Anoitecer

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Meu celular toca enquanto estamos terminando de arrumaras coisas para a minha mãe. Me afasto dos meus amigos para atender.

CHAMADA RECEBIDA - JORGE

Nike - Oii, que bom que você ligou!

Jorge - Foge Nike... agora.

Sua voz estava falha e era nítida a dor que ele estava sentindo.

Nike - Onde você está? - Preciso chegar até ele, preciso vê-lo agora.

Jorge - Vá meu anjo... ‑ Ouço ao longe a voz de alguém ao fundo, tento ouvir o que ele diz:

- Não adianta fugir, posso seguir seu sangue. Anda, só me de a caixa e você sobrevive. Não seja burro... eu não seria.

Eu conheço essa voz, a mesma voz que ouvi conversando com o pai do Gui, o mesmo tom de irritação, porém, desta vez com uma entonação mais de deboche do que de preocupação. O que não foi nada confortante.

CHAMADA ENCERRADA

Mal consigo pensar no que eu acabei de ouvir e atravesso a sala correndo, continuo até chegar próximo ao bar Lanús. Quando percebo o Marcelo e o Gui estão ao meu lado.

Marcelo - O que aconteceu?

Nike - O Jorge... voltem, vocês não deviam ter vindo. - Sinto dificuldade para falar, pois meus pulmões ainda estão recuperando o folego.

Nisso ouvimos um som de vidro se estilhaçando, que vinha de dentro da casa do Jorge, que é anexada ao bar.

Marcelo e Guilherme - Negativo!

Olho para os dois que se entreolham rapidamente, ligo a lanterna do meu celular e antes de começar caminhando digo:

- Tudo bem então, vamos logo.

O som vinha da parte de trás da casa do Jorge, eu conhecia cada cômodo, o que torna fácil minha locomoção. Os meninos vem logo atrás de mim.

Nike - Obrigada... aos dois.

Gui - Pelo que exatamente?

Nike - Por terem ficado comigo.

Nisso o Marcelo se aproxima de mim, segura minha mão enquanto olha em meus olhos e diz:

Marcelo - Eu estarei sempre com você, independente do que aconteça.

Nisso o Gui pega o celular da minha mão e começa a andar na nossa frente enquanto diz:

- Vamos antes que alguém escute vocês dois.

Quando saímos do bar e entramos na casa do Jorge ouvimos passos apressados vindo em direção a porta. Rapidamente o Marcelo me puxa para trás do armário marrom antigo, já desbotado por conta do tempo, que está ao lado da porta e o Gui se esconde atrás da porta.

Logo a porta se abre e vejo um vulto feminino entrar, mas é um vulto familiar... só pode ser... a Môni.

Nisso o Gui se aproxima dela e eu saio de onde estava. Chamo pelo nome dela, então o Gui para e ela vem até mim com passos rápidos, sinto pela sua respiração que ela ficou aliviada por me ver.

Nike - O que veio fazer aqui?

Môni - Fiquei preocupada contigo. Vim ver se precisava de mim.

Nike - Eu sempre preciso de você.

Marcelo - O que acha de nos separarmos agora que estamos com um número par?

Gui - Claro, vamos tentar tirar proveito da situação...

Nike - Ótima ideia Marcelo, um de vocês dois tem uma lanterna junto? - Dirijo a pergunta ao Gui e a Môni, pois senti a indireta e sim, irei usar ao meu favor... depois que tudo isso acabar.

Assim eu espero...

Môni - Eu tenho meu celular. - Diz retirando-o do bolso da jaqueta.

Faço um sinal afirmativo com a cabeça, seguro a mão do Marcelo que já havia pego a barra de ferro da lareira, para se defender em últimos casos.

Eu sei que é errado, eu não devia confiar nele depois de tudo que aconteceu, mas ele me traz paz e, honestamente, no momento é a única coisa de que preciso.

Enquanto caminhamos no corredor, tudo que vejo é escuridão e marcas de sangue na parede e pelo chão. O sangue traça um caminho até a cozinha.­­­

A cozinha esta escura, assim como o restante da casa, há uma grande cozinha preta no fundo, cobrindo uma parede, no lado esquerdo tem uma porta que da acesso a sala e, ainda do mesmo lado esta uma mesa de vidro, algumas cadeiras estão caídas pelo chão, misturadas aos cacos de vidros do vaso de flor que estava em cima da mesa e agora estava em pedaços pelo chão. Já do outro lado, próximo a janela, tem um balcão com duas cadeiras. Em cima do balcão está uma garrafa de uísque caída e um copo. E logo ali atrás desse balcão, está caído o corpo imóvel do Jorge, o homem que me cuidou com tanto carinho por todos esses anos. Eu o perdi...

Nike - Eu o perdi...

O segredo das notasOnde histórias criam vida. Descubra agora