Por que você ficou?

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Nike

Olho em direção a escada que levava até o meu quarto, fico observando cada detalhe, enquanto caminho com passos lentos em direção a ela. Percebo a cor branca da parede, que eu e minha mãe havíamos pintado nas minhas férias de inverno a três anos atrás, e em como ela combina com os degraus pretos da escada de aço. Subo os degraus com cuidado, pensando nas coisas que o Gui me avisou sobre o Marcelo, se ele seria mesmo capaz de me machucar.

Então lembro do nosso quase beijo na festa, de como estávamos felizes, estávamos nos divertindo, me senti tão bem com ele como eu não me sentia a um bom tempo. Sei que não posso me aproximar dele, dos perigos que posso estar correndo e do quanto posso estar sendo injusta com meu amigo. Mas quando estou perto do Marcelo, algo diferente acontece, é como se eu precisasse dele por perto! Talvez eu queira ele por perto para poder observar seu comportamento e suas atitudes e, assim, poder entender e conhecer quem realmente ele é.

Estou tão confusa, eu odeio quando ele me olha com ar de convencido, odeio quando ele me olha e sorri, odeio quando ele põe uma mexa de meu cabelo atrás da orelha, odeio quando me sinto bem com ele... porque odeio perceber que tudo isso me faz pensar nele a todo momento. E saber que ele está em meu quarto neste momento, não facilita a situação.

Chego perto da porta do meu quarto que estava aberta e na luz que vinha através dela, no corredor pude ver uma sombra andando de um lado para o outro. Era a sombra do Marcelo, chego perto da porta, fazendo o mínimo de silêncio possível, para que ele não note que estou aqui, vou até o batente da porta e olho para ele, que está caminhando impaciente, com as duas mãos unidas atrás da cabeça, olhando para cima, movendo os lábios como se estivesse tendo uma conversa consigo mesmo, mas não pronunciava nenhum som audível. Paro na porta para que ele me veja, demora uns segundos até ele me notar, e quando isso acontece, vejo que ele está com um olhar cansado e preocupado, que logo se torna um misto de alegria e alívio em seus olhos encontrarem os meus. Rapidamente ele me toma nos braços, acariciando minha cabeça, em seguida se afasta o suficiente para poder olhar em meus olhos.

- Oi?

Marcelo – Oi Nike – ele tropeça nas palavras, o que mostrou ainda mais o quanto ele estava aflito – você está bem?

Penso um pouco a respeito... ele está preocupado comigo, ou está tramando alguma armadilha?

-Estou bem. - entro no quarto olhando para os lados para confirmar se ele estava sozinho - O que faz aqui?

Marcelo – Bom, você sumiu, o pessoal foi te procurar e eu fiquei aqui para ter certeza de que você voltaria para casa em segurança e poder avisar nossos amigos. A Môni estava muito preocupada com você, pensando que alguém poderia ter te ferido, então... quis ajudar na sua procura, mas chegando aqui sua mãe ficou tão preocupada que achei mais viável ficar com ela.

Nike -Mônica... preciso ligar para ela. – Havia esquecido que deveria ter ligado para ela.

Pego meu celular e vou até a janela para poder ter um pouco mais de privacidade.

Môni – Nike?

Nike – Oi, onde você está?

Môni – Eu? Estou procurando você! Onde você está?

Nike – Em casa. Estou bemn não aconteceu nada.

Môni – Para a casa da Nike Anderson, rápido!

(Ligação finalizada)

Anderson? Não era bem esse o nome que eu esperava ouvir, mas enfim. Tenho um assunto bem mais sério para tratar, e está bem na minha frente, me observando atentamente.

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