Ainda estou aqui

45 15 18
                                    

Um silêncio pairou sobre o lugar, eu imaginei ela dizendo sim, se debulhando em lágrimas, o abraçando e acabando tudo bem, porém, ela chorou sim, o abraçou e então disse:

- Sinto muito, eu não posso...

E assim, aos prantos ela saiu, e meu amigo ficou, ajoelhado com o coração sangrando. Não suportei aquilo, quando percebi já estava ao lado dele, ao mesmo instante que o Marcelo. Ajudamos ele a se erguer e saímos com ele de lá, para atrás do palco, onde poderia falar com ele.

Nike – Quer falar sobre isso?

Mateus – Não, só preciso ficar sozinho...

Marcelo – Quando quiser ir embora me chama. – Os dois se abraçam e o Marcelo e eu saímos, deixando ele sozinho.

A festa, por incrível que pareça, continuou da maneira mais divertida possível, talvez por isso que chamam de festa. Percorro as pessoas com os olhos a procura da Jessy, mas não a encontro. Descido ir no jardim ver se a encontro.

Ao sair pela porta de entrada, sinto um ar gélido percorrer meu corpo, sinto um leve arrepio. Olho para frente e vejo uma menina parada a alguns metros a minha frente, na sombra de uma árvore que tapava a luz de um poste antigo, que dava um charme especial ao jardim. Sinto que a conheço de algum lugar, decido ir até ela, quando ouço alguém chorando. Olho em direção ao som e vejo a Jessy com um rapaz, abraçados, quando torno a olhar para frente, a menina de preto já não estava mais lá.

Vou até a Jessy, em silêncio. Ao notar minha presença, ela se afasta dele e me cumprimenta.

Jessy – Oi, posso ajudar?

Nike – Oi, me chamo Nike, estava tocando antes... Só vim ver como você está...

Ela me olha como se eu estivesse planejando algo criminoso contra ela. Sinto vontade de rir, mas as circunstâncias são as piores possíveis para esse momento.

Jessy – Vou ficar bem, obrigada.

Nike – Eu sei que vai. – Vou até ela e dou um abraço forte, porém rápido, ela retribui na mesma intensidade. Senti uma vibração boa vindo dela, o que foi estranho, pois não a conheço. Neste momento começa a tocar a música What Is Love de Jaymes Young, preciso sair daqui.... Não estou em condições de observar um aniversário frustrante desses.

Nike – Parabéns por mais um ano de vida, que aproveite essa nova etapa de sua vida, com muito amor e sabedoria. Boa noite

Jessy – Boa noite. Obrigada por ter vindo.

Estava pegando o celular para ligar para um taxi, quando o Marcelo aparece.

Marcelo – Nike, onde está indo?

Nike – Vou para casa. Como o Mateus está?

Marcelo – Vou levar ele para casa agora, vim ver com você se queria ir logo ou se ficaria mais um pouco na festa. Ai eu voltaria para te buscar.

Nike – Você voltaria só para me buscar?

Marcelo – Sim, tem dúvidas?

Nike – É... talvez.

Marcelo – Então fique e veremos. – Ele me olha com uma expressão de desafio no olhar, então retribuo o olhar.

Nike – Numa próxima, talvez. Preciso ir para casa.

Ele estende a sua mão, para que eu ponha a minha sobre a sua, para que me leve até o carro. O que ele pensa que está fazendo?! Não é porque estou conversando com ele que quero ter algum tipo de intimidade. Mas aceito sua mão, já tivemos rejeições suficientes para uma noite.

- - - - - - - +++ - - - - - - - -

Deixamos o Mateus em casa, após ele estaciona o carro em frente à minha casa, desliga o motor e fica me encarando como se quisesse dizer algo, mas como permanece em silêncio, eu falo.

Nike – Ham, obrigada por me trazer em casa.

Marcelo – Não precisa agradecer. Ele sorri e eu retribuo.

Nike – Boa noite Marcelo.

Marcelo – Boa noite Nike, até a próxima.

Desço do carro e vou caminhando até a porta, antes que eu gire a maçaneta, ele vem até mim e me entrega meu celular.

Marcelo – Você deixou no banco, se era um pretexto para mim voltar aqui era só ter avisado. – olha com ar de convencido enquanto pego o celular de sua mão.

Nike – Nem que eu estivesse bêbada meu bem. Obrigada por devolver. – Retribui o olhar dele com um olhar que expressava eu ganhei.

Então ele diz:

- Ai, você ficaria bem bêbada. Ou talvez ficaria mais aturável.

Então rimos, verdadeiramente, que chato!. Ele se inclina e me dá um beijo na bochecha e diz baixinho, olhando em meus olhos;

- Boa noite Nike.

Nisso o Gui passa em frente à minha casa, caminhando, mas ao nos ver ele para, então viro em direção a ele, quando tento ir até lá, ele simplesmente continua caminhando em silêncio, como se nem me conhecesse.

O Marcelo para ao meu lado, aponto para a porta e digo:

- Melhor eu entrar, boa noite, até mais.

Antes de fechar a porta observo ele caminhando em direção ao carro. Não sei porquê, me sinto bem com ele, mas ao mesmo tempo algo me diz que não posso confiar nele. Fecho a porta, antes que ele vire, caminho pela casa vazia, sem vida, que antes já foi repleta de alegria. Subo as escadas e vou até meu quarto. Quando entro a Luna voa até mim, o que me assusta, pois não lembrei que ela poderia estar em casa. Estendo meu braço para ela pousar, então olho em sua pata, ela tem um papel amarrado com um pedaço fino de barbante, que parecia estar ensanguentado. Retiro o bilhete e leio:

Não desiste de mim, ainda estou aqui

O segredo das notasOnde histórias criam vida. Descubra agora