murilo você não precisa se culpar,aconteceu e eu aprendi a superar.-Minto,nunca superei a morte de minha mãe,mas também não podia contar isso a ele.- Senti sua falta.- Falo sem conseguir esconder a saudade,nos dias que passei no hospital a coisa que mais queria era sua presença acolhedora e sua fé que sempre admirei.
-Também senti sua falta Vale.- Diz e me abraça.Seu abraço continua tão acolhedor quanto os que ele me dava quando éramos crianças.- Eu sei que já faz muito tempo que não conversamos ou sequer nos aproximamos,mas eu preciso saber. Você mudou tanto quanto dizem?
-Murilo,cada um tem uma forma de lidar com sua cruz,a minha é a culpa e eu não sei lidar muito bem com ela. Depois que minha mãe morreu,eu precisava encontrar um jeito de me recuperar e essa foi minha única solução. Eu comecei a beber assim que sai do hospital e as coisas só foram evoluindo. Você não faz idéia do quanto dói perder aquilo que você mais ama e mesmo assim todos te culpam.Te apontam o dedo sem pensar que você também está destruído.- Choro desesperadamente tentando me livrar dessa dor agonizante,mas não consigo,Murilo me abraça tentando fazer com que eu me acalme.
-Vale,eu vou cuidar de você. Eu sei que já te prometi isso,mas desta vez pretendo cumprir.- Olho em seus olhos e vejo verdade em suas palavras. Ficamos assim vendo a água correr suave,descendo a ladeira levando vida por onde passa.
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A doida e o religioso
Teen FictionApós a morte de sua mãe em um acidente de carro,Valentina nunca mais se recuperou;depois do ocorrido seu pai passou a culpá-la e a tratar com indiferença,vendo a maneira com que seu pai agia,ela começou a acreditar que realmente tinha uma parcela de...