Sobre autocontrole, amores e saquê

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Coming out of my cage and I've been doing just fine
Gotta, gotta be down, because I want it all
(Eu estou saindo da minha gaiola e estou indo muito bem
Devo, devo estar desanimado, porque eu quero tudo isso)

George Eliot um dia escreveu: "Não há desespero tão absoluto como aquele que vem com os primeiros momentos de nossa primeira grande tristeza. Quando ainda não sabemos o que é ter sofrido e ter se curado. Ter se desesperado e recuperado a esperança". Na época em que li esse pensamento, achei uma grande baboseira. Mas estava começando a entender o tal Eliot.

Tudo começou com um beijo e como foi terminar assim? Eu devo estar ficando muito louco, muito e muito e tanto que, céus, eu não consigo mais me controlar! A qualquer momento eu terei um acesso de raiva. Eu posso sentir todo meu sangue ferver ao presenciar essa cena. As minhas veias ardem, como se estivessem sendo queimadas.

"Céus, Naruto, se recomponha, foi só um beijo!"

— Garçom, mais uma dose dupla do seu melhor saquê. Se não tiver o melhor, pode ser o pior mesmo, tanto faz nesse exato momento. Dê-me qualquer coisa que desça rasgando toda a minha garganta, porque é isso que eu estou com vontade de fazer. Ou me rasgar todo ou rasgar a cara daquele maldito! - apontei para o meio do salão.

— Mas, senhor, é o quinto copo de saquê duplo que você vira em menos de 30 minutos!

— Caro moço, quando eu estava saindo finalmente da minha gaiola, quando eu estava finalmente me revelando, colocando para fora o que sinto... acontece aquilo ali – apontei novamente sem ânimo. — E estamos aqui nessa cena patética... Você está conseguindo me entender?

Eu estou patético. Debruçado no balcão de bebidas, com a fala já arrastada, a gravata frouxa, as mangas do paletó emboladas e os cabelos, que já são naturalmente bagunçados, ainda mais. Eu nunca... eu nunca achei que sentir isso tudo fosse possível. Eu, Uzumaki Naruto estou possesso. Eu, Uzumaki Naruto, estou com inveja. Uzumaki com ciúmes. Naruto amaldiçoando todos os santos existentes por causa dela. Isso porque foi só UM beijo!

— Entendo, senhor! Eu acho... é um belo motivo para estar nesse estado... Toma, mais um copo. Só que, acredito que depois desse, o senhor vai precisar da ajuda dos seus amigos ali.

— Já estou tendo a ajuda de um ótimo amigo por aqui. Como é seu nome?

— Ryoga.

— Ryoga, vê? Aquela de vestido lilás, com esse decote que vai até a.. bem... -"Que bunda, meu Deus!", pensei entre a fala. — Eu devo estar pagando todos os meus pecados por nunca ter percebido isso tudo antes. Você ainda não a viu de frente, não é, Ryoga? Porque se vir, será a perdição. Não falo apenas dos seus digamos atributos naturais - fiz um movimento com as mãos, demonstrando que a menina possuía fartos seios — mas dos olhos. Aquele olhar, naquele rosto angelical... Eu queria tanto presenciar aquele olhar brilhar de novo! É um olhar que só ela tem, com dois orbes que mais parecem pérolas, e a tornam ainda mais perfeita. Aaah, mas o que estou falando? – passei as mãos exasperadas pelos cabelos, bagunçando-os mais ainda.

— Dobe, ou você vai até lá e a sequestra dos braços dele ou faz qualquer outra coisa, porque essa cena já está irritante de tão patética! - Uchiha Sasuke caminhava em minha direção com um sorriso sarcástico estampado no rosto, estava se divertindo com a minha desgraça.

— Cara, como você é problemático, Naruto! Está parecendo um sádico, se punindo, olhando essa "bela cena" e não fazendo absolutamente nada! - esse era o Nara Shikamuru, até sua fala era preguiçosa, embora o seu Q.I fosse fenomenal.

Olhei para o amigo Ryoga, que eu acabara de conhecer naquela festa, o garçom do bar, e fiz um sinal com os dedos até a boca como se pedisse segredo das minhas confissões... e, principalmente, do meu estado. Se é que tinha como guardar segredo sobre aquilo. Eu só queria beber todas, aquela noite.

