Walking through the city streets

1.6K 80 22
                                    

A voz alegre de Clara atendeu o celular. Marina não precisava vê-la para saber que a mulher estava sorrindo. Aquele sorriso bobo que ela sempre abria quando falava com Marina. As lembranças eram torturantes.

-Oi Clara, tudo bem? – A fotógrafa tentou parecer casual.

-Tá, tudo bem sim. Aconteceu alguma coisa? – Clara tinha acabado de entrar no carro. Parou tudo e logo pensou em Isis. – Aconteceu alguma coisa com a Isis?

-Não, você quem me ligou lembra? A Isis me avisou mais foi uma manhã corrida por aqui.

-Claro, verdade, foi só uma situação com a minha psiquiatra, e acabei ligando pra você. – Lógico, Clara, se acontecesse alguma coisa com a menina Marina não ligaria para você. Não ainda.

-Situação? Que tipo de situação? – Marina ficou preocupada.

-Ela achou que eu estava alucinando com você. Isso aconteceu um tempo atrás, mas já passou, está tudo certo, não se preocupe com isso gata.

-Clara... – Marina respirou fundo. Situação com a psiquiatra. Ontem ela estava bem, hoje teve uma situação. Marina sabia que Clara tinha um temperamento explosivo. As poucas brigas que tiveram, foram grandes o suficiente para não esquecer. – Eu preciso ir, tenho que ver as coisas da exposição.

-Sua exposição, é quando mesmo?

-Depois de amanhã. Galeria Rio. Primeira vez no Brasil. – Marina soltou um sorriso nervoso.

-Fica tranquila tenho certeza que vai ser linda. – Clara sorriu. Não ia dizer pra Marina que iria na exposição, iria fazer uma surpresa, como Gisele disse. Mas seria bom ouvir a fotógrafa convidando ela. – Vou deixar você trabalhar.

-Você vai... – Marina ia falar, mas Vanessa se aproximou e franziu o cenho. A fotógrafa passou a mão na cabeça. – Você vai até lá em casa semana que vem? Pra nós termos aquela conversa.

-Vou sim. – A resposta saiu triste. Por um instante Clara jurou que Marina ia convidá-la. Tudo bem, ela iria sem o convite da fotógrafa de qualquer forma. – Espero você ligar para marcar. Beijo, te amo, tchau.

Marina desligou sem responder. Gata, te amo. Clara falava como se elas estivessem ainda juntas. Isso era...ruim? Não, era bom ter esse carinho de volta. Era diferente receber os carinhos de Clara, do que os de Vanessa. Até mesmo Laura, não conseguia balançar a fotógrafa da forma que as simples palavras de Clara balançavam. Droga. Chega Marina, a exposição, depois a Clara.

-Posso saber quem era? – Vanessa perguntou quando Marina desligou o telefone.

-A Clara. – A fotógrafa respondeu seca. Pegou a planta de organização, e saiu conferindo os painéis.

-A Clara. Você fala assim, nessa naturalidade, como se estivesse falando da Laura, por exemplo. – Vanessa seguia Marina.

-Van. – A fotógrafa se virou para a assistente. Marina tirou os óculos de grau que usava naquele momento, respirou fundo e olhou direto nos olhos de Vanessa. – Nós precisamos conversar. Sobre o que aconteceu entre nós, sobre a Clara, e sobre as cartas. Mas não agora, e não antes dessa exposição. Já tive distrações demais. – Marina voltou a fazer sua conferência, e como Vanessa ficou parada no mesmo lugar, ela chamou Flavinha para ajudá-la.

As cartas, Vanessa não ouviu mais nada depois do que Marina falou. Ela sabia. Agora não tinha mais volta, foi a primeira coisa que a outra deve ter dito para ela. Se fazer de inocente, que tentou falar com ela depois. Inferno. Era mais fácil lidar com Clara sendo uma sombra, de que com essa Clara real. Vanessa acompanhou Marina com o olhar, até ela descer e ir encontrar com Isis. Laura, a mais nova sombra estava lá, cuidando da menina. Clara e Laura, que dupla. Nova York nunca fez tanta falta, quanto agora.

Born To DieOnde histórias criam vida. Descubra agora