ㅡ fusca azul. elris

07. fusca azul

E tudo acabou. E tudo começava diante de mim. A teimosia se debruçando como uma camada espessa de doença.

Era um sonho incógnito, um negacionismo fiel. Todos os dias, eu mergulhava no mundo dos sonhos febris, contando estrelas, juntando poeira. Eu brilhava, e eu afundava ao centro da terra. Um tranco e eu vi o caos da juventude, sinais espaciais no meio do vácuo, do nada de mim mesma. Eu poderia ter sido a garota que rouba estrelas do céu.

Mas eu escolhi atirá-las ao mar.

Eu tinha tudo, menos o que mais precisava.

Sohee solar. Engolir o sol na misericórdia de si mesmo diante da vergonha, brincar de ser humano faz bem. Eu não fui capaz. Ela estava ali, brilhando, a boina escorregando, eu via uma torcida animando, senti segurança.

Eu tinha tudo, menos o que mais precisava.

Yoona, colorida de pulseiras ridículas. Combatendo demônios. Eu me pergunto se contribuí pra alguma coisa. Está tudo bem, ela me diz no meio do barulho. Me sinto deprimida. Vejo o começo de tudo. Roubos estelares.

Eu tinha tudo, menos o que mais precisava.

Sinto o gosto enjoado daquela doçura mística, do coração gigante. Yukyung segura nas mãos um passarinho ferido, agitando-se de dor. Ela o vira na minha direção, diz que precisa que eu fique, que eu cante para niná-lo. O passarinho é surdo.

Eu tinha tudo, menos o que mais precisava.

Lábios absurdamente vermelhos-sangue, com uma crosta de pus profunda. Karin me diz palavras ininteligíveis, otimista, motivada. Uma criança. Ela é bonita, ela escorrega pelas beiras do meu esôfago. Eu sinto enjoo. Ela me leva pelos corredores do museu. Eu vejo sua cabeça cravada na tela pintada a óleo. 

Levanto do capô. Sinto a areia massagear meus pés. Caminho em direção ao mar, vasto, violento. As ondas quebram avisos, levantando-se na minha direção. E não nego.

Você quem manda.

Mergulho sorridente.

ㅡ Um mar de possibilidades! ㅡ grito e a imensidão oceânica me responde um silêncio de meias verdades.

Karin busca respostas no meio do oceano. Ele responde. 

Eu tinha tudo, menos o que mais precisava.

Agora, afundando na imensidão, em constante procura, uma pontada de esperança cresce no peito.

Eu te procuro. Eu me entrego.

Eu afundo sem volta.

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