— Qual é a de vocês dois? Acham que estou mal só por aquilo? – apontei para aquela de vestido lilás longo e sedutor, que contrastava com a sua pele absurdamente branca, dando vida a um corpo "ridiculamente" curvilíneo e aparentemente delicioso. A dona dos cabelos tão pretos que mais pareciam azulados e que estavam elegantemente presos em um coque com alguns fios caídos. Hyuuga Hinata. Ela era a culpada de tudo aquilo. É o que eu tentava falar para mim mesmo. — Não mesmo! - Esbocei um riso sarcástico, mas o gosto na minha boca era bem amargo.

O problema não era em si a Hyuuga, mas quem a acompanhava: Otsutsuki Toneri. Meu estômago estava embrulhando. Eles dançavam elegantemente no salão, como um par perfeito. E ela tocava em seu peito suavemente, enquanto ele deslizava as mãos em suas costas, por aquele decote cretino de tão provocador. E ela se jogava para trás ao ritmo daquela música lenta e melosa típica dos casais mais clichês e chatos do mundo. Mas eu queria estar exatamente onde ele se encontrava nesse momento.

E, enquanto ela se jogava delicadamente para trás, Toneri segurava a sua cintura e acompanhava o movimento, dando um beijo em seu pescoço. "Aquilo que ela fez... isso é uma cara de satisfação", questionei-me mortificado,

Arqueei uma sobrancelha. Havia uma bateria de escola de samba em meu estômago. E eu não consigo olhar, isso está me matando e tomando todo o meu controle "Foi só um beijo, Naruto. Como você foi acabar assim? Como ela...". Foi quando percebi que a música estava para acabar e uma nova começaria.

Então me lembrei de outra frase que li recentemente. "Ás vezes as pessoas fazem jogo duro, porque precisam saber se os sentimentos da outra pessoa são reais". Essa é sua deixa, Naruto!

— Sasuke, Shikamaru, vamos! Hora de nos juntarmos aos outros. O senhor otimismo está de volta!

Os dois riram. Ganhei esse apelido aos 12 anos. É fácil explicar: eu nunca aceitei perder e ia até o fim em tudo. Podia ter chances mínimas, mas eu nunca desistiria. Não importa qual ideia passasse pela minha cabeça. E agora passavam várias pela minha. "Foi só um beijo, Naruto. Só um beijo!".

Nunca fui um pegador nato. Eu era muito lerdo, na verdade. Mas eu tinha lá uma cota de mulheres apaixonadas e rendidas a mim desde que entrei para o time de futebol da escola e nos consagramos campeões estaduais dos jogos interescolares. Claro que minha entrada no time e a vitória eram frutos da minha eterna rivalidade com Sasuke. Disputávamos o título de melhor atacante. Mas a verdade é que um completava o talento do outro em campo. Sasuke era o meu centroavante com as armações de jogadas perfeitas. Sem ele, não conseguia ser o atacante e fazer tantos gols. Já as garotas que beijei também era uma disputa. Eu não podia ficar para trás, mesmo sendo um idiota convicto. Mas aí ele se apaixonou... e eu, bem, estou aqui nessa vibe forever alone.

Eu só não entendia o porquê. Afinal, eu era bonitão também. Nunca fui de se jogar fora: um loiro, de 1.90 cm de altura, másculo (sempre fiz questão de fazer exercícios físicos e para mim sempre foi um treino árduo) e a pele naturalmente bronzeada contrastando com meus olhos azuis safiras. Eu era a cópia perfeita do senhor Namikaze Minato, conhecido também como meu pai. Mas a simpatia... ah, essa era total da senhora Uzumaki Kushina, a minha mãe. A simpatia e o temperamento: hiperativo e impulsivo. E, bom, essa noite era totalmente meu sangue Uzumaki agindo por si só.

Engoli de uma só vez o líquido que o Ryoga me deu. Ainda peguei um dos cubos de gelo que jaziam no copo. Sim, eu gostava de saquê com gelo. Triturei sem piedade com um dos dentes. "Hyuuga, vai se arrepender dessa ceninha. Como tem coragem de ainda ficar olhando para a minha cara enquanto está com esse panaca? Está achando o que?". Virei-me para Ryoga e agradeci com um aceno.

Ja ne, amigo!

Senhor OtimismoOnde histórias criam vida. Descubra agora