O grande momento

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O Lanús está praticamente vazio, tem algumas famílias reunidas, rindo e conversando, em duas mesas ao lado estão dois homens de terno debatendo sobre a venda de uma agência, na mesa perto da janela tem uma mulher sentada sozinha mexendo com a colher na sobremesa, sua feição é triste. Não demora muito e o Jorge vem nos receber, ele vem sorrindo, para ser mais exata, ele veio gargalhando, mas sua expressão muda rapidamente quando me vê de mãos dadas com o Marcelo.

Jorge – Oi meus queridos, como estão? – Ele olha rapidamente para a minha mão que está unida à do Marcelo, mais do que depressa ambos soltamos as mãos e dou um abraço nele.

Nike – Tudo bem sim. – Nisso o Marcelo se apresenta, como se fosse necessário.

Marcelo – Oi Jorge, sou o Marcelo. – Ele olha para o Marcelo e dá um meio sorriso. Rápido e frio.

Jorge – Eu sei quem é você. Mas enfim, a que devo a honra desse casal? – Ele se afasta em direção a parte detrás do balcão. Ele está usando calça jeans escura, uma camiseta cinza e uma corrente com um pingente de crucifixo.

Marcelo - Não somos um casal ainda. – Ainda será que foi somente uma expressão? Ou será que o ainda significa que tens esperança?

Nike – Preciso falar com você sobre o pacote que me deu.

Jorge – Não podemos conversar agora sobre isso e de qualquer forma, não sei nada além do que te disse aquele dia. Divirtam-se aqui um pouco, sirvam-se de bebidas. É por minha conta.

Maravilha... eu preciso que ele me conte tudo que sabe, pelo menos que me diga como que faço para abrir aquela caixa, se eu...

Marcelo – Nike? Oi?

Nike - Desculpa. Eu estava viajando agora.

Marcelo – Então vamos viajar do meu modo. – Ele pega em minha mão e me leva até o balcão, onde o filho do Jorge está servindo as bebidas. – Oi Miguel, quero a mesma de sempre. Duas por favor.

Ele sorri e me alcança um copo. É tão estranho, quando estamos sozinhos sinto como se fossemos bons amigos e que eu não preciso me preocupar com ele, mas logo lembro de tudo que ele fez... se bem que não tenho certeza se ele realmente fez algo ou se o Gui pôs a culpa nele na tentativa de nos afastar. O que de qualquer forma não tem dado muito certo, pois bem, aqui estamos nós juntos, bebendo sozinhos em um bar. Confesso que chega a ser cômico. Mas enfim, o que pode ter de errado nisso?!

O Marcelo é o tipo de cara misterioso que me chama a atenção, mas que ao mesmo tempo me assusta e me atrai para descobrir o que de tão misterioso tem por trás disso tudo. Algo nele me atrai. Talvez seja sua forma de olhar, ou o seu sorriso, ou o jeito que fala calmamente perto de mim.

Ficamos conversando sobre as pessoas que estavam no bar, e o Miguel logo se juntou a nós e começou a nos fazer um tutorial de drinks para fazermos em casa. Após umas duas horas, saímos de lá e fomos até o parque. Caminhamos em silêncio, por um tempo, olhando a natureza ao nosso redor.

Hoje estava bem movimentado, era um dia lindo de sol. Ficamos caminhando e então percebi que não sabia o que estávamos fazendo ali.

Nike – Por que viemos para este lugar? – Parei em sua frente e fiquei aguardando uma boa explicação, quem sabe até alguma pista do meu irmão, mas não foi exatamente isso que ouvi.

Marcelo – Você está precisando espairecer – colocou uma mexa de meu cabelo que estava solto, atrás da orelha e completou com uma expressão levemente entristecida – todos nós estamos. E precisamos conversar sobre... nós.

Sei que precisamos conversar sobre o que aconteceu, mas honestamente não quero fazer isso agora. Não sei quanto de mim deseja estar com ele, isso me assusta um pouco.

O segredo das notasOnde histórias criam vida. Descubra agora